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FOLCLORE POLÍTICO
Na república do emprego
AUGUSTO MARZAGÃO
Então presidente da República, Jânio Quadros recebeu o
ministro do Exército, general Odylio Denys, para um pequeno jantar
no Palácio da Alvorada. A mesa estava alegre e, como sempre, não
faltaram na conversa alguns problemas familiares. Cada comensal
tinha o seu caso a relatar. Um ministro importante, por exemplo,
contou que estava sem conseguir
encontrar um trabalho para um
sobrinho que acabava de se formar
em direito. Jânio apressa-se em
convocar o seu secretário particular, José Aparecido de Oliveira, a
quem pede uma lista de cargos vagos de assessores nos principais órgãos federais.
Trazida a lista, o presidente informa com satisfação ao ministro:
"Aqui está um cargo disponível de
assessor do tesoureiro dos Correios
e Telégrafos". O padrinho do emprego quis saber qual era o salário.
Diante da resposta de Jânio, pediu
desculpas para dizer que o cargo
não servia porque "era muito dinheiro para o menino". Surpreso,
JQ apresentou uma opção mais
modesta, porém o ministro achou
que ainda era um salário excessivo. Nesse ponto o presidente desabafa: "Caro ministro, abaixo desse
salário só emprego por concurso
público".
Passemos a outra história do copioso folclore janista. Jânio tinha
vindo de São Paulo de trem para
uma audiência com o presidente
Juscelino Kubitschek no Rio. Encontrando JK nervoso, com o jornal
"O Globo" daquele dia na mão, se
atreveu a perguntar: "Presidente,
noto-o apreensivo. Alguma crise
militar?". Juscelino respondeu que
não e explicou: "A minha mulher,
Sara, tem uma sobrinha que vai se
casar com um jovem advogado e
ela me pediu que arranjasse um
cargo bom para o rapaz. Como estivesse vago o Cartório Guaraná,
eu nomeei meu futuro sobrinho
para ser o novo titular. A lei me faculta nomear para esses cargos de
livre provimento quem eu considerar apto. Veja, governador, o título
do editorial do "O Globo" na primeira página -"Guaraná Caçula".
Tem cabimento?".
Terminada a audiência e depois
de chegar ao Hotel Glória, acompanhado por Geraldo Carneiro, o
governador comentou com o secretário particular de JK: "Caro Geraldo, se o seu presidente está resolvendo nessa base casamentos na
família, então acho que vou me divorciar de Eloá. Ele tem outra sobrinha solteira?".
AUGUSTO MARZAGÃO, jornalista, autor
do livro "Memorial do Presente", ex-secretário particular de Jânio Quadros e José Sarney e ex-secretário de Comunicação
Institucional de Itamar Franco, escreve às
sextas nesta seção
cecifrei@unisys.com.br
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