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Escuta da PF envolve advogado de empresa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal afirma haver um "conluio" de um advogado da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) com a quadrilha que negociava sentenças
judiciais para conseguir uma
decisão favorável para a empresa. A decisão de fato ocorreu.
A Polícia Federal gravou,
com autorização judicial, conversas entre Silvério Nery Cabral Júnior, genro do desembargador José Eduardo Carreira Alvim, e o advogado da CSN
Antônio Correa Rabello. Nos
diálogos, segundo a PF, fica clara a negociação para que Carreira Alvim desse liminar em
benefício da CSN. O desembargador e seu genro foram presos
durante a Operação Hurricane.
A assessoria de imprensa da
CSN informou que o advogado
Antônio Correa Rabello, citado
no inquérito da PF, não é funcionário contratado da empresa -apenas presta serviços jurídicos. A CSN disse que não vai
se manifestar sobre o inquérito. Rabello não foi localizado
até o fechamento desta edição.
Segundo a PF, "no mês de julho de 2006 [...], os investigados
José Eduardo Carreira Alvim,
vice-presidente do TRF da 2ª
Região, e seu genro, o advogado
Silvério Cabral Nery Júnior,
uniram-se em conluio com o
advogado da Companhia Siderúrgica Nacional Antônio Correa Rabello com a finalidade de
garantir a eficácia de acórdão
da 4ª turma do TRF, através de
concessão de liminar". No documento, a PF diz que o desembargador concedeu decisão "no
interesse dos envolvidos".
"A forma de agir de Silvério
Júnior, a intermediação realizada, os áudios interceptados e,
principalmente, a decisão concedida por Carreira Alvim no
interesse dos envolvidos são
convergentes com outros fatos
relacionados ao modo de agir
do vice-presidente do TRF da
2ª Região, a exemplo do que foi
identificado no caso Betec Games [empresa beneficiada pelo
desembargador na qual ele liberou 900 caça-níqueis].
Ernesto Dória
Nas centenas de páginas com
os grampos feitos pela PF estão
descritas conversas em que o
juiz do Trabalho Ernesto da
Luz Pinto Dória relata a interlocutores supostas irregularidades que envolveriam outras
empresas e magistrados.
Preso pela PF, Dória é descrito no inquérito, em determinado trecho, como contumaz no
"uso do nome de autoridades
do Poder Judiciário para obter
vantagem indevida". Em um
dos diálogos, de janeiro deste
ano, no qual Dória fala com
uma pessoa identificada pela
PF como Paulo Salles, o juiz
afirma que "ganhou" para um
"conhecido dele", ao lado do
ministro do Supremo Tribunal
Federal Marco Aurélio Mello,
uma causa de R$ 4 bilhões envolvendo o banco Bradesco. Segundo a PF, Dória diz que ele e
mais quatro juízes receberiam
de 2% a 3% dos R$ 4 bilhões.
O ministro Marco Aurélio
Mello afirmou que a história é
"absurda, caluniosa, uma injúria, uma difamação": "Nunca vi
história mais absurda, mais estapafúrdia". Marco Aurélio disse que conhece Dória, mas que
não mantém contato com ele.
Sobre a suposta causa contra o
Bradesco, o ministro disse ter
completo desconhecimento. "A
que nós, homens públicos, estamos sujeitos. É o preço que
pagamos por uma vida pública
ostensiva". A assessoria de imprensa do Bradesco disse que o
banco desconhece o assunto.
A PF também transcreve gravações de Dória em que ele diz
manter contatos com os ministros do STJ Luiz Fux e Castro
Filho com o objetivo de influenciar uma decisão. O STJ
divulgou nota dizendo que "as
afirmações acerca dos ministros não correspondem à realidade". No gabinete de Fux nunca existiu um assessor de nome
Júlio, citado na conversa, e o
ministro nunca interferiu no
processo mencionado. Segundo a nota, o ministro Castro Filho também não teve qualquer
participação no processo.
Segundo outra gravação, Dória disse que tentou intermediar uma decisão do Tribunal
Superior do Trabalho em favor
das Casas Bahia, mas não citou
o nome do ministro supostamente envolvido. A assessoria
da Casas Bahia afirmou que a
empresa desconhece o caso.
(LEONARDO SOUZA E ANDRÉA MICHAEL)
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