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CONTAS PÚBLICAS
Para cumprir meta de superávit primário, novo contingenciamento deve afetar principalmente estatais
Governo corta mais R$ 600 mi do Orçamento
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O governo federal irá cortar
mais R$ 600 milhões do Orçamento deste ano para poder cumprir a meta de superávit primário
de 4,25% do PIB para o setor público. O corte deverá atingir principalmente as estatais, que são
normalmente bastante lucrativas
no final do ano.
O número foi fechado em reunião, na noite de anteontem, da
equipe econômica com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda) e
Guido Mantega (Planejamento).
De acordo com o que a Folha
apurou, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva também foi informado da necessidade desse corte
adicional no Orçamento.
Nas últimas semanas, a equipe
econômica do governo vinha estudando uma série de hipóteses
para esse novo contingenciamento no Orçamento. Os números
iam de otimistas R$ 200 milhões a
pessimistas R$ 2 bilhões.
Depois de uma série de avaliações, o governo decidiu optar por
uma hipótese alternativa, abaixo
das expectativas, de R$ 600 milhões, que não teria o impacto político tão negativo de um corte
mais expressivo.
A decisão do governo de promover novo corte se deve à piora
do desempenho fiscal dos últimos
meses. Em julho, a arrecadação
federal sofreu uma queda de R$
600 milhões, o que fez acender o
sinal amarelo no governo. Para
cumprir a meta de 4,25% do PIB
deste ano, seriam necessários cortes adicionais no Orçamento.
Além da queda na arrecadação
federal, o Tesouro Nacional vinha
constatando também um aumento no volume de gastos dos ministérios, o que estava ameaçando
comprometer o resultado do superávit primário. Até julho, o superávit primário estava em 3,53%
do PIB (Produto Interno Bruto).
Corte pequeno
Segundo o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, o corte de R$ 600 milhões
do governo foi pequeno em relação às suas previsões para se alcançar a meta de 4,25% do PIB.
Velloso previa que, de janeiro a
agosto, a arrecadação federal bruta atingiria R$ 170 bilhões. O resultado foi de R$ 166,6 bilhões. Ou
seja, houve, de acordo com o economista, uma frustração de R$ 3,5
bilhões na arrecadação deste ano
em relação às suas previsões.
Como o corte foi de R$ 600 milhões apenas, Velloso diz que o
governo deve estar confiante numa melhora significativa da economia nos últimos meses do ano.
"O governo deve estar esperando
um reaquecimento forte da economia neste final do ano para ter
decidido por um corte tão pequeno", diz o economista.
Além do reaquecimento da economia, Velloso diz que o governo
também deve estar contando com
a arrecadação extra de alguns impostos adicionais, como o "Refis
2"-o novo programa de parcelamento das dívidas- e a recente
alteração que provocou aumento
do ISS (Imposto Sobre Serviços).
A queda da arrecadação neste
ano, em relação a 2002, já era esperada. No primeiro semestre do
ano passado, as receitas federais
foram reforçadas pelo pagamento
de impostos pelos fundos de pensão, o que não ocorreu em 2003.
O problema, no entanto, foi que
o desaquecimento da economia
foi muito forte neste ano. No início do ano, chegou-se a falar num
crescimento do PIB de 2% neste
ano. A previsão caiu para 1,5%, e
agora já se fala entre 0,5% e 1%,
número bem abaixo do que pretendia o governo.
Além do efeito da recessão, outro fator importante que ajudou a
derrubar a arrecadação neste ano
foram as ações judiciais contra a
Receita Federal, através de liminares, que têm afetado principalmente a arrecadação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e da Cide (contribuição sobre o combustível).
No início do ano, o governo
contingenciou R$ 14 bilhões do
Orçamento. Logo depois, liberou
R$ 1,5 bilhão. Agora, decide cortar
mais R$ 600 milhões. Se houver
uma melhora na economia até o
fim do ano, o governo pode fazer
outro descontingenciamento.
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