São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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Para empresários, indicadores não favorecem tucano

MARIA INÊS NASSIF
DA REPORTAGEM LOCAL

Os empresários brasileiros estão intranquilos com o quadro eleitoral. Nas eleições de 1994 e 1998, a política de estabilidade econômica do Plano Real deu popularidade e votos ao candidato governista, Fernando Henrique Cardoso. Nas eleições deste ano, a deterioração dos indicadores econômicos não favorece o pré-candidato tucano, José Serra.
A Folha ouviu 15 empresários com liderança sobre setores ou regiões. A maioria deles preferiu não se identificar. É comum a quase todos eles um certo cepticismo em relação às chances de Serra dar de volta por cima.
O candidato tucano, na opinião deles, teria de ter um desempenho bom o suficiente para superar o efeito de uma realidade econômica muito ruim. Nos últimos anos, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu a taxas medíocres - (apenas 1,51% em 2001, e neste ano a previsão é de um crescimento não superior a 2,1%); a produção industrial, que na crise de 1998 chegou ao seu mais baixo índice, de 2,03% negativos em relação ao ano anterior, cresceu medíocre 1,41% no ano passado, com chances de não chegar a 1% este ano; a taxa de desemprego aberto deve se situar em 7,1% neste ano e a relação dívida/PIB chega à perigosa margem de 54,5%.
"O modelo neoliberal que marcou o governo Fernando Henrique se esgotou e todos os candidatos, inclusive o do governo, sabem disso", afirmou o empresário Roberto Jeha, vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Na avaliação de um empresário paulista, a economia está patinando, terá mais um ano de crescimento medíocre e, por ser este o último ano do governo FHC, não há, portanto, tempo hábil para se produzir fatos positivos na economia antes da realização das eleições presidenciais.
"Há uma fadiga de material: são quase dez anos com o mesmo governo e a mesma orientação econômica", disse o deputado Armando de Queiroz Monteiro Neto, vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e presidente da Fiepe (Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco). Para ele, a essa dificuldade conjuntural soma-se outra, a da reconhecida inabilidade política de Serra. "Existe a preocupação de se ele tem condições de disputar e vencer as eleições."
Um dos empresários ouvidos pela Folha lembra que, em 94, o então candidato FHC captou os votos dos empresários e da população com o Plano Real. Em 98, ao disputar a reeleição, FHC teve uma ajuda inestimável do FMI, que pôs na economia dinheiro suficiente para que o governo adiasse a mudança da política cambial.
Nas eleições de 2002, o governo estará em situação muito complicada. Além de tudo, Serra não possui o encanto pessoal de FHC.
As características pessoais de Serra, para quase todos os empresários consultados, são um agravante. A grande maioria dos empresários ouvidos considera, no entanto, que o candidato tucano é o mais preparado para enfrentar a crise econômica. Um empresário com forte liderança no meio, que atua fora do eixo Rio-São Paulo, ponderou que seria muito difícil outro presidente gerir melhor a crise do que o atual governo.
"Serra tem uma compreensão forte dos problemas brasileiros e familiaridade com a gestão nacional", disse Amarílio Proença Macedo, empresário do setor de alimentos. "Serra é o candidato com mais conteúdo", disse Robson Andrade, da FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais).
Isso não quer dizer que o candidato tucano seja uma unanimidade. Existem aqueles empresários que, na hora do voto, farão opção pela mudança, como resposta à crise econômica que prejudicou em especial o setor produtivo; e há os profundamente desanimados com as opções que o quadro eleitoral coloca. "O empresariado está perplexo. Os candidatos que estão aí não empolgam o país", disse Carlos Eduardo Fagundes Uchôa, vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para as Pequenas e Médias Empresas.


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