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REFORMA DA REFORMA
Presidente da AMB diz que chances de greve de juízes aumentaram; entidades decidirão a questão na terça
Judiciário se mobiliza contra subteto menor
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Maurício Corrêa, criticou ontem a reforma da Previdência, principalmente na questão da limitação
dos subtetos para os desembargadores dos Judiciários estaduais.
Ao afirmar que acredita que a reforma vá ser modificada, mandou
um recado direto ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva: "o jogo
começa agora".
A principal reação dos juízes foi
ao subteto, ou seja, à limitação do
salário dos desembargadores
(que estão no topo da carreira da
Justiça estadual) a 75% da remuneração de ministros do STF.
"Não tenho a menor dúvida de
que esse quadro será revertido pela posição soberana, altiva e independente do nosso Congresso
Nacional", disse. E completou
dando o recado ao Lula: "Para
usar exatamente a expressão do
gosto do presidente da República,
agora é que foi dado o apito inicial. O jogo começa agora", afirmou, em alusão ao fato de que Lula, em seus discursos, usa expressões referentes ao futebol.
O relatório da reforma da Previdência provocou reação em cadeia no Poder Judiciário. Entidades representantes afirmaram
que cresceram os riscos de deflagração de uma greve nacional de
magistrados. Por outro lado, o governo teme que pontos de sua reforma sejam considerados inconstitucionais.
Corrêa se declarou confiante no
restabelecimento do acordo firmado na semana passada para
que os juízes voltem a ser contemplados com a preservação de direitos que, segundo ele, hoje estão
ameaçados. "Assim agem os homens de palavra."
E continuou: "Colocar o desembargador para ganhar menos do
que ganha um juiz substituto da
Justiça Federal. Isso é inconcebível, é inexplicável", disse Corrêa.
O juiz federal inicia a carreira com
o salário equivalente a 80% dos
ministros do STF.
Já o presidente do STJ (Superior
Tribunal de Justiça), ministro Nilson Naves, classificou a proposta
de "um desastre, uma calamidade
nacional".
O relator fixou o percentual de
75% em relação ao Supremo porque essa é a diferença entre as remunerações de deputados federais e estaduais.
Com o salário do STF de R$
17.170, o desembargador receberá
no máximo R$ 12.877. A remuneração é escalonada no Judiciário,
ou seja, há uma diferença de 5 a
10% entre uma instância e outra.
Recuo
Dentro da base governista já está sendo articulado um recuo sobre o subteto. O percentual passaria a ser de 90%, mas seria aplicado apenas sobre o salário, excluindo os chamados "penduricalhos" como ajuda de custo.
Em troca, haveria um aumento
da idade mínima para a aposentadoria. Essa modificação pode ser
discutida agora na comissão especial ou na votação no plenário da
Câmara dos Deputados.
Os presidentes dos Tribunais de
Justiça dos Estados passaram o
dia reunidos em Brasília para
pressionar contra a reforma.
Em nota divulgada ontem, eles
afirmam ser "irresponsável e simplista o propósito de atribuir tratamento igual a carreiras desiguais do serviço público, com o
comprometimento do nível de
qualidade". Eles também criticaram a fórmula de limitação da
pensão das viúvas.
Três entidades - a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça
do Trabalho) e a Conamp (Associação Nacional dos Membros do
Ministério Público)- divulgaram nota dizendo que há "situação desagregadora e caótica",
"fragilização da soberania nacional e desmonte total do Estado" e,
por fim, risco de "uma séria crise
institucional".
Greve
O presidente da AMB, Cláudio
Baldino Maciel, afirmou que aumentou o risco ser aprovada uma
greve de juízes. "Sem dúvida nenhuma, as possibilidades de greve
aumentam muito agora."
Na segunda-feira, representantes de 56 entidades vão se reunir
para decidir a questão. Os magistrados dizem que, sem as garantias hoje existentes, a carreira fica
menos atrativa e o Judiciário se
enfraquece.
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