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CAMPO MINADO
Trabalhadores e policiais entraram em confronto em frente ao Congresso Nacional, deixando 52 pessoas feridas
Sem-terra e polícia se enfrentam na Esplanada
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Terminou ontem em pancadaria e com 52 feridos a marcha de
cerca de 15 mil integrantes do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No final da tarde, sem-terra e
policiais militares entraram em
confronto no gramado em frente
ao Congresso Nacional.
O saldo, segundo a PM, foi de 20
policiais feridos. Pelo menos 11
deles tiveram de ser encaminhados a hospitais da região. Quatro
apresentavam um quadro mais
delicado: um com afundamento
do tórax por causa de uma pedrada, um com o braço quebrado, e
outros dois, que serão submetidos a cirurgias, com o nariz quebrado. Do lado do MST, foram 32
feridos, todos sem gravidade, de
acordo com a coordenação do
movimento.
O confronto começou após um
grupo de sem-terra ter cercado
um veículo da Polícia Militar estacionado no gramado em frente ao
Congresso, onde ocorreria um ato
público do MST para encerrar a
marcha de 200 km que partiu de
Goiânia duas semanas atrás. Os
sem-terra, segundo a PM, tentaram retirar o carro à força do local, o que motivou a ação dos policiais militares.
"Fizemos um rastreamento de
todos que chegaram aqui [Congresso], mas alguns deles, visivelmente bêbados, partiram pra cima dos policiais com pedaços de
pau e com garrafas de vidro nas
mãos", disse o comandante da
operação da PM, Neviton Pereira.
Segundo ele, os policiais apenas
reagiram na ação.
Cinco minutos
Mastros de bandeiras, pedras,
pedaços de pau e cassetetes foram
usados durante o confronto, que
durou cerca de cinco minutos. O
clima esquentou com a chegada
da cavalaria e da tropa de choque
da Polícia Militar.
Helicópteros da corporação fizeram vôos rasantes para dispersar os sem-terra envolvidos na
pancadaria. Os sem-terra recuaram quando um cordão de isolamento foi organizado pelos policiais militares.
"O helicóptero com um sujeito
armado dando rasantes desestabilizou o pessoal que se exaltou,
mas esse incidente não manchou
a caminhada que foi pacífica e os
objetivos foram conseguidos",
afirmou Vilson Santin, que é de
Santa Catarina e está acompanhando a marcha desde o início,
em Goiânia.
"A PM tentou impedir a livre
circulação dos sem-terra. Eles foram educadamente pedir a retirada do carro e tiveram de revidar às
agressões dos policiais", disse o
deputado estadual Walmir Assunção (PT-BA), um dos líderes
do MST baiano que estava no ato.
Após o confronto, todos os
1.200 policiais militares usados
ontem nas ruas de Brasília para
acompanhar a marcha foram deslocados ao Congresso.
Esquema reforçado
Ontem, a segurança foi reforçada em três pontos específicos de
Brasília onde passaria a marcha:
Embaixada dos Estados Unidos,
Palácio do Planalto e Ministério
da Fazenda.
A marcha, que durou cerca de
três horas e meia, começou às
12h35, quando os primeiros sem-terra deixaram a concentração,
no estacionamento do estádio
Mané Garrincha.
No meio da tarde, quando passavam em frente ao Planalto, integrantes do MST e da PM também
entraram em confronto -no primeiro tumulto do dia-, mas rapidamente foram contidos pelos
dois lados. Ninguém ficou ferido
nesta primeira confusão.
O incidente ocorreu no momento em que os sem-terra cruzavam a praça dos Três Poderes.
Ao se depararem com uma barreira de policiais, tentaram ultrapassá-la, pensando se tratar de
um empecilho à caminhada.
Segundo a PM, a presença dos
policiais visava proteger os sem-terra de alguns veículos que ainda
transitavam na Esplanada dos
Ministérios.
Após o incidente, sem-terra que
estavam em um dos seis carros de
som da marcha provocaram os
policiais: "Se a polícia não está
preparada, saia do ato. Vocês têm
de prender ladrão. Se fizerem isso,
já está bom".
No roteiro dos sem-terra, a Embaixada dos EUA foi o primeiro
ponto de protesto. Em frente ao
local, protegido por 300 policiais,
os manifestantes queimaram
bandeiras norte-americanas, sacos plásticos, garrafas de refrigerante e papel higiênico. Um carro
de som incentiva os sem-terra:
"Bush, o maior violador dos direitos humanos. Vamos queimar o
lixo produzido pelo Bush".
Ao deixar a embaixada, o MST
seguiu para a Esplanada dos Ministérios e foram recebidos por
uma chuva de papel picado, assim
que passaram ao lado da sede da
Agricultura. Apesar da recepção
calorosa vinda das janelas, Roberto Rodrigues foi chamado de o
"ministro dos transgênicos".
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