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ANISTIA
Aeronáutica pagou, desde 2002, R$ 58 milhões a cerca de 2.500 ex-militares que dizem ter sofrido perseguição política
Governo anula indenizações de ex-cabos
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Justiça anulou
no final de setembro e início deste
mês 270 anistias concedidas a ex-cabos da FAB (Força Aérea Brasileira) pela Comissão de Anistia
por entender que elas são irregulares. Desde 2002 até este mês, a
Aeronáutica pagou cerca de R$ 58
milhões a cerca de 2.500 ex-cabos.
A dívida com essas indenizações
está estimada em R$ 560 milhões.
Essas 270 anistias anuladas haviam sido concedidas com base
na portaria 1.104, de 1964, do Ministério da Aeronáutica, que limita a oito anos a permanência de
um cabo na FAB. Após esse período, ele é obrigado a prestar concurso público para subir na carreira ou deixar a Aeronáutica.
Os ex-cabos argumentam que
essa portaria é um ato de perseguição política, já que, na prática,
eles foram impedidos de permanecer no serviço militar. Por essa
razão, na avaliação dos ex-cabos,
eles têm direito à indenização.
Para o Ministério da Justiça, a
justificativa só é válida para ex-militares que estavam na Aeronáutica em 1964 e provarem que
foram perseguidos. Assim, ela
não tem validade para aqueles
que ingressaram na FAB após a
edição da portaria. No entender
do ministério, depois de 1964, a
portaria 1.104 acabou sendo caracterizada como uma simples regra administrativa.
O ministério já estuda a anulação de outras 225 anistias concedidas pela Comissão de Anistia
durante o governo FHC sob a
mesma justificativa. Na próxima
semana, mais um grupo de 50 ex-cabos deve deixar de receber suas
indenizações por decisão do Ministério da Justiça.
Para cada ex-cabo são pagos
mensalmente cerca de R$ 3.300
-pensão vitalícia que corresponde ao pagamento de um militar na
função de segundo tenente da Aeronáutica em 2002. Os anistiados
cobram ainda valores retroativos
à data que protocolaram no Ministério da Justiça o pedido de indenização -o que, em média,
corresponde a R$ 240 mil.
Parecer da AGU
Após assumir o cargo, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, fez um levantamento para
verificar porque tantas anistias estavam sendo concedidas sob o
mesmo argumento e pediu um
parecer da AGU (Advocacia Geral
da União) sobre o assunto.
Um levantamento da Comissão
de Anistia mostra que, no ano de
2002, foram concedidas 1.106
anistias -das quais 1.012 para a
Aeronáutica. Outras 63 anistias
foram dadas para a Marinha,
mais 30 para o Exército e uma para a Polícia Militar.
A AGU entendeu que quem ingressou na Aeronáutica após a
edição da portaria de 1964 não
tem direito à anistia, porque ela é
um "ato administrativo, impessoal e genérico". O parecer cita
que "a portaria é ato administrativo preexistente destinado a regular a permanência no serviço militar. Não há como considerá-la ato
de exceção [perseguição]."
A suspeita de irregularidades
nas anistias concedidas a ex-cabos levou a Procuradoria Geral da
República a investigar o assunto
há dois anos.
"Merece todo o respeito os que
sofreram injustiças e procuram
reparo com base na Lei da Anistia
[lei nš 10.559, de 13 de novembro
de 2002]. Só que a anistia tem servido de pretexto a pessoas desonestas que buscam tirar proveito
dos cofres públicos. É preciso
anular essas anistias que considero fraudulentas ", afirma Brasilino Pereira dos Santos, subprocurador Geral da República. Segundo ele, dos 2.500 anistiados, menos de 500 têm direito comprovado à indenização.
A Procuradoria constatou que,
entre as 495 anistias concedidas
com base na portaria de 1964, há
vários casos de ex-cabos que ainda eram crianças quando essa
norma foi criada -na prática,
não poderiam alegar que foram
perseguidos politicamente porque a regra já existia quando ingressaram no serviço militar.
"Como pode uma pessoa que tinha 13 anos em 1964 requerer indenização por perseguição política com base na portaria 1.104?",
questiona o subprocurador.
"Quando ingressou na Aeronáutica, a regra que limita a oito anos
a permanência de um cabo na
FAB já existia. Ele já previa que seria perseguido no futuro?", completa. Outros casos que chamam a
atenção da Procuradoria são de
ex-cabos que se dizem perseguidos, mas que têm em sua ficha
militar apenas elogios.
Investigação
O Ministério Público Federal de
Brasília, que abriu processo de investigação há cerca de um mês sobre o caso, quer que o Ministério
da Justiça agilize as anulações das
anistias de ex-cabos. Segundo
procuradores do MPF, além de
suspender o pagamento, é preciso
tomar medidas para devolver ao
governo valores já pagos indevidamente -pagos sob o argumento da portaria.
O centro de comunicação social
do Comando da Aeronáutica informa que a FAB não participou
da Comissão de Anistia e não analisou a concessão dessas anistias.
A Aeronáutica informou que
acata as decisões tomadas pelos
ministérios da Defesa e da Justiça.
A verba para pagar as indenizações vem da União. A Aeronáutica só repassa os valores aos anistiados. A folha de pagamento com
os anistiados é da ordem de R$ 6
milhões por mês.
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