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JANIO DE FREITAS
A caverna de Brasília
A excitação oposicionista
misturou os dois aspectos do
novo escândalo, mas o conveniente, para a compreensão, é
considerá-los em separado. De
uma parte, a permanência ou a
demissão de Antonio Palocci na
Fazenda; de outra, suas atividades como integrante do grupo
chamado "república de Ribeirão
Preto" e as atividades, ainda desconhecidas, que levaram esse grupo de dinheiro fácil a precisar de
uma mansão em Brasília.
A não ser em nome da moralidade administrativa, que hoje em
dia não tem cotação alta, a permanência de Palocci não fará diferença mesmo que em seu comprometimento se constatem fatos
ainda mais graves que os já divulgados. A índole do governo está
bem conhecida. E, quanto à política econômica, a ausência de Palocci não levaria a alteração
alguma.
Além disso, é ilusório imaginar
que Lula possa decidir, na área
econômica, por permanências e
substituições como pode fazer nos
demais setores do governo. Antes
da posse houve acordos, inclusive
externos, que condicionaram a
política econômica e seus executores. Os juros estão aí, ou lá no
alto, e ninguém suporia que Lula
não reflita uma contrariedade
real quando se permite criticá-los.
Defende-os, com mais freqüência,
para não se expor no papel de
fantoche.
Mas é evidente que Henrique
Meirelles, depois dos altos gastos
para obter sem campanha o seu
primeiro mandato de deputado
do PSDB, só renunciou (antes
mesmo de empossado na Câmara) sob garantia muito firme de
que seria intocável no Banco Central. Meirelles e o BC não seriam
os únicos exemplos dos compromissos intransponíveis de Lula e
seu governo.
A importância da permanência
ou saída de Palocci pode estar nos
privilégios que hoje tem e, caído
do governo, não receberia (o depoimento do caseiro Francinildo
Costa não foi transmitido pelas
emissoras de TV, exceto a do Senado e, assim mesmo, em parte).
Mas os indícios do seu comprometimento com o grupo de negócios misteriosos nem precisavam
dos depoimentos do caseiro e do
motorista com a citação de reuniões, festas e dinheiro na mansão, que sugere alguma coisa relacionada ao nome Ali Babá. As inverdades de Palocci desmontadas
pela CPI e por repórteres, a respeito de sua continuada conexão
com o grupo, estão acima da
guerra de afirmações e negações.
À parte permanência ou saída,
o revelante é identificar a que negócios se dedicam os integrantes
desse grupo que trocam milhares
de telefonemas com o gabinete do
ministro da Fazenda. É descobrir
que utilidade poderiam ter tantos
telefonemas para os negócios do
grupo. Perguntas não faltam.
Nem a evidência de que suas respostas contêm graves conseqüências, ou Lula não teria agitado os
guarda-costas verbais do PT para
silenciar a CPI.
Quem se lembra da "república
de Alagoas" -em cuja desmontagem teve audácias excelentes o
hoje guarda-costas Aloizio Mercadante- sabe o que pode encobrir-se na denominação "república de Ribeirão Preto".
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