São Paulo, quinta-feira, 18 de novembro de 2004

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JANIO DE FREITAS

Fora da escala

Pela primeira vez, um gesto de delicadeza sujeita o dirigente de uma importante entidade governamental à possibilidade de demissão punitiva. E ainda há quem negue o lado inovador do governo Lula.
Há dias o noticiário requenta a iminência, que já dura os 22 meses do governo Lula, de exoneração do presidente do BNDES, Carlos Lessa. O motivo do momento é haver Lessa classificado a gestão de Henrique Meirelles no Banco Central, em síntese, como "um pesadelo".
Não é preciso perguntar entre empresários responsáveis, políticos consideráveis e economistas respeitáveis para ouvir o que pensam da gestão de Meirelles. O julgamento surge à mais simples referência que lembre o governo ou a pasmaceira geral. De nenhum se ouve que é "um pesadelo". A escala começa nos impropérios e vai até os impublicáveis. Nem sempre alheia a alcances pessoais.
É evidente que Carlos Lessa foi muito comedido, por educação e delicadeza. Não há dúvida de que Lessa traz de longe alguns defeitos graves e, todos, do gênero cada vez menos tolerado no Brasil: não lhe bastando ser imune ao que chamam de negócios, é franco e claro; é um dos casos incomuns de conciliação, no mesmo ser, de economista e intelectual de verdade; dos outrora "meninos da Conceição" (Tavares), é, até onde sei, o único exemplar que não caiu em tentações, digamos, neoliberalóides, refinada a sua coerência pela lição do tempo e a reflexão honesta; e, imperdoável, tem fixação no interesse público, portador de uma paixão anacrônica pelo Brasil. Com tudo isso, classificar a gestão de Henrique Meirelles apenas como "um pesadelo", convenhamos, é de delicadeza extrema.
E não justificada pelo destinatário e sua antiobra. Só quem, na ciranda financeira e no jornalismo econômico, está ganhando dinheiro gracioso com a gestão no Banco Central é mais delicado com Henrique Meirelles do que Carlos Lessa.

Via direta
O pedido de demissão do presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, já era esperado há tempos, tanto quanto estimulado por parte dos planaltinos. Não se explica, portanto, a pausa para escolha do substituto permanente. Por que não Delúbio Soares de uma vez?
Caso se tratasse de manter a eficiência administrativa da administração Casseb, vá lá a pausa para escolha cautelosa. Mas, nas circunstâncias conhecidas, o mais prático é nomear logo o tesoureiro do PT.


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