São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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SABATINA

Em entrevista à Folha, candidato distorceu dados sobre investimento em universidades e criação de empregos

Números oficiais contestam Garotinho

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

A taxa de criação de empregos em projeto de irrigação rural e os dados de investimentos nas universidades estaduais apresentados anteontem pelo candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, durante a sabatina na série "Candidatos na Folha", foram contestados por dados oficiais.
Em três anos e três meses de governo no Rio de Janeiro, Garotinho disse ter criado 20 mil empregos no programa Frutificar (de agricultura irrigável), investido R$ 100 milhões na Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) e outros R$ 40 milhões em laboratórios da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Segundo atual coordenador do Frutificar, Ronaldo Salek, o Frutificar criou apenas 4 mil empregos, e não 20 mil.
O Estado investiu R$ 25,6 milhões no programa entre 2000 e 2002. Os recursos foram repassados para 451 pequenas empresas interessadas em investir em abacaxi e maracujá nas regiões do Norte e Noroeste fluminense.
Pelo contrato, o empréstimo deveria ser pago na venda da colheita. "Hoje, nós podemos dizer que 90% dessas empresas estão inadimplentes", afirmou Salek.
Os investimentos na Uenf também não são verdadeiros. Dados da Fenorte (Fundação Estadual do Norte Fluminense), responsável até 2001 pela administração do campus da universidade, e da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio) mostram que foram destinados à instituição R$ 68 milhões nos três anos de governo Garotinho no Estado, e não R$ 100 milhões.
Garotinho também distorceu os dados em relação aos investimentos na Uerj. Em nota, a reitoria disse que, entre janeiro de 1999 e março de 2002, foram aplicados na universidade R$ 23,3 milhões, e não R$ 40 milhões.
Deste total, apenas R$ 1,6 milhão vieram, de fato, do Tesouro estadual. O restante são recursos próprios da universidade e obtidos por meio de convênios.
Na sabatina, Garotinho disse ainda que revitalizou a indústria naval no Estado, gerando 18 mil novos empregos no setor. Boletim de 30 de julho deste ano do Sinaval (Sindicato Nacional dos Construtores da Indústria Naval), porém, informa que foram gerados 10 mil empregos diretos no setor em 2002.
O empresário Augusto Mendonça, do Fels-Cetal S.A, um dos maiores estaleiros do Rio, acredita, porém, que Garotinho tenha incluído na sua contabilidade os empregos indiretos. Mesmo assim, o número de empregos registrados em 2002 significa apenas um quarto do total de postos criados em 1979 (auge de construção naval do Estado): 40 mil.

Relatório
O ex-secretário executivo do Estado Luiz Rogério Magalhães contestou os dados. Ele disse que tem relatório detalhado dos investimentos do governo que comprovariam que o ex-governador está correto. "Só pode ser piada afirmar que o Frutificar criou apenas 4 mil empregos", afirmou.
Magalhães disse que não poderia passar cópia de seu relatório, porque estava em campanha em Friburgo (região serrana). Ele é candidato a deputado federal pelo PSB do Rio.


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