São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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CAMPO MINADO

Movimento não aceitou "cesta de promessas" do governo, que deve apresentar hoje uma contraproposta

MST diz não a Lula e ameaça acampar no DF

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não aprovou a "cesta de promessas" oferecida ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ameaça manter em Brasília, por tempo indeterminado, os cerca de 15 mil sem-terra que ontem participaram da marcha na Esplanada dos Ministérios. Contraproposta será apresentada hoje aos sem-terra.
Ontem, o governo prometeu realizar concursos públicos para a contratação de 1.300 novos servidores do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), anunciar nos "próximos dias" novos índices de produtividade para a desapropriação de terras e o desbloqueio de R$ 700 milhões para o Ministério do Desenvolvimento Agrário até o final deste mês.
O MST pede ainda o lançamento imediato de uma nova linha de crédito exclusiva para novos assentados da reforma agrária. A eles, o governo ofereceu uma linha de transição. "Não queremos isso", disse Jaime Amorim, da coordenação nacional do MST.
Hoje pela manhã o movimento realiza uma assembléia em Brasília para definir se deixam ou não o Distrito Federal. "Queremos até amanhã [hoje] cedo uma outra resposta do governo. Houve avanço em alguns pontos, mas outros ficaram pendentes", disse Roberto Baggio, também da coordenação do MST, em entrevista ontem à noite no Planalto.
As propostas foram apresentadas ao movimento em reunião que durou cerca de três horas, no final da tarde de ontem, no Palácio do Planalto. Às 22h30, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) disse que só hoje pela manhã o governo irá apresentar uma contraproposta aos sem-terra. "Não há nenhum ponto decidido. Amanhã [hoje] nós iremos informar à direção do MST sobre o posicionamento definitivo do governo sobre a pauta apresentada pelo movimento."
Em rápida entrevista no Palácio do Planalto, Rossetto admitiu que o governo está em dívida com os sem-terra. "A reforma agrária é uma prioridade do governo federal (...) É verdade que nós não cumprimos as metas."

Metas
Até agora, eleito com a expectativa de realizar uma reforma agrária maciça, Lula não conseguiu cumprir nenhuma meta de assentamento. Em 2003, prometeu assentar 60 mil famílias, mas só atendeu a 36,8 mil. No ano passado, 81,2 mil famílias foram assentadas, ante uma meta de 115 mil até dezembro. Neste ano, a meta mais uma vez está comprometida, pois, no mês passado, o governo reteve metade do Orçamento original do Desenvolvimento Agrário, de R$ 3,7 bilhões.
Ontem, integrantes do governo federal se reuniram duas vezes no Planalto para fechar, às pressas, um pacote de medidas a serem anunciadas ao MST. Com o revés nas negociações, abortaram o anúncio oficial para hoje.

Recepção no Planalto
No início da noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu em seu gabinete cerca de 40 integrantes da coordenação nacional do MST. Quatro ministros e o presidente do Incra, Rolf Hackbart, também participaram da audiência.
No início do encontro, Lula recebeu dos sem-terra um kit do MST, com mochila e um boné vermelho do movimento. Lula colocou o boné, posando para fotógrafos e cinegrafistas.
Em meados de 2003, pelo fato de ter colocado o boné do MST, o presidente acabou provocando o primeiro grande confronto entre a base aliada e a oposição de sua administração.
À época, em meio a uma série de invasões de terra, a oposição bombardeou o presidente, dizendo que tal gesto incentivava a violência no campo.
Até hoje em andamento, a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Terra foi criada justamente por causa da chamada "crise do boné".
(EDUARDO SCOLESE E LUIZ FRANCISCO)


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