São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 2005

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JANIO DE FREITAS

Na boca do caixa

A ressalva apresentada para renúncias pelo petista José Mentor, cujos atos merecedores de investigação vêm desde sua relatoria na CPI do Banestado, é a antecipação do argumento em que os deputados renunciantes vão apoiar, ano que vem, suas campanhas de nova eleição. Se, no caso dos atuais passíveis de cassação, "a renúncia não é reconhecimento de culpa", a essa ressalva sobrepõe-se uma evidência indiscutível: a renúncia não se relaciona a inocência, mas a envolvimento comprovado em ilicitude, do qual resulta a possibilidade de culpa e cassação.
Renunciante ou não, nenhum dos denunciados na lista das CPIs explicou jamais -nem foi assediado para fazê-lo- por que preferiu que um emissário seu sacasse o dinheiro proveniente de Valério e Delúbio. A conduta normal seria pedir ou providenciar o depósito em sua conta, tão mais fácil para os deputados, com agência do Banco do Brasil no Congresso, do que o saque em dinheiro de centenas de milhares de reais. O saque sistemático em dinheiro é, por si só, uma denúncia de conhecimento prévio de alguma ilicitude no dinheiro ofertado.
A propósito de denúncia e do mesmo dinheiro, a reação do PSDB à convocação de Cláudio Mourão, conseguida pelos petistas da CPI dos Correios, aponta para um acordo comprometedor. De uma parte, a oposição evitaria iniciativas incômodas para a Presidência da República; de outra, como retribuição, os petistas não insistiriam em investigar os tais R$ 9,5 milhões com que Marcos Valério nutriu em 98 a campanha de Eduardo Azeredo, então candidato (derrotado) ao governo de Minas e hoje presidente do PSDB.
Por que o privilégio, pretendido pelos peessedebistas, de resguardar o PSDB? Já feita a convocação "traidora", agora é tentado um acordo para evitar depoimento explosivo, amanhã, de Cláudio Mourão como ex-tesoureiro da campanha de Azeredo. Depois de tanto esforço e desgaste para dificultar outras investigações, nessa o PT poderia dar a compensação de questionamentos capazes de desvendar um pouco os mistérios de Marcos Valério.

Conjugação
A Amazônia, quem diria, sob a calamidade de uma seca nordestina. A floresta tropical igualada, pelas queimadas e desmatamento, à caatinga que antes das suas queimadas e desmatamento foi a floresta atlântica. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, recebe na China o título de membro honoris causa da Academia Chinesa de Silvicultura.
Mais de 30 países sustam a importação de carne brasileira. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, sintetiza a situação de sua área: "Estamos no fundo do poço". Em Roma, Lula recebe da FAO, o setor da ONU para alimentação e agricultura, a chamada Medalha Agrícola.
A diplomacia, uma festança eterna: eu te homenageio, tu me homenageias, ele nos homenageia. E os que trabalham, pagam.


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