São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2001

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CRISE PETISTA

Senador improvisa em missa e pede que se desvende "toda verdade"

José Dirceu pede perdão a Suplicy e já aceita a prévia

FLÁVIA DE LEON
SANDRA BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do PT, José Dirceu, pediu desculpas ao senador Eduardo Suplicy (SP) por ter afirmado que ele posava de "bom moço" ao defender a instalação de uma CPI do lixo para investigar a gestão de sua ex-mulher, a prefeita de São paulo, Marta Suplicy. Dirceu também disse que a cúpula do PT já considera inevitável a realização de uma prévia para definir quem será o candidato à Presidência pelo partido.
"Não aguento mais essa 'forçação" de gente pedindo prévia. Agora sou eu que quero a prévia. E que seja o mais rápido possível", disse Dirceu a Suplicy, em conversa reservada de 40 minutos. Dirceu chegou ao gabinete pouco depois das 18h de anteontem.
No início da conversa, Suplicy disse a Dirceu que antes de defender publicamente a CPI do lixo, havia feito o mesmo com petistas de São Paulo e com Rui Falcão, secretário de Governo de Marta.
"No primeiro pronunciamento de Marta defendendo a CPI, ela tinha falado comigo antes. Mas, no governo, diversas pessoas convenceram-na do contrário. Há três semanas, o próprio Lula tentou dizer a Marta da importância da CPI, por uma questão de coerência. O Zé disse que esse assunto está resolvido, pois o partido está defendendo a CPI em São Paulo", contou Suplicy. Dirceu não quis falar sobre o encontro.
Segundo Suplicy, Dirceu lhe disse que quando deu as declarações ainda não sabia do anúncio da separação dele e de Marta, feita por meio de nota oficial na manhã de segunda-feira. "Ele me disse que não sabia do que estava ocorrendo, e eu aceitei as desculpas."
Depois da separação e da exposição públicas das divergências dentro do PT, cuja cúpula não gostaria de ter uma prévia, mas de homologar a candidatura de Lula por consenso, o número de filiados respondendo ao questionamento de Suplicy aumentou.
Suplicy tem perguntado se deve desistir da pré-candidatura e permitir a homologação do nome de Lula ou insistir na prévia. Entre os dias 13 e 16 de abril, dia em que anunciou a separação, o senador recebeu 153 e-mails. Destes, 139 diziam a ele para continuar. Ontem, foram 181 e-mails, só um a favor da desistência. Suplicy já pensa em antecipar o anúncio de que disputará a prévia.

Improviso na missa
Ontem, ele deixou seus colegas perdidos durante a leitura da homilia da missa de Páscoa, na capela do Senado. Suplicy deveria encerrar sua participação recitando "por todos nós, parlamentares e servidores desta Casa, para que vivamos na fé e no amor do Cristo ressuscitado". Mas acrescentou, a mão, cinco longas frases.
Entre elas: "Para que, com serenidade e equilíbrio, trabalhemos para desvendar toda a verdade". O presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), ficou procurando no texto de roteiro da missa as afirmações do senador. "Mas onde ele está lendo isso?".


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