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CASO BANESTADO
Entre as acusações estão as de evasão de divisas e lavagem de dinheiro
Megaoperação da PF prende 63 doleiros em sete Estados
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO PAULO
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma megaoperação da força-tarefa que investiga o envio ilegal
de remessas de dinheiro para o
exterior prendeu ontem 63 doleiros em sete Estados brasileiros.
A operação foi desencadeada
pela força-tarefa CC5 do Banestado, integrada pelo Ministério Público Federal, pela Polícia Federal,
pela Justiça Federal e por técnicos
da Receita Federal. O porta-voz
da PF em São Paulo, Wagner Castilho, disse que os doleiros foram
presos sob acusação de evasão de
divisas, sonegação, formação de
quadrilha e lavagem de dinheiro.
O esquema funcionava por
meio de uma transação chamada
"dólar cabo". Segundo a força-tarefa, o dinheiro era entregue aos
doleiros, que ficavam com a
quantia no Brasil. Então, acionavam uma conta em Nova York
para reenviar valor semelhante a
paraísos fiscais. Assim, a pessoa
conseguia obter o dinheiro fora
do país, sem registro no Banco
Central. O lucro dos doleiros era
obtido por meio de comissões,
que ainda assim eram muito mais
baixas que o imposto sonegado.
A principal conta nos Estados
Unidos era utilizada por vários
doleiros brasileiros e tinha o nome de Beacon Hill -daí o nome
Operação Farol da Colina, a tradução para o português do nome
da conta norte-americana. Parte
dos dados que serviram de base
para a investigação veio da Promotoria do Estado de Nova York.
Das 63 prisões, 23 foram em São
Paulo. Ainda assim, só no Estado
havia 30 foragidos ontem à noite.
Foram apreendidos ao menos 50
computadores, cerca de R$ 500
mil, mais de US$ 120 mil, documentos e algumas drogas e armas.
A operação incluiu até uma batida
numa casa de câmbio no shopping Iguatemi, centro comercial
freqüentado pela elite paulistana.
Também foram presos doleiros
no Rio de Janeiro (nove), em João
Pessoa (dois), em Manaus (três),
em Belo Horizonte (quatro), em
Governador Valadares (11), em
Recife (três) e em Belém (oito).
Entre os presos na capital do Pará
está Fernando Teruo Yamada, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados.
Toninho da Barcelona
O nome mais conhecido entre
os presos em São Paulo é o de Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que tinha ligações até com policiais da PF.
No mês passado, a Folha revelou que o superintendente da PF
em São Paulo, Francisco Baltazar
da Silva, comprou US$ 134,6 mil
de Barcelona. Na época, Baltazar
disse que o dinheiro tinha origem
lícita e a maior parte foi obtida em
uma ação contra uma revista.
Questionado se a prisão de Barcelona causava algum constrangimento à PF, o porta-voz Castilho
afirmou: "Não. Prazer maior não
existe [do que essa prisão]".
Sobre as relações entre Baltazar
e o doleiro, disse não ter "conhecimento disso".
Os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Januário
Paludo, que acompanharam as
operações, consideraram o resultado bom, porque temiam eventuais vazamentos.
A preocupação com os vazamentos antecipou até a prisão do
doleiro Toninho da Barcelona.
Claramunt foi preso na noite de
anteontem, depois que comentou, por telefone, ter sido avisado
de que aconteceria alguma coisa.
Suas ligações estavam grampeadas, com autorização judicial.
Em Minas, uma outra operação,
batizada de Urutu-Cruzeira (referência a uma cobra), teve de ser
antecipada, porque tinha ao menos um alvo em comum.
O porta-voz da PF em São Paulo
disse que a prisão dos doleiros é a
primeira fase da operação e que o
objetivo agora é pegar as pessoas
que eram as donas dos dólares.
Entre 1997 e 2002, foram movimentados cerca de US$ 24 bilhões
pelo Banestado, de acordo com a
Polícia Federal.
Colaboraram a Agência Folha e a Sucursal de Brasília
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