São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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CAMPO MINADO

Trabalhadores e policiais entraram em confronto em frente ao Congresso Nacional, deixando 52 pessoas feridas

Sem-terra e polícia se enfrentam na Esplanada

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Terminou ontem em pancadaria e com 52 feridos a marcha de cerca de 15 mil integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No final da tarde, sem-terra e policiais militares entraram em confronto no gramado em frente ao Congresso Nacional.
O saldo, segundo a PM, foi de 20 policiais feridos. Pelo menos 11 deles tiveram de ser encaminhados a hospitais da região. Quatro apresentavam um quadro mais delicado: um com afundamento do tórax por causa de uma pedrada, um com o braço quebrado, e outros dois, que serão submetidos a cirurgias, com o nariz quebrado. Do lado do MST, foram 32 feridos, todos sem gravidade, de acordo com a coordenação do movimento.
O confronto começou após um grupo de sem-terra ter cercado um veículo da Polícia Militar estacionado no gramado em frente ao Congresso, onde ocorreria um ato público do MST para encerrar a marcha de 200 km que partiu de Goiânia duas semanas atrás. Os sem-terra, segundo a PM, tentaram retirar o carro à força do local, o que motivou a ação dos policiais militares.
"Fizemos um rastreamento de todos que chegaram aqui [Congresso], mas alguns deles, visivelmente bêbados, partiram pra cima dos policiais com pedaços de pau e com garrafas de vidro nas mãos", disse o comandante da operação da PM, Neviton Pereira. Segundo ele, os policiais apenas reagiram na ação.

Cinco minutos
Mastros de bandeiras, pedras, pedaços de pau e cassetetes foram usados durante o confronto, que durou cerca de cinco minutos. O clima esquentou com a chegada da cavalaria e da tropa de choque da Polícia Militar.
Helicópteros da corporação fizeram vôos rasantes para dispersar os sem-terra envolvidos na pancadaria. Os sem-terra recuaram quando um cordão de isolamento foi organizado pelos policiais militares.
"O helicóptero com um sujeito armado dando rasantes desestabilizou o pessoal que se exaltou, mas esse incidente não manchou a caminhada que foi pacífica e os objetivos foram conseguidos", afirmou Vilson Santin, que é de Santa Catarina e está acompanhando a marcha desde o início, em Goiânia.
"A PM tentou impedir a livre circulação dos sem-terra. Eles foram educadamente pedir a retirada do carro e tiveram de revidar às agressões dos policiais", disse o deputado estadual Walmir Assunção (PT-BA), um dos líderes do MST baiano que estava no ato.
Após o confronto, todos os 1.200 policiais militares usados ontem nas ruas de Brasília para acompanhar a marcha foram deslocados ao Congresso.

Esquema reforçado
Ontem, a segurança foi reforçada em três pontos específicos de Brasília onde passaria a marcha: Embaixada dos Estados Unidos, Palácio do Planalto e Ministério da Fazenda.
A marcha, que durou cerca de três horas e meia, começou às 12h35, quando os primeiros sem-terra deixaram a concentração, no estacionamento do estádio Mané Garrincha.
No meio da tarde, quando passavam em frente ao Planalto, integrantes do MST e da PM também entraram em confronto -no primeiro tumulto do dia-, mas rapidamente foram contidos pelos dois lados. Ninguém ficou ferido nesta primeira confusão.
O incidente ocorreu no momento em que os sem-terra cruzavam a praça dos Três Poderes. Ao se depararem com uma barreira de policiais, tentaram ultrapassá-la, pensando se tratar de um empecilho à caminhada.
Segundo a PM, a presença dos policiais visava proteger os sem-terra de alguns veículos que ainda transitavam na Esplanada dos Ministérios.
Após o incidente, sem-terra que estavam em um dos seis carros de som da marcha provocaram os policiais: "Se a polícia não está preparada, saia do ato. Vocês têm de prender ladrão. Se fizerem isso, já está bom".
No roteiro dos sem-terra, a Embaixada dos EUA foi o primeiro ponto de protesto. Em frente ao local, protegido por 300 policiais, os manifestantes queimaram bandeiras norte-americanas, sacos plásticos, garrafas de refrigerante e papel higiênico. Um carro de som incentiva os sem-terra: "Bush, o maior violador dos direitos humanos. Vamos queimar o lixo produzido pelo Bush".
Ao deixar a embaixada, o MST seguiu para a Esplanada dos Ministérios e foram recebidos por uma chuva de papel picado, assim que passaram ao lado da sede da Agricultura. Apesar da recepção calorosa vinda das janelas, Roberto Rodrigues foi chamado de o "ministro dos transgênicos".


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