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JANIO DE FREITAS
Fora da escala
Pela primeira vez, um gesto
de delicadeza sujeita o dirigente de uma importante entidade governamental à possibilidade de demissão punitiva. E
ainda há quem negue o lado
inovador do governo Lula.
Há dias o noticiário requenta
a iminência, que já dura os 22
meses do governo Lula, de exoneração do presidente do
BNDES, Carlos Lessa. O motivo
do momento é haver Lessa classificado a gestão de Henrique
Meirelles no Banco Central, em
síntese, como "um pesadelo".
Não é preciso perguntar entre
empresários responsáveis, políticos consideráveis e economistas respeitáveis para ouvir o que
pensam da gestão de Meirelles.
O julgamento surge à mais simples referência que lembre o governo ou a pasmaceira geral. De
nenhum se ouve que é "um pesadelo". A escala começa nos
impropérios e vai até os impublicáveis. Nem sempre alheia a
alcances pessoais.
É evidente que Carlos Lessa foi
muito comedido, por educação
e delicadeza. Não há dúvida de
que Lessa traz de longe alguns
defeitos graves e, todos, do gênero cada vez menos tolerado no
Brasil: não lhe bastando ser
imune ao que chamam de negócios, é franco e claro; é um dos
casos incomuns de conciliação,
no mesmo ser, de economista e
intelectual de verdade; dos outrora "meninos da Conceição"
(Tavares), é, até onde sei, o único exemplar que não caiu em
tentações, digamos, neoliberalóides, refinada a sua coerência
pela lição do tempo e a reflexão
honesta; e, imperdoável, tem fixação no interesse público, portador de uma paixão anacrônica pelo Brasil. Com tudo isso,
classificar a gestão de Henrique
Meirelles apenas como "um pesadelo", convenhamos, é de delicadeza extrema.
E não justificada pelo destinatário e sua antiobra. Só quem,
na ciranda financeira e no jornalismo econômico, está ganhando dinheiro gracioso com a
gestão no Banco Central é mais
delicado com Henrique Meirelles do que Carlos Lessa.
Via direta
O pedido de demissão do presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, já era esperado há
tempos, tanto quanto estimulado por parte dos planaltinos.
Não se explica, portanto, a pausa para escolha do substituto
permanente. Por que não Delúbio Soares de uma vez?
Caso se tratasse de manter a
eficiência administrativa da administração Casseb, vá lá a pausa para escolha cautelosa. Mas,
nas circunstâncias conhecidas, o
mais prático é nomear logo o tesoureiro do PT.
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