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Para Lafer, política de
Lula é a do espetáculo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-chanceler Celso Lafer, 63,
professor titular da Faculdade de
Direito da USP (Universidade de
São Paulo), criticou ontem o jogo
da seleção brasileira de futebol no
Haiti. "É a expressão da política
externa como política espetáculo,
que é a dimensão do estilo da
atual administração", disse.
Ex-ministro das Relações Exteriores nos governos Fernando
Collor de Mello (92) e Fernando
Henrique Cardoso (2001-02), não
é contra o país integrar forças de
paz no exterior, mas acusa a atual
política externa de estar sendo
"direcionada a dar satisfação
ideológica interna".
(EC)
Folha - Por que é importante para
o Brasil gastar recursos, quadros e
energia para liderar uma força de
paz no Haiti?
Celso Lafer - A participação do
Brasil em forças de paz não é novidade, o que há agora é participação mais ampla. Em tempos recentes, enviamos tropas a Angola
e Moçambique, que têm a mesma
língua, e Timor Leste, país da Ásia
com origem portuguesa e em fase
de reconstrução. No caso do Haiti, há, de um lado, o elemento de
solidariedade e, de outro, o uso de
nossos recursos, já tão limitados,
em ações internacionais.
Folha - Por que o Brasil acertou a
liderança da força de paz com os
EUA, mas fez questão de divulgar
que o pedido foi da França? Não ficaria bem fazer uma aliança com os
EUA, acusados de interferência nas
questões internas do Haiti?
Lafer - Não tenho informações
precisas sobre isso, mas parece
claro que há interesse tanto dos
EUA quanto da França de que haja um terceiro atuando no país,
com as características do Brasil.
Se essa informação que você dá é
correta, o governo preferiu aceitar
um pedido francês a um norte-americano porque, para suas bases, ficaria melhor assim. A política externa deste governo tem sido
direcionada a dar satisfação ideológica interna. É também uma
operação de marketing político.
Folha - Qual o objetivo de assumir
uma política externa ""agressiva" e
de disputar liderança mundial? Faz
sentido?
Lafer - O Brasil sempre teve
atuação importante no plano internacional, e ela sempre foi exercida com cuidado. Receio que a
retórica de uma política agressiva,
com aspas, mais atrapalhe do que
ajude o Brasil a exercer um papel
de destaque.
Folha - Por quê?
Lafer - Nós somos um país de escala continental e de recursos limitados. Temos crescido no cenário internacional pela confiabilidade, não pela agressividade.
Além do interesse específico em
exportar e importar mais, o Brasil
também tem interesse geral no
funcionamento do multilateralismo. O que é preciso saber é se essa
ação no Haiti vai ou não ajudar
essa nossa presença nos foros internacionais.
Folha - O jogo no Haiti pode ser
incluído em que categoria: política
externa, injeção de ânimo interno,
marketing brasileiro no exterior?
Lafer - É a expressão da política
externa como política espetáculo,
que é a dimensão do estilo da
atual administração.
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