São Paulo, Sexta-feira, 18 de Junho de 1999
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Primo de Serra foi ouvido; Wilma Motta, não

da Sucursal de Brasília

Entre as 47 testemunhas ouvidas pela Polícia Federal no inquérito 003/98, estão um primo do ministro da Saúde, José Serra, e dez jornalistas.
Mas os agentes da polícia dizem não ter conseguido entregar uma intimação para Wilma Motta, viúva de Sérgio Motta, ministro das Comunicações, morto em abril de 1998.
O primo de Serra ouvido no inquérito do dossiê Caribe é Estevam Petito. Ele prestou dois depoimentos, nos dias 5 e 11 de fevereiro deste ano.
Petito foi chamado a depor porque diz ter sido procurado pelo advogado Paulo Sérgio Braga Barboza, em "setembro ou outubro do ano passado", pedindo que intermediasse um encontro com o ministro José Serra.
Petito relatou ter ido até o escritório de Barboza. O advogado disse ter viajado naquela época para Miami, nos Estados Unidos.
No exterior, segundo Petito, o advogado teria recebido informações sobre a "existência de documentos envolvendo uma empresa" ligada ao "professor Serra, Mário Covas e Sérgio Motta".
Enquanto fazia seu relato, Barboza mostrou a Petito "dois ou três faxes" nos quais ele teria visto as letras C, H, J e T, em meio a textos "redigidos no idioma inglês".
Segundo o relato de Petito, o advogado disse que "um conhecido dele em Miami" estaria tentando negociar os papéis com o PT, pois não teria "acesso ao PSDB". Por isso Barboza desejaria um encontro com José Serra.
Petito contou a seu primo sobre a conversa com Barboza. José Serra disse que era tudo "loucura" e se recusou a marcar um encontro com o advogado.
Paulo Barboza também foi ouvido pela PF. O depoimento foi na manhã do dia 11 de fevereiro. O advogado negou quase tudo.
Admitiu ter clientes em Miami, mas disse não ser verdade que soube por conhecidos nos EUA qualquer informação sobre supostas contas bancárias ou uma empresa pertencente a políticos tucanos no exterior. Também negou ter apresentado faxes contendo essas informações a Estevam Petito.
A PF intuiu que Paulo Barboza negaria os fatos relatados por Petito e marcou uma acareação de surpresa, para o mesmo dia que o advogado fez o seu depoimento.
Eis o que diz o inquérito sobre a reação de Paulo Barboza ao saber que se encontraria com Petito dentro da PF: "O nervosismo do dr. Paulo Sérgio Braga Barboza, observado durante todo o tempo que prestou declarações, sofreu nítido aumento".
O advogado afirmou que não poderia esperar para fazer a acareação, pois tinha um compromisso marcado para as 11h da manhã. O delegado, então, intimou-o a estar na PF ao meio-dia, com tolerância até as 13h. Paulo Barboza não apareceu.
Ele acabou não sendo ouvido porque o inquérito foi concluído depois que a Justiça Federal acatou o pedido de abertura de processo da Procuradoria Geral República contra os supostos divulgadores do dossiê.

Wilma Motta
A viúva de Sérgio Motta estava relacionada entre as testemunhas do caso. Curiosamente, segundo demonstra o inquérito, não houve empenho da PF para entregar a intimação -uma testemunha tem de receber pessoalmente a intimação para ir depor.
No dia 24 de novembro do ano passado, dois agentes da PF foram até a casa de Wilma Motta, em São Paulo. Foram atendidos por uma funcionária de nome Bernadete.
Os agentes disseram que precisavam entregar uma intimação em mãos para Wilma Motta.
Queriam saber a que horas poderiam encontrá-la. Bernadete, segundo o inquérito, respondeu que havia sido "instruída pela dona da casa para não dar tais informações".
Em seguida, a funcionária teve de atender a uma ligação telefônica. Retornou para onde estavam os agentes e disse que uma pessoa ("a qual ela não queria informar quem era") estaria "se dirigindo para lá para resolver o problema".
"Os agentes aguardaram algum tempo, e, pela impossibilidade de permanecerem no local, deixaram com a sra. Bernadete anotação com telefone da Interpol/SP, para que a sra. Wilma Motta entrasse em contato logo que possível", diz o inquérito.
Wilma Motta não foi mais procurada e nunca prestou depoimento no processo.
(FERNANDO RODRIGUES)


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