|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para empresários, indicadores não favorecem tucano
MARIA INÊS NASSIF
DA REPORTAGEM LOCAL
Os empresários brasileiros estão
intranquilos com o quadro eleitoral. Nas eleições de 1994 e 1998, a
política de estabilidade econômica do Plano Real deu popularidade e votos ao candidato governista, Fernando Henrique Cardoso.
Nas eleições deste ano, a deterioração dos indicadores econômicos não favorece o pré-candidato
tucano, José Serra.
A Folha ouviu 15 empresários
com liderança sobre setores ou regiões. A maioria deles preferiu
não se identificar. É comum a
quase todos eles um certo cepticismo em relação às chances de
Serra dar de volta por cima.
O candidato tucano, na opinião
deles, teria de ter um desempenho
bom o suficiente para superar o
efeito de uma realidade econômica muito ruim. Nos últimos anos,
o PIB (Produto Interno Bruto)
cresceu a taxas medíocres -
(apenas 1,51% em 2001, e neste
ano a previsão é de um crescimento não superior a 2,1%); a
produção industrial, que na crise
de 1998 chegou ao seu mais baixo
índice, de 2,03% negativos em relação ao ano anterior, cresceu medíocre 1,41% no ano passado, com
chances de não chegar a 1% este
ano; a taxa de desemprego aberto
deve se situar em 7,1% neste ano e
a relação dívida/PIB chega à perigosa margem de 54,5%.
"O modelo neoliberal que marcou o governo Fernando Henrique se esgotou e todos os candidatos, inclusive o do governo, sabem disso", afirmou o empresário Roberto Jeha, vice-presidente
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Na avaliação de um empresário
paulista, a economia está patinando, terá mais um ano de crescimento medíocre e, por ser este o
último ano do governo FHC, não
há, portanto, tempo hábil para se
produzir fatos positivos na economia antes da realização das
eleições presidenciais.
"Há uma fadiga de material: são
quase dez anos com o mesmo governo e a mesma orientação econômica", disse o deputado Armando de Queiroz Monteiro Neto, vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria)
e presidente da Fiepe (Federação
das Indústrias do Estado de Pernambuco). Para ele, a essa dificuldade conjuntural soma-se outra,
a da reconhecida inabilidade política de Serra. "Existe a preocupação de se ele tem condições de disputar e vencer as eleições."
Um dos empresários ouvidos
pela Folha lembra que, em 94, o
então candidato FHC captou os
votos dos empresários e da população com o Plano Real. Em 98, ao
disputar a reeleição, FHC teve
uma ajuda inestimável do FMI,
que pôs na economia dinheiro suficiente para que o governo adiasse a mudança da política cambial.
Nas eleições de 2002, o governo
estará em situação muito complicada. Além de tudo, Serra não
possui o encanto pessoal de FHC.
As características pessoais de
Serra, para quase todos os empresários consultados, são um agravante. A grande maioria dos empresários ouvidos considera, no
entanto, que o candidato tucano é
o mais preparado para enfrentar a
crise econômica. Um empresário
com forte liderança no meio, que
atua fora do eixo Rio-São Paulo,
ponderou que seria muito difícil
outro presidente gerir melhor a
crise do que o atual governo.
"Serra tem uma compreensão
forte dos problemas brasileiros e
familiaridade com a gestão nacional", disse Amarílio Proença Macedo, empresário do setor de alimentos. "Serra é o candidato com
mais conteúdo", disse Robson
Andrade, da FIEMG (Federação
das Indústrias de Minas Gerais).
Isso não quer dizer que o candidato tucano seja uma unanimidade. Existem aqueles empresários
que, na hora do voto, farão opção
pela mudança, como resposta à
crise econômica que prejudicou
em especial o setor produtivo; e
há os profundamente desanimados com as opções que o quadro
eleitoral coloca. "O empresariado
está perplexo. Os candidatos que
estão aí não empolgam o país",
disse Carlos Eduardo Fagundes
Uchôa, vice-presidente da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para as Pequenas e Médias Empresas.
Texto Anterior: Petista diz que tem "adversários progressistas", e não "inimigos" Próximo Texto: Análise: Falta a Serra um Plano Real Índice
|