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CAMPO MINADO
Movimento não aceitou "cesta de promessas" do governo, que deve apresentar hoje uma contraproposta
MST diz não a Lula e ameaça acampar no DF
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não
aprovou a "cesta de promessas"
oferecida ontem pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, e ameaça manter em Brasília, por tempo
indeterminado, os cerca de 15 mil
sem-terra que ontem participaram da marcha na Esplanada dos
Ministérios. Contraproposta será
apresentada hoje aos sem-terra.
Ontem, o governo prometeu
realizar concursos públicos para a
contratação de 1.300 novos servidores do Incra (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária), anunciar nos "próximos
dias" novos índices de produtividade para a desapropriação de
terras e o desbloqueio de R$ 700
milhões para o Ministério do Desenvolvimento Agrário até o final
deste mês.
O MST pede ainda o lançamento imediato de uma nova linha de
crédito exclusiva para novos assentados da reforma agrária. A
eles, o governo ofereceu uma linha de transição. "Não queremos
isso", disse Jaime Amorim, da
coordenação nacional do MST.
Hoje pela manhã o movimento
realiza uma assembléia em Brasília para definir se deixam ou não o
Distrito Federal. "Queremos até
amanhã [hoje] cedo uma outra
resposta do governo. Houve
avanço em alguns pontos, mas
outros ficaram pendentes", disse
Roberto Baggio, também da coordenação do MST, em entrevista
ontem à noite no Planalto.
As propostas foram apresentadas ao movimento em reunião
que durou cerca de três horas, no
final da tarde de ontem, no Palácio do Planalto. Às 22h30, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) disse que só
hoje pela manhã o governo irá
apresentar uma contraproposta
aos sem-terra. "Não há nenhum
ponto decidido. Amanhã [hoje]
nós iremos informar à direção do
MST sobre o posicionamento definitivo do governo sobre a pauta
apresentada pelo movimento."
Em rápida entrevista no Palácio
do Planalto, Rossetto admitiu que
o governo está em dívida com os
sem-terra. "A reforma agrária é
uma prioridade do governo federal (...) É verdade que nós não
cumprimos as metas."
Metas
Até agora, eleito com a expectativa de realizar uma reforma agrária maciça, Lula não conseguiu
cumprir nenhuma meta de assentamento. Em 2003, prometeu assentar 60 mil famílias, mas só
atendeu a 36,8 mil. No ano passado, 81,2 mil famílias foram assentadas, ante uma meta de 115 mil
até dezembro. Neste ano, a meta
mais uma vez está comprometida, pois, no mês passado, o governo reteve metade do Orçamento
original do Desenvolvimento
Agrário, de R$ 3,7 bilhões.
Ontem, integrantes do governo
federal se reuniram duas vezes no
Planalto para fechar, às pressas,
um pacote de medidas a serem
anunciadas ao MST. Com o revés
nas negociações, abortaram o
anúncio oficial para hoje.
Recepção no Planalto
No início da noite, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva recebeu
em seu gabinete cerca de 40 integrantes da coordenação nacional
do MST. Quatro ministros e o
presidente do Incra, Rolf Hackbart, também participaram da audiência.
No início do encontro, Lula recebeu dos sem-terra um kit do
MST, com mochila e um boné
vermelho do movimento. Lula
colocou o boné, posando para fotógrafos e cinegrafistas.
Em meados de 2003, pelo fato
de ter colocado o boné do MST, o
presidente acabou provocando o
primeiro grande confronto entre
a base aliada e a oposição de sua
administração.
À época, em meio a uma série
de invasões de terra, a oposição
bombardeou o presidente, dizendo que tal gesto incentivava a violência no campo.
Até hoje em andamento, a
CPMI (Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito) da Terra foi
criada justamente por causa da
chamada "crise do boné".
(EDUARDO SCOLESE E LUIZ FRANCISCO)
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