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São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

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CASO CC-5

Acordo entre Sarney, João Paulo e líderes permite que o Senado participe da investigação junto com a Câmara

Com aval de Dirceu, caso Banestado terá CPI mista

RAQUEL ULHÔA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com aval do ministro José Dirceu (Casa Civil), os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e os líderes partidários das duas Casas chegaram a um acordo ontem para instalar uma CPI mista do Banestado.
Na avaliação de Dirceu, a entrada do Senado na investigação -que antes seria feita só pela Câmara- traz mais tranquilidade para o governo. Motivos: Sarney é visto como um aliado mais confiável do que João Paulo, que ressuscitou uma investigação congressual do caso depois de o Senado tê-la sepultado.
Pelo acordo, a CPI deverá ser instalada hoje, com 16 deputados e 16 senadores. O presidente será indicado pelo bloco PFL-PSDB do Senado. O relator será o deputado José Mentor (PT-SP), homem da confiança do ministro da Casa Civil e que ocuparia a mesma função na CPI da Câmara.
A interferência do ministro começou anteontem, quando ele se deu conta de que seria inevitável uma investigação de remessa ilegal de divisas para o exterior, na metade dos anos 90. Antes, o governo tentou, sem sucesso, impedir a instalação da CPI.
Sarney e os líderes do Senado estavam insatisfeitos porque a Câmara decidiu instalar a CPI, deixando para eles o desgaste de terem barrado iniciativas dos senadores Ideli Salvatti (PT-SC) e Antero Paes de Barros (PSDB-MT) para fazer a investigação na Casa.
Sarney reclamou com Dirceu e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Senado, os autores dos requerimentos originais de CPI começaram um movimento para retomar a investigação.
O ministro da Casa Civil, então, achou melhor articular uma CPI mista, com a ajuda de Sarney e do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
"Os líderes do Senado haviam concluído que a Polícia Federal e o Ministério Público tinham condições de investigar o caso de forma rápida e eficiente. Na medida em que a Câmara tomou a decisão de criar a CPI e já que as autoridades americanas estão exigindo procedimentos judiciais para a quebra de sigilo, uma CPI mista pode ajudar a acelerar a investigação", disse Mercadante.
A tentativa do governo de controlar a investigação tem dois motivos principais. Primeiro, o temor de que a CPI gere uma tensão política no Congresso, atrapalhando a tramitação das reformas tributária e da Previdência. Isso por que há suspeita de envolvimento de políticos em eventuais irregularidades no caso.
O procurador Luiz Francisco de Souza ligou o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), a supostas remessas ilegais. Bornhausen nega e ameaça processar o procurador. "As repercussões políticas são difíceis de prever, porque os indícios são graves em relação a alguns partidos", afirmou o senador Mercadante.
A segunda preocupação do governo é com eventuais implicações econômicas, misturando remessas legais com ilegais. "A investigação tem de ser feita com muito rigor e seriedade, porque incide sobre a movimentação de capital financeiro. O país está superando uma crise cambial. E a CC-5 diz respeito exatamente à entrada e saída de capital estrangeiro no país", disse Mercadante.
Além de políticos, grandes empresários e personalidades -como artistas e jogadores de futebol- manifestaram preocupação ao governo em ter os nomes relacionados à CPI do Banestado.
"A CC-5 é uma conta que existe desde 1992. O Brasil tem liberdade de movimento de capitais. Não podemos simplesmente criminalizar as remessas de forma irresponsável. Temos de identificar quais são os ilícitos", afirmou
O acordo saiu após muita negociação entre os partidos. Entre as várias reuniões, houve um almoço entre Sarney e João Paulo. O PFL foi o partido que mais resistiu. Só concordou quando teve a garantia de que o partido, juntamente com o PSDB, indicaria o presidente da comissão.


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