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JANIO DE FREITAS
O mistério da morte
O número de requerentes
já tem força por si mesmo:
53 mil. Mas existem ainda outras fortes razões para que os governos federal e paulista atentem, afinal, para o pedido de
reabertura do inquérito sobre a
morte misteriosa de Antonio da
Costa Santos, o Toninho, prefeito de Campinas quando foi assassinado, há três anos.
As investigações deixaram um
rastro de confusão, até se darem
por concluídas com o depoimento de um preso, e não com
provas investigatórias, de que a
morte resultou de assalto malsucedido. O insucesso das investigações até então e, ainda, as
circunstâncias em que surgiu a
confissão seriam suficientes para tornar a conclusão inconvincente. Mas, sobretudo, não poderiam ser satisfatórias as investigações que não partissem
do empenho, talvez sem igual,
com que Toninho se dedicou a
combater os esquemas da corrupção. E não só os internos da
prefeitura, mas também os do
governo estadual, do governo federal e de empresas privadas estendidos a Campinas.
Aplicar a Toninho o chavão
de que "contrariava muitos interesses" é injusto para com sua
ação. Não contrariava, estava
desmontando negociatas em
curso, destruía arranjos contratuais monstruosos como o da
coleta de lixo (sempre ela em
prefeituras, inclusive petistas),
impedia a conhecida roubalheira praticada por certos empreiteiros de obras públicas, não
menos conhecidos. Sem exploração propagandística, sem outros
oportunismos políticos. E sem a
atenção, nem digo o apoio, da
chamada grande mídia, que fica com mais essa dívida na contabilidade de suas omissões mal
resultantes.
A persistência valente da viúva de Toninho, com seus 53 mil
seguidores, oferece a oportunidade de encerrar-se o que se vai
configurando como outra omissão. É a do governo federal desde Fernando Henrique, particularmente a do governo paulista
e, talvez por depender de uma
iniciativa de fora, a do Judiciário. Os indícios que se foram
acumulando e provocando novos pedidos de mais investigações receberam, todos, a indiferença oficial. Tão mais estranha
quanto já se viram intervenções
do governador Geraldo Alckmin para impulsionar o esclarecimento de crimes. Seria muito
grave que o atual requerimento
recebesse o mesmo desprezo
-inexplicável, antes de dizê-lo
suspeito.
Nos anos em que o teor desta
coluna se voltou, sobretudo, para revelar fraudes nas concorrências públicas, assim invalidando-se umas três dezenas, somando coisa de US$ 10 bilhões,
Antonio da Costa Santos, o suave Toninho, foi o único no nível
superior de administração pública que me ofereceu, espontaneamente, a colaboração de
suas informações. Era vice-prefeito, e a concorrência com vencedor previamente acertado,
para o chamado metrô de superfície em Campinas, envolvia
o prefeito Jacó Bittar e o então
governador Orestes Quércia.
A direção do PT e Lula, em
pessoa, defenderam Bittar, desfecharam hostilidades a Toninho e acusaram-me de publicar
a revelação para prejudicar o
PT nas eleições, segundo eles,
como desejado pela Folha.
Quércia não pôde ganhar o processo que moveu contra mim.
Não tardou muito, Jacó Bittar
deixava o PT, rompia com Lula
e tornava explícita sua aliança
com Orestes Quércia. Hoje está
premiado no governo Lula com
um cargo de boa remuneração.
A lembrança de Antonio da
Costa Santos merece mais do
que um mistério ou uma explicação que se parece muito com
as fraudes por ele combatidas.
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