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Conceito inicial
de programa é
abandonado
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há contradições não só
numéricas mas também conceituais entre os resultados
da política de assentamentos
de terra divulgados pelo governo Lula e o que pregava o
próprio documento que deveria balizar sua ação: o 2º
Plano Nacional de Reforma
Agrária (PNRA), de 2003. O
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) anuncia ter cumprido a meta número um: das 400 mil novas
famílias assentadas previstas
no plano, assentou 381 mil.
Mas, pelo que demonstra o
cruzamento de dados feito
pela Folha, foram contabilizadas no total famílias nas
terras há anos -algumas
com títulos concedidos pelos
governos estaduais.
Outras famílias da estatística passaram pelo processo
de regularização fundiária. O
problema é que o PNRA é explícito ao separar regularização e números de assentados. A "Meta 2" do programa
é justamente alcançar o número de 500 mil famílias
com posses regularizadas.
O governo também abandonou conceito central do
plano. Lá estava escrito: "A
centralidade está no instrumento de desapropriação
por interesse social para fins
de reforma agrária dos latifúndios improdutivos que,
entretanto, deverá combinar
com outros instrumentos
disponíveis, como é o caso de
arrecadação de terras públicas e devolutas" -70% das
áreas deveriam vir de desapropriação, segundo o texto.
O MDA admite que houve
"inversão" da prioridade. Pelo levantamento preliminar,
só 40% dos assentamentos
tiveram origem em terras
desapropriadas. Especialistas dizem que, ao abandonar
"o instrumento principal"
para aquisição de terra, o governo abandona o conceito
de reforma agrária.
"Desde a campanha que se
falava da desapropriação como instrumento principal da
reforma. O governo esvaziou
sua própria proposta. É preciso mexer no índice de concentração de terras, mexer
com assentamentos novos",
diz José Juliano de Carvalho, economista e professor
aposentado da USP.
"O espírito da reforma
agrária é a intervenção punitiva do Estado em relação
aos proprietários cujas terras não cumpriram sua função social", diz Plinío de Arruda Sampaio, do PSOL.
Os especialistas mostram
mais um ponto não cumprido: no PNRA, as cerca de 200
mil famílias acampadas são
descritas como "demanda
emergencial". "Isso não
aconteceu", diz Plínio.
Apesar disso, ainda que
crítico do resultados do governo, o principal movimentos agrário do país, o MST
apoiou a reeleição de Lula.
O apoio, diz Carvalho, é
explicado pelas ações positivas do governo, como a melhoria do crédito e da infra-estrutura. A mais expressiva,
afirma, foi dar tratamento
"digno" aos movimentos sociais -uma melhora em
comparação à "criminalização" levada a cabo por FHC.
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