São Paulo, quinta, 19 de fevereiro de 1998

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PALANQUE ELEITORAL
Petistas defendem entendimento com governador paulista para evitar riscos de vitória malufista
Covas lança plano de saúde dirigido por PT


EMANUEL NERI
da Reportagem Local


Políticos do PT subiram ontem ao palanque eleitoral do governador Mário Covas (PSDB) para inaugurar obra na área da saúde. Trata-se de ambulatório do Programa de Saúde da Família, dirigido por David Capistrano, ex-prefeito petista de Santos.
Além de Capistrano, outros petistas ocupam cargos de confiança em projetos de saúde de Covas. Integrante de uma das correntes mais à esquerda do PT, Capistrano é funcionário da Secretaria da Saúde de São Paulo há 23 anos. Ele defende um entendimento entre o PT e Covas na sucessão paulista.
"É lógico que pode haver um entendimento (entre PT e Covas). Maluf nunca mais", afirmou Capistrano. "Trabalhamos com qualquer governo que trabalhe bem pela saúde. Não há discriminação de natureza política e ideológica no governo Covas", disse.
Covas diz que não será candidato à reeleição.
Vários petistas juntaram-se aos habitantes do Parque São Lucas, zona leste de São Paulo, na inauguração do ambulatório, que trabalhará com o Instituto do Coração. Estavam presentes o deputado estadual José Zico e o vereador paulistano Devanir Ribeiro.
A inauguração do ambulatório, prédio de dois pavimentos cujas obras estavam paralisadas há nove anos, reuniu políticos de várias tendências.
Além dos petistas, estava presente o ex-ministro da Saúde Adib Jatene, ligado politicamente ao ex-prefeito Paulo Maluf (PPB), principal adversário de Covas.

Cuba
O Programa de Saúde da Família divide a população de bairros em blocos de 200 famílias, assistidas por agentes de saúde e médicos de 13 especialidades distintas. Segundo Jatene, trata-se de uma "nova proposta de saúde", melhor do que o sistema de "médicos de família", implantado em Cuba.
Jatene informou que esse projeto foi idealizado por ele em 1980, quando era secretário de Saúde do governo Paulo Maluf. Naquela época, no entanto, o plano não chegou a ser executado. Jatene elogiou Covas por ter concordado na implantação de seu projeto.
Na inauguração de ontem, um dos moradores interrompeu o discurso de Covas e pediu para ele se candidatar à reeleição. "Fiz uma promessa para não falar nesse assunto. Como sou devoto, não posso quebrar essa promessa", disse.
Embora deva ter candidatura própria ao governo paulista -provavelmente a deputada Marta Suplicy-, o PT tem divisões internas sobre a viabilidade de um entendimento com Covas.
O deputado Eduardo Jorge (PT-SP) já defendeu o apoio a Covas ainda no primeiro turno.
Eduardo Jorge é médico e atua nos movimentos de saúde ligados ao PT. Em outros setores do PT, como é o caso da área católica, também há políticos que defendem um entendimento com Covas. O deputado Hélio Bicudo (PT-SP) integra esse bloco.
Mas os acenos de Bicudo em direção a Covas têm outro motivo. Ele discorda de bandeiras encampadas por Marta na Câmara dos Deputados, como a defesa do aborto e o projeto de união civil de pessoas do mesmo sexo.
Alguns dos petistas presentes ontem à inauguração de Covas aplaudiram o governador. "Eu olhei de lado para ver se eles estavam batendo palma e eu não vi não", disse Covas, brincando, no final da solenidade. Mas ele acha que há sinais de sintonia entre seu governo e setores do PT.
"Áreas como habitação, saneamento básico, saúde, e, a médio prazo, áreas como educação, não vejo como a gente (seu governo e o PT) possa ter grandes divergências", afirmou. Para ele, os políticos do PT presentes à inauguração estavam "prestigiando uma coisa que tem a ver com a região deles".



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