São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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MST erra com anticapitalismo, diz líder

MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO

O MST erra ao educar seus militantes para que tenham uma visão antiempresarial da agricultura, enquanto os governos pecam ao investir a maior parte do orçamento destinado à reforma agrária para a instalação de assentamentos, e não para a capacitação técnica do pequeno produtor.
Essa é a visão de Braz Agostinho Albertini, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo, que representa 176 sindicatos de trabalhadores rurais paulistas.
Segundo ele, trabalhar na agricultura é uma vocação e exige capacidade técnica e gerencial para que a plantação dê lucro e melhore a vida dos assentados. A doutrina anticapitalista do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), segundo disse, vai na contramão desse pensamento.
"Eles [militantes do MST] se acostumaram a morar embaixo de lonas e a receber cestas básicas do governo. Mas não é isso o que querem. Eles querem é produzir, ganhar o dinheirinho deles, ser independentes para poder viver melhor. Sem capacitação e crédito, os trabalhadores produzem pouco e vivem mal."

"Massa de manobra"
Na opinião de Albertini, a maioria dos sem-terra que participa da passeata é "massa de manobra".
"A culpa não é deles, mas dos líderes do movimento, que fazem da reforma agrária uma "indústria dos sem-terra". Quem trabalha de verdade no campo não tem tempo para ficar fazendo passeata."
Para ele, a maioria dos assentamentos é inviável: "Dá para contar nos dedos os assentamentos que dão certo. Falta visão empresarial para administrar a propriedade". A conseqüência disso seria que o agricultor, decepcionado e sem perspectivas de melhora em seu padrão de vida, "desista de cuidar da terra e mude para as cidades, que não têm infra-estrutura para receber todo esse povo".
A culpa disso, opina, é do histórico de descaso dos governos com relação à reforma agrária e das medidas paliativas que adotariam para resolver a questão da violência no campo: "Nenhum governo se comprometeu com a reforma agrária. Quando começou a morrer gente, preferiram cuidar do problema desapropriando áreas e criando assentamentos".
De acordo com Albertini, o fato de os governos só fazerem desapropriações quando há tensão social é um estímulo às invasões, mas considera justas as reivindicações do MST: "É justo alguém querer um pedaço de terra para trabalhar e ganhar a vida".
Ele promete fazer uma passeata, no dia 25, em São Paulo, para pressionar o governo estadual a liberar mais verbas para a capacitação do agricultor.


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