São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2006

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

As pontes

Até a Globo, que um dia antes responsabilizava a "intransigência" do governo pelo atraso no Orçamento, perdeu a paciência. Já abriu seu "Bom Dia Brasil" questionando:
- O texto está no Congresso há nove meses. A oposição ainda faz exigências até o último momento. Semanas atrás, os pedidos da oposição, de dinheiro para obras nos Estados, eram tantos que dava para pensar que era estratégia para atrasar de propósito o Orçamento.
A pressão continuou à tarde, com Tarso Genro, Renan Calheiros e o presidente da OAB, Roberto Busato, cobrando o Orçamento na Globo News.
Início da noite e vem a notícia, na Globo, de que "o impasse está praticamente resolvido". A pefelista Bahia teria chegado "a um acordo" e só faltaria então, bem ao lado, "uma pendência sobre investimento de Sergipe".
Do blog de Magno Martins, da Agência Nordeste, horas antes:
- A liberação de R$ 90 milhões para uma ponte que liga Aracaju ao município de Barra dos Coqueiros impede a votação do Orçamento Geral da União.
Mais importante, segundo a blogosfera, caiu também o dinheiro que o pefelista Cesar Maia pedia para o Pan, no Rio.
E assim tudo voltou a zero, a partir do "Jornal Nacional".

DUDA FAZ


Cena final do comercial da Petrobras, ontem à noite

O comercial abre com helicóptero sobre o mar, no pôr-do-sol, depois próximo da plataforma. Locução, em off:
- Petróleo. Dizem que é difícil encontrar. Não é, não. É só olhar em volta. O petróleo tá na pelada do Luiz...
E tome cenas de ricos e pobres, negros e brancos, todos sorrindo, em harmonia e felicidade, usando derivados:
- É, o petróleo tá em um montão de coisas. É ele que leva a Maria para descobrir o mundo.
Aparece uma menina, sorrindo, a caminho da escola.
- Tá no brinquedo novo do Felipe.
Surge um menino pela primeira vez de bicicleta, o pai ao fundo, orgulhoso. Do blog de Fernando Rodrigues:
- Na direção da campanha sobre a independência petrolífera, entre outros, ele mesmo, Duda Mendonça.
 

O comercial da Petrobras chega à apoteose, com fundo musical e uma seqüência emocionante de imagens:
- E agora em 2006 o Brasil vai ter todo o petróleo que precisa, para continuar sorrindo [uma jovem em êxtase], sonhando [o pai do menino, em close, sorrindo]. Para continuar crescendo [uma montadora; e por fim um operário da Petrobras agradece, tocando seu capacete].
Corte para a plataforma, distante, com os dizeres:
- 2006. O Brasil auto-suficiente em petróleo.
Mais uns dias e Lula vai à plataforma, de helicóptero.
 

Começaram ontem também os comerciais petistas de Edson Barbosa -o também baiano Edinho. Sem toda a "arte" de Duda, mas com apelo emocional semelhante.

O caminho...
Você tem que seguir "o caminho da notícia nos tempos da velocidade", no dizer do blog de Bob Fernandes, com ironia.
A blogosfera começou o dia reproduzindo o "ex-blog" de Cesar Maia -segundo o qual "um repórter distraído deixou o gravador ligado e, quando abriu, era Paulo Okamotto falando os números das contas". O prefeito abriu então as contas ao mundo.

... da notícia
Mais um pouco e o blog de Ricardo Noblat entrou com uma história supostamente contada por "um destacado senador", relacionando Marcos Valério a Okamotto. Mais um pouco e o blog de Claudio Humberto deu detalhes das tais três contas -duas de Blumenau, cidade onde mora Lurian, filha de Lula.
Curiosamente, como se viu na boataria de sexta iniciada pelo "ex-blog", de súbito, terminou aí "o caminho da notícia".

Nenhum
Ecoou por telejornais, canais de notícias, rádios e sites do país a notícia do tablóide "The Sun", de que "nenhum dos policiais" envolvidos no assassinato de Jean Charles será processado.
Já o editorial não repercutiu. Sob o título "Atitude correta", o jornal sensacionalista qualificou a morte como "erro terrível", mas não "do homem que puxou o gatilho". Oito vezes. Na nuca.

Sem papel
O Pulitzer, maior premiação do jornalismo americano, "pela primeira vez" aceitou "material que apareceu antes on-line".
Foi do "Times-Picayune", de Nova Orleans, que levou dois prêmios por sua cobertura da devastação -após perder o parque gráfico e até a redação. O feito foi destaque de "New York Times", "Wall Street Journal" e demais, na cobertura do Pulitzer.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

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