São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PMDB aposta nas urnas para exigir mais cargos de Lula

Lula Marques/Folha Imagem
Lula se deixa fotografar pelo governador Rigotto ao lado de funcionário da Petrobras que segura camisa do Internacional no RS


Governistas já falam em pedir até oito ministérios para assegurar governabilidade

Partido vai pedir o controle integral de algumas áreas da administração, mas quer esperar resultado da eleição para negociar com petista


MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e representantes da cúpula governista do PMDB já começaram a discutir o modelo de coalizão num eventual segundo mandato. Na semana passada, Lula pediu ao presidente do Senado, Renan Calheiros, durante evento no Itamaraty,que apresente por escrito qual é o modelo de coalizão imaginado pelo partido.
Confiantes no poder político que o PMDB vai adquirir após a eleição de outubro, com a possibilidade de eleger o maior número de governadores do país e as maiores bancadas de deputados federais e senadores, os governistas acreditam que terão cacife para pedir muito. Evitam tratar abertamente do assunto, mas nos bastidores já falam em oito ministérios.
A decisão de aguardar o resultado das urnas para negociar com o presidente Lula revela a dificuldade de mapear o próprio PMDB e o humor do partido, sempre dividido, após a eleição. O PMDB "lulista" não terá vitória homogênea nos Estados, o que dificulta ainda mais a coalizão sonhada por Lula.
Ainda assim, na ambição peemedebista de poder o ponto central da demanda não é apenas a quantidade, mas a qualidade. A coalizão imaginada pelo PMDB governista envolve "responsabilidade integral" por determinadas áreas.
Ou seja, se couber ao PMDB o setor da saúde, por exemplo, o partido quer controlá-lo por inteiro, tendo poder para nomear todos os principais auxiliares do ministro e dirigentes de autarquias e fundações. Em contrapartida, a legenda responderia pelos deslizes na área.
O que o partido quer evitar é uma situação como a do Ministério de Minas e Energia, em que Silas Rondeau, da cota do ex-presidente José Sarney, foi nomeado ministro, mas é Dilma Rousseff (Casa Civil) quem dá as cartas no setor.
Outro exemplo é o Ministério das Comunicações, hoje comandado pelo senador Hélio Costa (PMDB-MG), em que, para o PMDB, o PT continua com poder excessivo.
Sem contar o Ministério da Saúde. Saraiva Felipe (PMDB-MG) deixou a pasta em março para poder disputar a reeeleição a deputado federal. A cúpula governista do PMDB não conseguiu, depois disso, indicar um novo titular. Permanece como ministro Agenor Álvares.
No primeiro mandato, a base de sustentação de Lula no Congresso foi destroçada pelas denúncias de corrupção. Por isso, Lula dependerá do PMDB num eventual segundo mandato.

Correios
Os caciques governistas do PMDB tem sido tratados com reverência por Lula. Logo no início da campanha, receberam cargos nos Correios, estatal que foi a origem do escândalo de corrupção que levou à descoberta do mensalão. Na costura de alianças nos Estados, Lula articulou pessoalmente o apoio do PT mineiro à candidatura do ex-governador Newton Cardoso (PMDB) ao Senado.
O deputado federal Jader Barbalho (PA), obrigado a renunciar ao mandato de senador em 2001 em meio às denúncias de corrupção na Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), hoje integra o Conselho Político da campanha Lula, ao lado de Sarney.
Os peemedebistas -e parte do PT- acham possível copiar o modelo chileno de coalizão e suas variações contemporâneas, com a chegada de Michelle Bachelet à Presidência.
A concertação chilena, criada na década de 90, é composta por quatro partidos, cujo poder se altera conforme o quadro político. Na cabeça do PMDB, em 2007 o PT não será mais o principal partido da coalizão.
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, diz que o desenho da coalizão não está sendo tratado. "Estamos discutindo a campanha. Questão de governo vem depois. Evidentemente temos claro que o grupo que tem se reunido tem papel importante, também após a campanha. Mas o foco do debate hoje é vencer a eleição."
Para o presidente do PC do B, Renato Rabelo, do conselho político, todas as legendas estão cientes do papel relevante do PMDB num segundo mandato.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: "Vou a debate quando achar que interessa"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.