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CRIME ORGANIZADO
Governo federal avalia os efeitos de medida extrema para realizar "choque de segurança" no Estado
Lula pressiona Rio e discute até intervenção
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal passou a discutir seriamente nos últimos dias
uma forma de ação para enfrentar
o problema do crime organizado
no Rio de Janeiro. Estuda-se reservadamente no Planalto até a
hipótese extrema de decretar uma
intervenção federal no Estado. O
custo político de tal medida, além
das reações diversas e imprevisíveis que pode gerar, torna a hipótese menos provável, mas ela não
está descartada pelo Planalto.
O governo avalia que chegou a
hora de levar a cabo um choque
de segurança no Estado, adiado
até agora, segundo o poder central, por má vontade da governadora Rosinha Garotinho (PSB).
A intenção inicial do Planalto é
pressionar duramente a governadora para tentar federalizar o comando da polícia do Estado por
um prazo determinado. O governo petista avalia que somente
com controle federal das polícias
Civil e Militar do Rio poderá coordenar ações efetivas contra o crime organizado.
Chegou à mesa do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva um relatório reservado da Polícia Federal
dando conta de que chefes do crime organizado recebem avisos da
própria polícia sobre suas operações. "O principal problema de
segurança do Rio é a polícia", diz
um auxiliar de Lula.
Uma eventual intervenção teria
que enfrentar vários obstáculos, a
começar por sua excepcionalidade. Seria a primeira medida desse
tipo desde 1964 e a 13ª da história
republicana, a maioria delas realizadas em períodos não-democráticos. Além disso, a intervenção
interromperia a tramitação das
emendas constitucionais no Congresso, atual prioridade do governo Lula, e azedaria de vez o relacionamento já ruim entre Lula e o
casal Anthony e Rosinha.
Outro obstáculo: Rosinha venceu a atual ministra da Assistência
e Promoção Social, Benedita da
Silva (PT), na última eleição. A intervenção poderia soar a muitos
como vingança eleitoral.
Por outro lado, o assunto surge
no Planalto num momento em
que Rosinha está vulnerável. Sua
avaliação atual pela população,
segundo o Datafolha, é inferior a
que tinha Benedita da Silva ao lhe
transmitir o cargo. A governadora
enfrenta problemas de caixa e
ainda deve uma parcela do 13º ao
funcionalismo.
Plano de ação
Uma idéia do Planalto, segundo
a Folha apurou, seria deslocar o
diretor-geral da Polícia Federal,
Paulo Lacerda, para a chefia da
Segurança Pública no Estado. Outra possibilidade seria Lacerda indicar alguém de sua confiança.
Pelo artigo 34 da Constituição, a
União pode intervir num Estado
para "pôr termo a grave comprometimento da ordem pública". O
artigo 36 prevê que a intervenção
seja aprovada pelo Congresso, no
prazo de 24 horas, por maioria
simples dos presentes, desde que
atingido o quórum para a sessão.
O decreto de intervenção deve
trazer "a amplitude, o prazo e as
condições de execução", bem como indicar o interventor.
Feita a intervenção, algo que Lula deseja evitar, tentaria se chegar
a um acordo com Rosinha para
deixar a cargo da União o controle das polícias e devolver a ela o
poder político.
Também pesa a favor da ameaça de intervenção o lobby de políticos fluminenses aliados de Lula,
de empresários, juristas e até de
organizações governamentais a
favor de uma intervenção para
combater o crime organizado.
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, mesmo ainda se
convalescendo de uma pneumonia, tem recebido esse tipo pressão, segundo auxiliares de Lula.
Na visão do governo, a autoridade da governadora Rosinha
tem se deteriorado, com ações cada vez mais audazes do narcotráfico. No início da semana, tiros de
fuzil foram disparados contra a
fachada do Hotel Glória, um dos
mais tradicionais da cidade do
Rio. Como resultado de ações assim, o Rio perdeu para São Paulo
a chance de sediar em 2004 um
Congresso da ONU (Organização
das Nações Unidas).
Mais: para o Planalto, a briga interna no governo e na polícia também mina a autoridade de Rosinha. Na semana passada, o secretário da Segurança Pública do Estado, Josias Quintal, desentendeu-se com o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins. Quintal interditou parte de uma delegacia, mas
Lins o desobedeceu.
A Folha apurou que o Planalto
considerou um erro Rosinha ter
recusado a proposta de "intervenção branca" feita pelo ministro da
Justiça no mês passado. A proposta previa submeter as polícias
ao controle federal.
Na visão do governo, se houver
a intervenção, ela precisará ser rápida para não atrasar muito a tramitação das reformas. Na prática,
seria forçar Rosinha a aceitar ceder o controle das polícias para
retornar ao controle político.
A Folha obteve relatos de que
Lula está cada vez mais contrariado com Rosinha. Anteontem, na
reunião dos governadores, ela fez,
de longe, a mais dura das intervenções contra as propostas de
reforma previdenciária e tributária. Rosinha avisou na reunião,
por exemplo, ser contrária à cobrança previdenciária dos servidores inativos. O presidente a achou deselegante.
Lula deverá ter ainda algumas
conversas com os ministro Thomaz Bastos, Dirceu e José Viegas
(Defesa) para decidir de vez se optará pela hipótese da intervenção.
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