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TRIBUTÁRIA
Planalto diz a integrantes do CDES que impedirá elevação da carga tributária
Governo usa conselho para esvaziar críticas a reforma
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na tentativa de neutralizar a
principal crítica a seu projeto de
reforma tributária, o governo decidiu propor ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social um acordo para impedir um
novo aumento da carga de impostos do país.
Ontem à tarde, o ministro Tarso
Genro, secretário-executivo do
CDES, enviou aos 103 conselheiros -entre eles, empresários, sindicalistas e outros representantes
da sociedade, além de dez ministros e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva- uma proposta destinada a manter a carga tributária
nos patamares atuais.
Pelos dados da Receita Federal,
a carga tributária fechou no ano
passado em 35,86% do PIB (Produto Interno Bruto), o equivalente a R$ 474 bilhões. No início do
governo FHC, ela estava em
28,6% do PIB.
O documento foi acertado entre
os ministros Tarso Genro e Antonio Palocci Filho (Fazenda). Batizado de "Acordo do CDES sobre
Carga Tributária", o texto diz que
"não seria desejável que as alterações da reforma impliquem aumento da carga [tributária]".
"Neutralidade"
Pelo acordo, o governo assume
o "compromisso de adoção de
mecanismos legais que garantam
o princípio de neutralidade da reforma". Ou seja, se o novo sistema
tributário produzir ganhos de arrecadação, haverá medidas para
anular esse efeito.
"O objetivo é reforçar o papel da
sociedade na composição da reforma", disse Genro à Folha.
"Queremos que a sociedade seja
fiadora e monitora desse acordo
por meio do conselho."
A operação foi posta em prática
no mesmo dia em que a CNI
(Confederação Nacional da Indústria) confirmou a data da primeira manifestação de peso do
setor empresarial sobre a reforma
-um ato público com cerca de
300 líderes da área, marcado para
a próxima quarta-feira.
O próprio Tarso Genro reconhece que a proposta está relacionada ao protesto agendado pelos
empresários. "Claro que está. E
nós queremos mostrar que estamos fechados com a idéia de que
não pode haver aumento da carga. Estamos juntos."
Representada no conselho, a indústria ajudou a aprovar em apenas um dia de discussões, em
março, o projeto tributário apresentado por Palocci. Na época,
aceitou-se o argumento de que
era preciso apressar o envio do
texto ao Congresso.
Depois, à medida em que se
acentuavam os temores em relação à elevação da carga tributária
permitida pelo projeto, o setor decidiu adotar uma posição mais
crítica, também estendida à política econômica.
Preocupação com o ICMS
O principal temor dos empresários diz respeito ao novo ICMS,
que, pela proposta do governo, terá uma legislação única e apenas
cinco alíquotas -hoje, cada Estado tem sua legislação, e existem
44 alíquotas diferentes.
Avalia-se que, como será preciso unificar nacionalmente as alíquotas incidentes em cada tipo de
mercadoria, a tendência será adotar percentuais mais altos para
evitar perdas localizadas.
Exemplo: se um produto hoje é
tributado com alíquotas de 20%,
25% e 30% dependendo do Estado, o novo ICMS deverá acabar
adotando os 30% em todo o país.
"O processo de tramitação da
reforma tributária está ensejando
algumas dúvidas na sociedade
brasileira e particularmente no
empresariado sobre a possibilidade de o governo aumentar a carga
tributária, seja através de norma
constitucional ou infraconstitucional", admite o documento enviado aos conselheiros.
O texto pede que os membros
do fórum se manifestem formalmente sobre o acordo proposto
até a próxima segunda-feira
-antes, portanto, do ato programado pela CNI.
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