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ANÁLISE
Sempre no lugar certo
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A eventual eleição de Renan Calheiros (AL) para a presidência do
Senado será a vitória do mesmo
grupo do PMDB que, em fevereiro passado, elegeu Jader Barbalho
(PA) para o cargo. Calheiros, 46, é
um exemplo clássico de sobrevivência política: está sempre no lugar certo na hora certa.
Oriundo do PC do B, em 1986
apoiou Fernando Collor para o
governo de Alagoas, sob um argumento que soou verossímil para
seus ex-companheiros da esquerda: para derrotar as oligarquias
que dominavam o Estado era preciso aliar-se a elas.
Calheiros fazia parte do grupo
de 14 pessoas que acompanharam
o então governador alagoano em
uma viagem à China, na qual teria
nascido a candidatura presidencial de Collor. Nas negociações
para a composição da chapa
collorida, Calheiros foi decisivo
para a escolha de Itamar Franco
como candidato a vice.
É dessa época que remontam as
relações que tornam Calheiros
hoje o principal interlocutor do
governador mineiro no PMDB.
Collor queria um nome de Minas
Gerais para vice, mas tinha preferência por Márcia Kubitschek.
Queria o sobrenome do ex-presidente JK ornamentando a chapa.
Calheiros filiou Itamar ao PRN,
Márcia perdeu o prazo. Collor
nunca absorveu o companheiro
de chapa.
Após perder as eleições de 1990
para governador de Alagoas, Calheiros deixou o governo acusando PC Farias, numa época em que
as acusações contra o tesoureiro
de Collor não haviam ainda ganhado corpo. A partir daí purgou
o ostracismo até ser resgatado por
Itamar Franco, já presidente, que
o nomeou para a presidência da
Petroquisa.
Na eleição para governador, em
1998, Calheiros retribuiu: munido
de pesquisas, ele convenceu Newton Cardoso, que então controlava a máquina do PMDB, a dar a
legenda para Itamar concorrer ao
governo de Minas, conformando-se Newtão a ficar com a vice.
A eleição de Calheiros significa
uma porta aberta para Itamar no
PMDB, mas nos termos da cúpula
que atualmente controla a legenda: o governador mineiro é uma
arma da sigla contra os demais integrantes da aliança, que pode ser
sacada a qualquer momento, não
um instrumento de Itamar.
Calheiros insistiu em Itamar para
vice de Collor devido à atuação do
então senador por Minas na CPI
da Corrupção que investigou o
governo José Sarney (1985-1990).
Logo após romper com Collor, o
alagoano se recompôs com Sarney. Em 1994, já concorria na vitoriosa chapa do ex-presidente ao
comando do Senado.
Integrante da Mesa do Senado,
aproximou-se do então líder do
PMDB, Jader Barbalho. Graças ao
apoio de Sarney e Jader, foi indicado para o Ministério da Justiça,
do qual saiu em 1999 desgastado
com os tucanos. Sarney, ostensivamente, e Jader, nos bastidores,
apóiam sua eleição. O PSDB não o
perdoa por ter sugerido que Mário Covas, ícone da ética tucana,
patrocinava negócios escusos no
governo. O PFL não o quer por
acreditar que entre ele e Jader não
muda muita coisa.
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