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ELIO GASPARI
Yes, temos
gente atrasada
Grampo bom é grampo velho. Nos dias anteriores à privatização da Telebrás, o ministro das Comunicações,
Luiz Carlos Mendonça de
Barros, informou o seguinte:
"Nessa fase todo mundo
mente. Eu também minto".
Isso foi dito em público, publicado na imprensa.
Quem se lembra desses dias
de julho passado ainda tem
na cabeça os ecos da festa que
foi a venda das teles da Viúva. Coincidindo com a campanha eleitoral, o leilão parecia uma chuva de maná.
Chegou-se a anunciar que,
uma vez privatizado, o Sistema Telebrás criaria 100 mil
empregos em dez anos.
Tomara que sejam 108 mil,
pois a Telemar ("telegangue", segundo o ministro das
Comunicações) pretende
acabar com 8.000 postos de
trabalho e está espetando a
faca no peito de seus funcionários para que se demitam.
Isso depois de ter comprado a
empresa com financiamento
parcial do BNDES, gestor dos
recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT.
Suas iniciais poderiam passar a significar Fundo de
Amparo aos Trapalungas.
(Ninguém sabe o que é um
trapalunga, mas o FAT deixaria de vocalizar uma patranha.)
Nesses dias, enquanto Mendonça de Barros banhava-se
nas boas notícias, uma voz de
bom senso procurou acalmá-
lo:
"Está demais, né. Estão
exagerando até". (Era
FFHH, capturado pelo grampo do BNDES e agora resgatado pelo repórter Expedito
Filho.)
FFHH, Mendonça de Barros e André Lara Resende
vieram a saber que o o leilão
desandara, e a Telerj, com
suas fronteiras estendidas
até a Venezuela, ficara para
um consórcio de muitos amigos e poucos engenheiros. Comemorara-se uma derrota.
Está certo. Era uma fase em
que todo mundo mentia. O
problema, hoje, é saber precisamente quem, quando e por
que mentia.
Mendonça de Barros mentia ao dizer que leilão iria
bem? Ou será que mentia no
grampo? Mentia para André
Lara Resende ou era enganado pela tucanada dos fundos
de pen$ão? Talvez ele possa
esclarecer ao Congresso as sinuosidades dessa fase.
Uma coisa é certa. O leilão
da Telebrás vale um livro.
Seu mistério central exige um
pouco de paciência, mas é o
seguinte:
Os grandes sistemas seriam
vendidos em três movimentos. Primeiro a Telesp, depois
a Tele Centro Sul e finalmente a Super Telerj. Quem ganhasse um dos leilões estaria
automaticamente desclassificado nos outros. Seu envelope seria colocado numa trituradora.
Surpreendentemente, enganando sócios, a Telefónica
de España ganhou a Telesp,
inabilitando-se para a disputa da Tele Centro Sul. Ela ficou para um consórcio do
banco Opportunity, que estava interessado na Super Telerj. Disso resultou que as teles do Rio ao Amazonas foram arrematadas por pouco
mais que o preço mínimo de
R$ 3,4 bilhões.
Há uma pergunta no ar: se
o consórcio do Opportunity
queria a Super Telerj, porque
fez uma oferta para a Tele
Centro Sul, que poderia significar (como significou) sua
morte súbita na disputa que
realmente lhe interessava?
Exercitando a imaginação,
chega-se ao seguinte: se alguém soubesse que a Telefónica espanhola poderia ganhar a Telesp, seria capaz de
deduzir que o Opportunity ia
ao suicídio, e a Super Telerj
ficaria na bacia das almas.
(Nesses dias, Mendonça de
Barros achou "esquisito" que
um diretor do Banco do Brasil, cujo fundo de pensão estava associado à Telemar, estivesse "falando" com os espanhóis. O que vem a ser "falando"?
Vale repetir o doutor Mendonça:
"Nessa fase todo mundo
mente. Eu também minto".
Em seu beneficio, registre-
se que estava dizendo a verdade quando mostrava sua
preferência pelo Opportunity, pois ele oferecia algo como R$ 1 bilhão além do preço
mínimo.
O ministro das Comunicações diz que o grampearam
enquanto tentava jogar o
preço da mercadoria para cima. No que se refere ao Opportunity, isso parece verdadeiro.
Ele argumenta que induzia
todos os interessados a subir
suas ofertas. Pode ser, mas, se
tentou fazer isso com os empresários da Telemar, não
conseguiu, pois ela ofereceu
apenas 1% de ágio. Craques,
esses empresários. Sobretudo
porque compraram a tele da
Viúva com dinheiro do fundo
de pensão do Banco do Brasil
e com empréstimo do
BNDES.
É de supor que já tenha passado a fase em que "todo
mundo mente". Mendonça
de Barros poderá contar à
Câmara dos Deputados o que
aconteceu ou, pelo menos, o
que ele acha que aconteceu.
Certa vez, na velha Lapa,
organizou-se um concurso
para escolher o Rei dos Malandros. Elegeu-se um turista, porque malandro que se
preza não se mete em lances
banais de exibicionismo.
O doutor Mendonça operou
o leilão com toda a esperteza
de que dispunha. Pelo que se
sabe hoje, "no limite da nossa
irresponsabilidade" (palavras do diretor da Área Comercial e Internacional do
Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira).
Deu no que deu. Seria o caso de imaginar o que diria a
baronesa Thatcher ao saber
que a sua idéia das privatizações acabou dando nisso.
Outro dia, num discurso em
que mostrou a alma, FFHH
relembrou uma velha frase
do historiador Sérgio Buarque de Holanda sobre a plutocracia nacional do século
19: "Nós não temos conservadores no Brasil. Nós temos
gente atrasada".
É.
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