São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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JANIO DE FREITAS

Assunto do dia

Os assassinatos em massa ou em série são tão aleatórios quanto os assaltos seguidos de morte nas cidades brasileiras

O ASSASSINATO DOS 32 jovens nos Estados Unidos está sujeito a tornar-se o ponto inicial de uma tragédia mais numerosa e longa no tempo. O século 20 deixou sobre os americanos o estigma das ondas de assassinatos em massa, a partir de um caso com projeções mais perturbadoras para a sociedade. Por isso mesmo, a imprensa dos Estados Unidos tem um modo particular de agir nesse assunto. Durante alguns dias, explora com intensidade a nova comoção, mas logo devolve o assunto ao sepulcro dos temas inconvenientes, a ponto de omitir os casos semelhantes em que a força da comoção imediata não tenha maior extensão pública.
Seja por uma concepção muito discutível de responsabilidade social da imprensa, seja por algum dos tantos motivos menores e ridículos que freqüentam também as Redações, aos americanos não é dado o conhecimento devido, por exemplo, de que nos últimos dez a 15 anos voltou a crescer, quase com regularidade anual, o número de assassinatos em massa ou em série. Os efeitos positivos e negativos desse conhecimento são incertos, mas, em favor da informação plena, há pelo menos o direito da sociedade de ter conhecimento da realidade a que pertence e que condiciona cada cidadão, seja ela qual for. (Se estou enganado, isso já vem de longe e não quero mudar).
Nos 15 anos entre 1970 e o início dos anos 90, os estudos da violência letal em massa estimam a ocorrência de cerca de 150 vitimados anuais. Média de quase 25 crimes em massa ano a ano. Os americanos, porém, não têm a devida informação geral de que os estudos já constatam o aumento do número de mortos, nos assassinatos em massa, para duas centenas a cada ano. O equivalente numérico a seis massacres, a cada ano, como o ocorrido em Virgínia nesta semana.
Os assassinatos em massa ou em série são tão aleatórios quanto os assaltos seguidos de morte nas cidades brasileiras em que, pedestre ou instalado no carro ou fechado em sua casa, ninguém sabe o que a violência lhe reserva, ou não, no próximo minuto. A diferença entre as duas criminalidades parece ser contrária à população americana: os matadores em massa ou em série são portadores de problemas mentais nem sempre perceptíveis pelos circunstantes ou pelas autoridades de segurança. E, quando os problemas são suspeitados, nem por isso são inspiradores do receio de tragédias.
O criminoso da violência urbana brasileira é prévia e facilmente identificável, localizável e anulável por prevenção (social ou policial) e, se necessário, por repressão. Seu êxito não se deve às particularidades que tenha, mas às deficiências da ação social do Estado, ou seja, dos governantes, e do organismo de segurança pública.
Lá como cá, imprensa há. Quer dizer, na imprensa o crime é visto, sobretudo, como assunto jornalístico.


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