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JANIO DE FREITAS
A linha dos fatos
Por certo há uma linha
unindo os fatos, inesgotáveis
em número e variedade, que à
primeira vista parecem apenas escorregões ocasionais da
normalidade. Vamos a alguns, só dos últimos dias.
O Ministério da Saúde distribui centenas de milhares de
camisinhas, mas a ação é
muito mais carnavalesca do
que a iniciativa governamental: nos envelopes para distribuição aos foliões descobre-se
que há, não camisinhas, mas
um pedaço de papelão. Não se
sabe o custo de tal ação sanitária, sabe-se apenas quem
faz o papelão.
O Ministério da Educação
compra equipamentos para
informatizar as escolas pelo
país afora, em um projeto que
tem o custo de R$ 480 milhões. E vem o repórter Mario
Cesar Carvalho mostrar-nos,
na reportagem exemplar sobre a tragédia do ensino no
Brasil, que o "MEC informatiza 6.000 escolas, mas não sabe
para quê". É um programa
"sem objetivo definido", como
reconhece o próprio MEC.
Mas a publicidade governamental que se vale dele é bem
identificada, embora não no
custo.
O ministro desinformático
daqueles computadores, Paulo Renato Souza, lança o MEC
em mais uma agressão ao português com outro programa
brilhante: "Toda criança na
escola". Mas só lança as
crianças nas matrículas e não
na escola.
Obedientes à ordem de matricular mesmo sem vaga nas
salas de aula, por toda parte
há escolas sem saber como e
onde dar sentido às matrículas, que em muitas chegam às
centenas de excedentes.
O programa tem só a finalidade farsante de mencionar
"um índice de matrículas já
em 91% e caminhando para
nossa meta de 95%, que é o
índice dos Estados Unidos",
diz o mesmo Paulo Renato,
fazendo confundir matrícula
com frequência às aulas. Sem
malandragens, Ib Teixeira, da
Fundação Getúlio Vargas,
apresenta um levantamento
que vale como resposta à
mentirada oficial: no fim do
ano, o número de crianças fora da escola será o dobro do
atual, ou seja, 6 milhões e picos. Mas o número de matrículas do ano será recordista.
Ao transformar a mensagem
anual ao Congresso em uma
vasta autolouvação, o presidente da República realça o
êxito do seu governo na evolução do ensino fundamental.
Para os atentos, está fazendo
contrapropaganda do candidato Fernando Henrique e
promovendo dois adversários.
É só ver o gráfico proporcionado pelos números do próprio MEC, para constatar que
o êxito é inverdadeiro: os governos Sarney e Itamar conseguiram resultados muito melhores que o governo Fernando Henrique. Mas não fizeram a publicidade que estamos forçados a ouvir, ver e
pagar.
E chega de casos, que o espaço perde de longe para a produção governamental. Unida,
de ponta a ponta, pelo mesmo
caráter de farsa.
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