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CASO CC-5
Acordo entre Sarney, João Paulo e líderes permite que o Senado participe da investigação junto com a Câmara
Com aval de Dirceu, caso Banestado terá CPI mista
RAQUEL ULHÔA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com aval do ministro José Dirceu (Casa Civil), os presidentes do
Senado, José Sarney (PMDB-AP),
e da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), e os líderes partidários
das duas Casas chegaram a um
acordo ontem para instalar uma
CPI mista do Banestado.
Na avaliação de Dirceu, a entrada do Senado na investigação
-que antes seria feita só pela Câmara- traz mais tranquilidade
para o governo. Motivos: Sarney é
visto como um aliado mais confiável do que João Paulo, que ressuscitou uma investigação congressual do caso depois de o Senado tê-la sepultado.
Pelo acordo, a CPI deverá ser
instalada hoje, com 16 deputados
e 16 senadores. O presidente será
indicado pelo bloco PFL-PSDB do
Senado. O relator será o deputado
José Mentor (PT-SP), homem da
confiança do ministro da Casa Civil e que ocuparia a mesma função na CPI da Câmara.
A interferência do ministro começou anteontem, quando ele se
deu conta de que seria inevitável
uma investigação de remessa ilegal de divisas para o exterior, na
metade dos anos 90. Antes, o governo tentou, sem sucesso, impedir a instalação da CPI.
Sarney e os líderes do Senado
estavam insatisfeitos porque a Câmara decidiu instalar a CPI, deixando para eles o desgaste de terem barrado iniciativas dos senadores Ideli Salvatti (PT-SC) e Antero Paes de Barros (PSDB-MT)
para fazer a investigação na Casa.
Sarney reclamou com Dirceu e
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. No Senado, os autores
dos requerimentos originais de
CPI começaram um movimento
para retomar a investigação.
O ministro da Casa Civil, então,
achou melhor articular uma CPI
mista, com a ajuda de Sarney e do
líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
"Os líderes do Senado haviam
concluído que a Polícia Federal e
o Ministério Público tinham condições de investigar o caso de forma rápida e eficiente. Na medida
em que a Câmara tomou a decisão de criar a CPI e já que as autoridades americanas estão exigindo procedimentos judiciais para a
quebra de sigilo, uma CPI mista
pode ajudar a acelerar a investigação", disse Mercadante.
A tentativa do governo de controlar a investigação tem dois motivos principais. Primeiro, o temor de que a CPI gere uma tensão
política no Congresso, atrapalhando a tramitação das reformas
tributária e da Previdência. Isso
por que há suspeita de envolvimento de políticos em eventuais
irregularidades no caso.
O procurador Luiz Francisco de
Souza ligou o presidente do PFL,
senador Jorge Bornhausen (SC), a
supostas remessas ilegais. Bornhausen nega e ameaça processar
o procurador. "As repercussões
políticas são difíceis de prever,
porque os indícios são graves em
relação a alguns partidos", afirmou o senador Mercadante.
A segunda preocupação do governo é com eventuais implicações econômicas, misturando remessas legais com ilegais. "A investigação tem de ser feita com
muito rigor e seriedade, porque
incide sobre a movimentação de
capital financeiro. O país está superando uma crise cambial. E a
CC-5 diz respeito exatamente à
entrada e saída de capital estrangeiro no país", disse Mercadante.
Além de políticos, grandes empresários e personalidades -como artistas e jogadores de futebol- manifestaram preocupação
ao governo em ter os nomes relacionados à CPI do Banestado.
"A CC-5 é uma conta que existe
desde 1992. O Brasil tem liberdade
de movimento de capitais. Não
podemos simplesmente criminalizar as remessas de forma irresponsável. Temos de identificar
quais são os ilícitos", afirmou
O acordo saiu após muita negociação entre os partidos. Entre as
várias reuniões, houve um almoço entre Sarney e João Paulo. O
PFL foi o partido que mais resistiu. Só concordou quando teve a
garantia de que o partido, juntamente com o PSDB, indicaria o
presidente da comissão.
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