São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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ANÁLISE

Sempre no lugar certo

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A eventual eleição de Renan Calheiros (AL) para a presidência do Senado será a vitória do mesmo grupo do PMDB que, em fevereiro passado, elegeu Jader Barbalho (PA) para o cargo. Calheiros, 46, é um exemplo clássico de sobrevivência política: está sempre no lugar certo na hora certa.
Oriundo do PC do B, em 1986 apoiou Fernando Collor para o governo de Alagoas, sob um argumento que soou verossímil para seus ex-companheiros da esquerda: para derrotar as oligarquias que dominavam o Estado era preciso aliar-se a elas.
Calheiros fazia parte do grupo de 14 pessoas que acompanharam o então governador alagoano em uma viagem à China, na qual teria nascido a candidatura presidencial de Collor. Nas negociações para a composição da chapa collorida, Calheiros foi decisivo para a escolha de Itamar Franco como candidato a vice.
É dessa época que remontam as relações que tornam Calheiros hoje o principal interlocutor do governador mineiro no PMDB. Collor queria um nome de Minas Gerais para vice, mas tinha preferência por Márcia Kubitschek. Queria o sobrenome do ex-presidente JK ornamentando a chapa. Calheiros filiou Itamar ao PRN, Márcia perdeu o prazo. Collor nunca absorveu o companheiro de chapa.
Após perder as eleições de 1990 para governador de Alagoas, Calheiros deixou o governo acusando PC Farias, numa época em que as acusações contra o tesoureiro de Collor não haviam ainda ganhado corpo. A partir daí purgou o ostracismo até ser resgatado por Itamar Franco, já presidente, que o nomeou para a presidência da Petroquisa.
Na eleição para governador, em 1998, Calheiros retribuiu: munido de pesquisas, ele convenceu Newton Cardoso, que então controlava a máquina do PMDB, a dar a legenda para Itamar concorrer ao governo de Minas, conformando-se Newtão a ficar com a vice.
A eleição de Calheiros significa uma porta aberta para Itamar no PMDB, mas nos termos da cúpula que atualmente controla a legenda: o governador mineiro é uma arma da sigla contra os demais integrantes da aliança, que pode ser sacada a qualquer momento, não um instrumento de Itamar.
Calheiros insistiu em Itamar para vice de Collor devido à atuação do então senador por Minas na CPI da Corrupção que investigou o governo José Sarney (1985-1990). Logo após romper com Collor, o alagoano se recompôs com Sarney. Em 1994, já concorria na vitoriosa chapa do ex-presidente ao comando do Senado.
Integrante da Mesa do Senado, aproximou-se do então líder do PMDB, Jader Barbalho. Graças ao apoio de Sarney e Jader, foi indicado para o Ministério da Justiça, do qual saiu em 1999 desgastado com os tucanos. Sarney, ostensivamente, e Jader, nos bastidores, apóiam sua eleição. O PSDB não o perdoa por ter sugerido que Mário Covas, ícone da ética tucana, patrocinava negócios escusos no governo. O PFL não o quer por acreditar que entre ele e Jader não muda muita coisa.


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