São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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CASO BANESTADO

Entre as acusações estão as de evasão de divisas e lavagem de dinheiro

Megaoperação da PF prende 63 doleiros em sete Estados

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO PAULO

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma megaoperação da força-tarefa que investiga o envio ilegal de remessas de dinheiro para o exterior prendeu ontem 63 doleiros em sete Estados brasileiros.
A operação foi desencadeada pela força-tarefa CC5 do Banestado, integrada pelo Ministério Público Federal, pela Polícia Federal, pela Justiça Federal e por técnicos da Receita Federal. O porta-voz da PF em São Paulo, Wagner Castilho, disse que os doleiros foram presos sob acusação de evasão de divisas, sonegação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
O esquema funcionava por meio de uma transação chamada "dólar cabo". Segundo a força-tarefa, o dinheiro era entregue aos doleiros, que ficavam com a quantia no Brasil. Então, acionavam uma conta em Nova York para reenviar valor semelhante a paraísos fiscais. Assim, a pessoa conseguia obter o dinheiro fora do país, sem registro no Banco Central. O lucro dos doleiros era obtido por meio de comissões, que ainda assim eram muito mais baixas que o imposto sonegado.
A principal conta nos Estados Unidos era utilizada por vários doleiros brasileiros e tinha o nome de Beacon Hill -daí o nome Operação Farol da Colina, a tradução para o português do nome da conta norte-americana. Parte dos dados que serviram de base para a investigação veio da Promotoria do Estado de Nova York.
Das 63 prisões, 23 foram em São Paulo. Ainda assim, só no Estado havia 30 foragidos ontem à noite. Foram apreendidos ao menos 50 computadores, cerca de R$ 500 mil, mais de US$ 120 mil, documentos e algumas drogas e armas. A operação incluiu até uma batida numa casa de câmbio no shopping Iguatemi, centro comercial freqüentado pela elite paulistana.
Também foram presos doleiros no Rio de Janeiro (nove), em João Pessoa (dois), em Manaus (três), em Belo Horizonte (quatro), em Governador Valadares (11), em Recife (três) e em Belém (oito). Entre os presos na capital do Pará está Fernando Teruo Yamada, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados.

Toninho da Barcelona
O nome mais conhecido entre os presos em São Paulo é o de Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que tinha ligações até com policiais da PF.
No mês passado, a Folha revelou que o superintendente da PF em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, comprou US$ 134,6 mil de Barcelona. Na época, Baltazar disse que o dinheiro tinha origem lícita e a maior parte foi obtida em uma ação contra uma revista.
Questionado se a prisão de Barcelona causava algum constrangimento à PF, o porta-voz Castilho afirmou: "Não. Prazer maior não existe [do que essa prisão]".
Sobre as relações entre Baltazar e o doleiro, disse não ter "conhecimento disso".
Os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Januário Paludo, que acompanharam as operações, consideraram o resultado bom, porque temiam eventuais vazamentos.
A preocupação com os vazamentos antecipou até a prisão do doleiro Toninho da Barcelona. Claramunt foi preso na noite de anteontem, depois que comentou, por telefone, ter sido avisado de que aconteceria alguma coisa. Suas ligações estavam grampeadas, com autorização judicial.
Em Minas, uma outra operação, batizada de Urutu-Cruzeira (referência a uma cobra), teve de ser antecipada, porque tinha ao menos um alvo em comum.
O porta-voz da PF em São Paulo disse que a prisão dos doleiros é a primeira fase da operação e que o objetivo agora é pegar as pessoas que eram as donas dos dólares.
Entre 1997 e 2002, foram movimentados cerca de US$ 24 bilhões pelo Banestado, de acordo com a Polícia Federal.


Colaboraram a Agência Folha e a Sucursal de Brasília

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