São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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ANÁLISE

Falta a Serra um Plano Real

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As pesquisas eleitorais estão mais para 1994. Já a economia, mais próxima de 1998. Nos dois anos, Fernando Henrique Cardoso venceu no primeiro turno. Em 2002, os tucanos acreditam que vão repetir a trajetória e emplacar José Serra no Planalto.
Seus adversários, porém, apontam um elemento ausente nos pleitos anteriores e que deve fazer a diferença: o eleitor quer mais do que a estabilidade de 94 e a segurança de 98, armas tucanas enferrujadas pelo desarranjo na economia nos últimos anos.
A cúpula da campanha serrista busca no passado argumentos que neutralizem a euforia petista com a nova pesquisa Datafolha. Nela, Lula tem 43% das intenções de voto, e Serra surge com 17%, empatado tecnicamente com Garotinho e Ciro Gomes.
Em 94, insistem os aliados de Serra, o cenário era muito parecido. No mesmo mês de maio, Lula surgia na dianteira com 42%. FHC estava, então, com 16%. O que aconteceu naquele ano? FHC ultrapassou Lula e ganhou no primeiro turno.
Os tucanos dizem que a história se repetirá. E que tudo deve começar a mudar a partir de julho, com o início oficial da campanha.
Para derrubar Lula do alto das pesquisas, a equipe de Serra pretende se valer do mote da eleição de 1998, valendo-se de que o cenário internacional atual também não é favorável. Basta olhar o que a vizinha Argentina enfrenta.
Em 98, foi a campanha da segurança contra o risco. Lula foi vendido como aquele que destruiria todos os ganhos obtidos com o Plano Real e exporia o país à crise internacional.
Pegou. Com a ajuda do estelionato cambial, Fernando Henrique Cardoso ganhou outra vez no primeiro turno. Hoje, os acólitos governistas alardeiam que, com Lula, o Brasil vira a Argentina. Serra é a salvação.
Do outro lado do balcão, Lula, Ciro e Garotinho classificam de devaneios as análises dos serristas. A virada de FHC em 94 não foi mágica. Deveu-se ao Plano Real, uma moeda nova que acabaria com a inflação.
Hoje, cutucam seus adversários, Serra não tem um real para lançar. Enfrenta problemas em sua aliança, o que não ocorreu com FHC. Além de não ter o rótulo de "sedutor" que o presidente ostentou por muito tempo.
Restaria a Serra bater mais uma vez na tecla da segurança, lembram seus inimigos. Em 98, porém, havia um campo fértil para esse tipo de discurso. O real, para deleite da classe média, estava valorizado artificialmente. A Disney ficava bem mais perto.
Os ganhos do Plano Real ainda eram positivos e estavam na memória do eleitor: inflação decrescente desde 1994, renda mais alta, desemprego baixo e bons índices de crescimento econômico até 1997.
O cenário atual é o oposto. A inflação voltou a subir, o país patinou em 2001 e deve crescer timidamente em 2002. O desemprego piorou nos últimos anos, a dívida pública explodiu, a renda do trabalhador caiu e a vulnerabilidade externa permaneceu.
Serra está perdido? Não. Mas terá de vender a imagem de que, herdeiro do governo FHC, com ele a vida será bem diferente. É o que deseja o eleitor. Lula, hoje, é o que encarna esse sentimento.


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