São Paulo, quinta-feira, 18 de novembro de 2004

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FOGO AMIGO

Kucinski vê casuísmo

Assessor de Gushiken ataca o governo Lula

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O professor e jornalista Bernardo Kucinski, um dos principais assessores do ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação), resolveu tornar públicas as críticas que faz ao governo federal. Numa entrevista ao "Jornal do Campus", da USP, Kucinski (que faz relatórios diários sobre conjuntura entregues ao presidente Lula) diz, entre outras coisas, que o governo do qual faz parte "é casuístico" e "está muito dominado pelo capital financeiro".
O jornalista questiona também o papel de Duda Mendonça no governo. Kucinski, que é amigo e autor de livros sobre campanhas e sobre a trajetória de Lula, confirmou à Folha o teor da entrevista. Leia abaixo os principais trechos do depoimento publicado pelo "Jornal do Campus":

IMPRENSA
Se a imprensa trabalhasse mais, seria mais severa. Estaria cobrando mais. Ela é pautada muito pelos tucanos. Não é severa com o governo porque ele esta seguindo a política do outro governo, que a imprensa burguesa apóia.

LULA COMUNICADOR
[O presidente Lula] acha que entende de comunicação. Ele realmente entende, mas às vezes pensa que entende e não entende.

DUDA MENDONÇA
Ele não tem que estar ali palpitando, tem que receber ordens, porque é dono de uma das agências contratadas pelo governo. Ele tem que ficar do outro lado do balcão.

CASUÍSMO NO GOVERNO
Em primeiro lugar, o governo é casuístico. É um governo de pequenos acordos e transações. É um governo de táticas, que não tem estratégia.

DESILUSÃO
O governo não cumpriu as promessas que fez. Ele mudou de rumo. O Brasil trabalha para servir o capital financeiro e nós não conseguimos romper com isso. E teve coisas mais específicas. Acho que um dos momentos mais dramáticos foi a discussão do aumento do salário mínimo, porque aquela foi uma promessa específica de campanha muito concreta e, na hora "H", o governo deu para trás.

CRESCIMENTO ECONÔMICO
A retomada da economia é um fenômeno espontâneo, cíclico. Não tem muito a ver com o governo. O pouco que tem a ver com o governo tem a ver de forma negativa. Nós rebaixamos salários e, ao rebaixar salários, nós fizemos a economia decolar um pouco, mas é uma forma negativa de fazer isso acontecer.

CAPITAL FINANCEIRO
O governo está muito dominado pelo capital financeiro. Desde a transição, houve aquele medo de fuga de capitais, houve um certo receio. O fato é que hoje o capital financeiro domina a política do governo. Nesse sentido, o governo é um governo de continuidade.

PROPAGANDA
É um governo que recorre muito à propaganda política. O governo não está bem.

SOLUÇÕES
Tem que demitir esse pessoal do Banco Central. Tem que jogar dinheiro na infra-estrutura, o que vai gerar emprego e baratear custos. tem que atacar as disfunções, o que é mais difícil (...) O governo tem que ser mais ousado, porque se satisfaz com pouco.


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