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Grupo diz que seria usado como sparring
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
O ministro das Comunicações,
Luiz Carlos Mendonça de Barros, e
a direção do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estimularam o
consórcio Telemar a disputar a telefônica Tele Norte Leste com o
grupo liderado pelo Opportunity
até minutos antes de começar o leilão de privatização da estatal.
A atuação do ministro foi confirmada à Folha por integrantes do
consórcio Telemar. Segundo relato
dos executivos do consórcio, o governo começou a agir na semana
que antecedeu o leilão.
Os sócios do Telemar afirmam
estar convencidos de que o governo só os estimulou por acreditar
que perderiam a disputa para o
Opportunity. Ou seja, eles iriam
desempenhar o papel de sparrings:
lutadores de boxe usados nos treinos dos campeões.
O consórcio começou a ser formado duas semanas antes do leilão
e, segundo seus executivos, com
grande dose de acaso.
Os empresários Sérgio Andrade,
da construtora Andrade Gutierrez,
e Antônio Dias Leite (ex-sócio da
Globo na empresa de TV a cabo
Multicanal) começaram a discutir
uma parceria para o leilão da Telebrás.
Até aquele momento, poucos
consórcios haviam sido formados
para disputar as empresas de telefonia fixa (Telesp, Tele Centro Sul,
Tele Norte Leste e Embratel), e as
negociações eram comandadas
por operadoras estrangeiras.
O grupo paranaense Inepar, que
já era sócio da banda B (telefonia
celular) no Paraná e Santa Catarina, também buscava uma oportunidade para participar do leilão.
Esses três empresários acabaram
se encontrando com a BR Telecom, ligada ao grupo Riolistas, que
edita as listas telefônicas do Rio.
A BR Telecom havia estudado os
"data-rooms" de todas as empresas da Telebrás e estava igualmente
à procura de sócios.
Acabou contratando o banco
Fonte Cindam -que tem entre
seus quadros o ex-presidente do
BNDES Eduardo Modiano- para
auxiliá-la na tarefa.
Por essa ocasião, juntaram-se a
eles Carlos Jereissati, do grupo La
Fonte, e o fundo de pensão do Banco do Brasil, Previ.
²
Incentivo
No dia 20 de julho, portanto nove
dias antes do leilão, os candidatos
deveriam entregar a documentação na CLC (Câmara de Liquidação e Custódia) da Bolsa do Rio para a pré-habilitação. Cada um decidiu encaminhar sua papelada individualmente, deixando para definir o consórcio mais adiante.
É nesse momento, segundo os
executivos, que o ministro das Comunicações e a alta direção do
BNDES passam a incentivá-los explicitamente a disputarem a Tele
Norte Leste com o consórcio liderado pelo Opportunity.
Nos dias que antecederam o leilão, representantes do consórcio
foram recebidos pelo ministro
Mendonça de Barros e pelos presidente e vice-presidente do BNDES,
respectivamente André Lara Resende e José Pio Borges.
O governo havia autorizado o
BNDES a financiar os empresários
nacionais que participassem da
privatização das teles em 50% do
preço mínimo de venda.
Segundo relato dos integrantes
do consórcio Telemar, as autoridades citadas garantiam que eles teriam financiamento oficial.
O edital de venda da Telebrás não
exigiu a presença de uma operadora estrangeira no consórcio. Mesmo assim, o BNDES sinalizou para
o consórcio Telemar que gostaria
que ele tivesse um sócio internacional, que trouxesse experiência
administrativa e tecnologia.
Na véspera do leilão, os integrantes do Telemar propuseram à Telefónica de España que aderisse ao
grupo na condição de acionista
minoritária. Segundo as regras fixadas pelo governo, um mesmo
grupo não poderia comprar o controle de duas empresas de telefonia
fixa, mas poderia ser majoritária
em uma e minoritária em outra.
²
Surpresa
Até a véspera do leilão, era dado
como certo que a Telefónica de España iria apostar todas as fichas na
compra da Tele Centro Sul, uma
vez que já era sócia da telefônica
CRT, do Rio Grande do Sul.
Para a compra da Telesp fixa, os
favoritos eram a norte-americana
BellSouth (em parceria com o grupo Safra) e o consórcio formado
pela Telecom Italia, Bradesco e Organizações Globo.
Nessa engenharia, o consórcio
integrado pelo Opportunity e fundos de pensão -com participação
minoritária da Telecom Italia-
era o favorito para arrematar a Tele
Norte Leste.
Ocorre que o leilão foi uma completa surpresa. A BellSouth desistiu da Telesp, e os espanhóis ofereceram ágio de 64,3% e arremataram a empresa por R$ 5,78 bilhões.
O Opportunity acabou ficando
sozinho na disputa pela Tele Centro Sul e levou o que não queria. A
Tele Norte Leste, para surpresa do
próprio governo, foi comprada pela Telemar com apenas 1% de ágio.
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