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ANÁLISE
Falta a Serra um Plano Real
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As pesquisas eleitorais estão
mais para 1994. Já a economia,
mais próxima de 1998. Nos dois
anos, Fernando Henrique Cardoso venceu no primeiro turno. Em
2002, os tucanos acreditam que
vão repetir a trajetória e emplacar
José Serra no Planalto.
Seus adversários, porém, apontam um elemento ausente nos
pleitos anteriores e que deve fazer
a diferença: o eleitor quer mais do
que a estabilidade de 94 e a segurança de 98, armas tucanas enferrujadas pelo desarranjo na economia nos últimos anos.
A cúpula da campanha serrista
busca no passado argumentos
que neutralizem a euforia petista
com a nova pesquisa Datafolha.
Nela, Lula tem 43% das intenções
de voto, e Serra surge com 17%,
empatado tecnicamente com Garotinho e Ciro Gomes.
Em 94, insistem os aliados de
Serra, o cenário era muito parecido. No mesmo mês de maio, Lula
surgia na dianteira com 42%.
FHC estava, então, com 16%. O
que aconteceu naquele ano? FHC
ultrapassou Lula e ganhou no primeiro turno.
Os tucanos dizem que a história
se repetirá. E que tudo deve começar a mudar a partir de julho, com
o início oficial da campanha.
Para derrubar Lula do alto das
pesquisas, a equipe de Serra pretende se valer do mote da eleição
de 1998, valendo-se de que o cenário internacional atual também
não é favorável. Basta olhar o que
a vizinha Argentina enfrenta.
Em 98, foi a campanha da segurança contra o risco. Lula foi vendido como aquele que destruiria
todos os ganhos obtidos com o
Plano Real e exporia o país à crise
internacional.
Pegou. Com a ajuda do estelionato cambial, Fernando Henrique Cardoso ganhou outra vez no
primeiro turno. Hoje, os acólitos
governistas alardeiam que, com
Lula, o Brasil vira a Argentina.
Serra é a salvação.
Do outro lado do balcão, Lula,
Ciro e Garotinho classificam de
devaneios as análises dos serristas. A virada de FHC em 94 não foi
mágica. Deveu-se ao Plano Real,
uma moeda nova que acabaria
com a inflação.
Hoje, cutucam seus adversários,
Serra não tem um real para lançar. Enfrenta problemas em sua
aliança, o que não ocorreu com
FHC. Além de não ter o rótulo de
"sedutor" que o presidente ostentou por muito tempo.
Restaria a Serra bater mais uma
vez na tecla da segurança, lembram seus inimigos. Em 98, porém, havia um campo fértil para
esse tipo de discurso. O real, para
deleite da classe média, estava valorizado artificialmente. A Disney
ficava bem mais perto.
Os ganhos do Plano Real ainda
eram positivos e estavam na memória do eleitor: inflação decrescente desde 1994, renda mais alta,
desemprego baixo e bons índices
de crescimento econômico até
1997.
O cenário atual é o oposto. A inflação voltou a subir, o país patinou em 2001 e deve crescer timidamente em 2002. O desemprego
piorou nos últimos anos, a dívida
pública explodiu, a renda do trabalhador caiu e a vulnerabilidade
externa permaneceu.
Serra está perdido? Não. Mas terá de vender a imagem de que,
herdeiro do governo FHC, com
ele a vida será bem diferente. É o
que deseja o eleitor. Lula, hoje, é o
que encarna esse sentimento.
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