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INVESTIGAÇÃO
Ministério Público do Estado de São Paulo acredita que valor foi desviado da obra da av. Água Espraiada
Empreiteira paga US$ 195 mi a "fantasmas"
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Levantamento inédito feito pelo
Ministério Público do Estado de
São Paulo mostra que a construtora Mendes Júnior, responsável
pela obra da avenida Água Espraiada na gestão de Paulo Maluf
(1993-96), pagou mais de US$ 195
milhões a empresas tidas como
"fantasmas" pela Promotoria.
O cálculo foi feito pelo Caex
(Centro de Apoio Operacional à
Execução), setor técnico-científico do Ministério Público do Estado, com base em informações fornecidas pela construtora Mendes
Júnior ao promotor Silvio Marques, que apura eventual superfaturamento na construção da avenida Água Espraiada.
A obra, realizada pela Mendes
Júnior com a OAS, custou R$ 800
milhões à Prefeitura de São Paulo,
e a Promotoria suspeita que R$
550 milhões tenham sido desviados. Por causa da alta do dólar verificada neste ano, o valor dos pagamentos efetuados às subcontratadas representaria atualmente
mais de R$ 700 milhões.
A assessoria de imprensa do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) afirmou que ele é vítima de uma
"perseguição" supostamente empreendida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.
Seu advogado declarou que ele
era prefeito na época e não tinha
condições de controlar as planilhas de preços das obras. Já a assessoria de imprensa da construtora Mendes Júnior informou que
não comentaria o caso (leia texto
nesta página).
Beneficiados
As empresas beneficiadas pelos
pagamentos da Mendes Júnior foram: STPO Serviços de Terraplanagem, Projetos e Obras Ltda.,
Construtora Emplo Ltda., Fomento Engenharia e Construções
Ltda., Ualuna Industrial e Ambiental Ltda., Planicampo Terraplanagem Ltda., Tecla Terraplanagem e Construções Ltda., Jatobá Esquadrias de Madeira Ltda.,
Costaço Comércio de Ferro e Aço
Ltda., João Augusto de Pádua
Fleury Neto Consultoria e Assessoria Legal S/C e Conciliação Tributária e Financeira S/C Ltda..
Pessoas ligadas a algumas dessas empresas confirmaram ao Ministério Público do Estado que receberam da Mendes Júnior sem
trabalhar. Segundo essas pessoas,
as empresas emitiam notas fiscais
frias para a construtora e devolviam 90% do valor recebido. O
valor restante representava o lucro da operação.
As principais testemunhas são
Sérgio Lima Santoro, ex-diretor
da Planicampo, e Ricardo Augusto da Costa, que foi dono da Costaço. A Planicampo foi a empresa
que recebeu a maior quantidade
de recursos da Mendes Júnior: R$
93,8 milhões (veja quadro publicado nesta página). De acordo
com o Ministério Público, a Costaço recebeu US$ 1,6 milhão da
empreiteira.
Segundo a Folha apurou, a Polícia Federal, que também investiga
o caso, obteve confirmações referentes a outras empresas.
A Jatobá está registrada sob os
nomes de Geralda Magela Cardoso e de Samuel de Souza, que
morreu em outubro de 2001. Ela
mora com sua família na favela do
Lixão (zona sul de São Paulo). O
engenheiro químico Amauri
Martins Barbieri, dono da Ualuna, diz ser um "laranja". A Emplo
não tem representante legal.
Negativa
Responsáveis pelas outras empresas negaram ao Ministério Público do Estado ter emitido notas
fiscais frias para a construtora
Mendes Júnior. "Eles têm o direito constitucional de mentir", diz o
promotor Silvio Marques, que
afirma estar convicto de que todas
as empresas participaram do esquema de desvio de dinheiro.
Segundo a Promotoria, nem todos os pagamentos feitos pela
Mendes Júnior às subempreiteiras se referem a contratos para colaboração nas obras realizadas na
avenida Água Espraiada. Em alguns casos, os pagamentos referem-se a trabalhos supostamente
realizados pelas subempreiteiras
para outras obras executadas pela
mesma construtora.
Mas, com base no depoimento
de Joel Guedes Fernandes, ex-caixa da Mendes Júnior, o promotor
Marques argumenta que "isso era
feito para despistar".
"Não temos dúvidas de que esse
dinheiro foi desviado; temos provas documentais e testemunhais
disso. Esse é um dos maiores esquemas de ladroagem de dinheiro público já descobertos pela
Promotoria", afirma Marques. De
acordo com o promotor, "nunca
foram reunidas tantas provas de
desvio de dinheiro público como
nesse caso".
O promotor afirma que os US$
195 milhões "representam apenas
uma parte do desvio, porque ainda não foi concluído o levantamento das notas fiscais das empresas, que também estão sendo
fiscalizadas pela Receita Federal e
pela Secretaria de Estado da Fazenda".
Fator K
Outro relatório produzido pelo
Caex demonstra uma suposta
fraude no pagamento da obra,
que consistia na utilização de valores acima dos de mercado para
o cálculo do custo de materiais e
equipamentos de construção.
Apenas essa fraude teria gerado
um superfaturamento de R$ 116,4
milhões na construção da avenida
Água Espraiada, segundo o promotor Saad Mazloum, que conduz essa apuração.
Os valores eram utilizados no
cálculo do fator K (índice de correção dos contratos públicos). Segundo o contrato, a correção pelo
fator K deveria ser feita com base
nos preços do banco de dados da
Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da Universidade de São Paulo, ou da revista
especializada "Construção".
Do total superfaturado, R$ 69,4
milhões foram pagos a mais pela
Prefeitura de São Paulo por causa
da mudança da data-base de reajuste dos contratos de junho de
1994 para junho de 1996. A mudança se deu por causa da estabilidade dos preços que se seguiu ao
lançamento do Plano Real, em 1º
de julho de 1994.
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