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CRISE DOS CORREIOS
"Essa é a hora em que o Roberto Jefferson vai saber quem é amigo dele e quem não é", diz presidente em almoço com líderes na Câmara
Solidário a Jefferson, Lula elogia "parceria"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em almoço ontem no Palácio
do Planalto com líderes de sua base de apoio na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse que é "solidário" ao presidente do PTB, deputado federal
Roberto Jefferson (RJ).
Logo no início do encontro, Lula chamou o líder do PTB, José
Múcio (PE), e disse para todos ouvirem: "Zé Múcio, diga ao Roberto Jefferson que sou solidário a
ele. Parceria é parceria. Tem de ter
solidariedade. O Roberto Jefferson é inocente até prova em contrário. Quem tiver culpa no cartório, que pague. Essa é a hora em
que o Roberto Jefferson vai saber
quem é amigo dele e quem não é".
Um dos líderes presentes chegou a anotar as palavras de Lula
para relatá-las a Jefferson. A Folha obteve o mesmo relato de diversos políticos que almoçaram
ontem com Lula por quase duas
horas. O presidente disse ao ministro Aldo Rebelo (Coordenação
Política), que se manteve calado
na reunião: "Aldo, as pessoas
quando são acusadas devem ter o
direito de se defender".
Lula orientou a Aldo ir à Câmara assistir ao discurso de defesa de
Jefferson. Diante da chance de
continuar no cargo, o ministro se
reuniu com líderes e arregimentava deputados para irem ao plenário ouvir o presidente do PTB. Aldo quis dar uma demonstração
explícita de solidariedade a Jefferson. O ministro da Coordenação
Política relatou a Lula que considerou "bom" o discurso de Jefferson, apesar de petistas terem avaliado que ele transferiu para o governo o ônus de evitar uma CPI
dos Correios para investigar as
suspeitas de corrupção envolvendo indicados do PTB para os Correios. Jefferson disse que ele e o
PTB eram favoráveis à CPI.
A ordem de Lula é evitar a abertura de CPI com base na reportagem da edição desta semana da
"Veja" que mostra gravação em
que o chefe do departamento de
contratação e administração de
material dos Correios, Maurício
Marinho, acerta um esquema de
cobrança de propina para facilitar
contratos com a estatal. Marinho
foi indicado ao cargo pelo diretor
de Administração, Antônio Osório Batista, que ocupava a função
por indicação do PTB e que pediu
ontem afastamento.
No almoço com os líderes, Lula
disse que o governo não seria favorável à CPI porque ela seria usada "politicamente" pela oposição
para prejudicar sua gestão.
Afirmou que o governo já pediu
que a Polícia Federal e o procurador-geral da República, Claudio
Fonteles, dessem início a uma investigação. "Não temos de esconder coisa errada", disse Lula.
Nas conversas reservadas, Lula
tem dito que, com a gravidade da
atual crise política, a abertura de
uma CPI precisa ser impedida. O
presidente, que se reunirá novamente hoje com líderes aliados,
chamou para o encontro os representantes da oposição. Lula vai
sustentar que ele já tomou as providências cabíveis e que PSDB e
PFL adotavam a mesma atitude
quando estavam no poder.
Num gesto que contrariou Lula,
o vice-presidente José Alencar
disse que assinaria o pedido de
CPI se estivesse no Senado.
"Quando fui senador, sempre assinei os pedidos de CPI porque
sou favorável às investigações",
declarou. Indagado se assinaria a
CPI dos Correios, disse: "Claro".
(RANIER BRAGON, KENNEDY ALENCAR, ANA FLOR E LUCIANA CONSTANTINO)
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