São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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Núcleo de campanha petista ensaia discurso do pré-candidato e providencia jatinho e carro blindado

PT "blinda" Lula e monta superestrutura

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Na campanha mais profissionalizada de sua história, o PT tenta criar uma blindagem de proteção ao seu candidato ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao mesmo tempo, disponibiliza para o presidenciável uma superestrutura com direito a carro blindado, guarda-costas, jatinho para viagens, comitê com três andares e diretores de cinema.
O partido não tem economizado recursos e diz não saber qual é o gasto total da fase de pré-campanha, em que doações ainda são proibidas. O PT afirma que, por enquanto, financia as despesas com recursos próprios, oriundos da receita total do partido, na casa de R$ 60 milhões anuais.
A blindagem do discurso está a cargo de um núcleo central de campanha. As operações políticas internas e negociações externas estão concentradas no presidente nacional do PT, José Dirceu.
As reações públicas e ações de Lula são discutidas por um grupo de assessores, que inclui o publicitário Duda Mendonça.
A intenção é afastar Lula do centro de polêmicas e do eventual desgaste eleitoral que declarações e atos possam provocar.
A campanha deste ano envolve cerca de 200 pessoas -quase cem no PT e outras cem contratadas pela empresa do publicitário.
Duda já recebeu cerca de R$ 1 milhão do partido por três programas partidários realizados desde o ano passado. Começará a discutir no próximo mês quanto receberá para fazer todo a propaganda eleitoral de Lula, de José Genoino, pré-candidato ao governo de São Paulo, e de Benedita da Silva, que tenta a reeleição ao governo do Rio de Janeiro.
O publicitário não economizou na montagem da equipe. Ela envolve nomes como os dos jornalistas Marcelo Netto, ex-diretor da Rede Globo em Brasília e ex-presidente da Radiobrás no governo Fernando Collor, e Paulo Markun, autor do livro "1961 - Que as armas não falem", recentemente lançado.
A função deles é municiar Duda de informações que possam ser usadas na campanha, seja em programas do partido, seja em declarações de Lula.

Diplomacia
Essa equipe também faz intermediações diplomáticas. No mês passado, o pré-candidato foi convidado a participar do programa de entrevistas de televisão de uma jornalista tida como simpática às propostas do PSDB.
Um integrante da equipe de Duda, com intimidade com a jornalista, foi responsável por um contato inicial para que veladamente demonstrasse a preocupação do partido com a isenção de suas perguntas. A entrevista transcorreu sem sustos para Lula.
Outra estrela da equipe do publicitário é o poeta e antropólogo Antônio Risério, autor de livros como "Textos e Tribos" e "Avant-Garde na Bahia", agora responsável pelos textos do programa de televisão do PT. Há ainda a participação do cineasta Paulo Caldas, um dos diretores do filme "Baile Perfumado" e do documentário "O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas".
Já o PT montou sua própria seleção de estrelas. O jornalista Ricardo Kotscho retornou como assessor do petista. O cientista político e jornalista André Singer é o porta-voz da campanha

Sorrisos
Duda e equipe cercam de cuidados os passos do petista. O publicitário discute com Lula, Dirceu e um pequeno núcleo petista desde o comportamento do pré-candidato às repostas que dará em questionamentos de jornalistas.
Por exemplo, insiste em que Lula sorria mais para amenizar percepções de que seria um político irado, do contra. Nas entrevistas, aparições públicas e programas eleitorais, o petista tem seguido os conselhos do publicitário.
Terno e gravata, cabelo alinhado e rosto asseado são fundamentais. Anteontem, em Bauru, ele saiu correndo de um ato político para poder ter tempo de se arrumar para uma entrevista que daria em seguida a uma TV.
Lula também procura, nos atos políticos, reforçar a bem-sucedida campanha de TV. Nos discursos, cita frequentemente um anúncio em que um garoto chamado João, ao microfone, pede uma "oportunidade". O filme foi o mais bem avaliado nas pesquisas qualitativas do PT.
Em uma das reuniões com Duda foi escolhida a linha de resposta que Lula deve dar a um questionamento que frequentemente lhe é feito: por que não trabalha e por que não se dedicou mais à sua formação cultural.
Agora Lula afirma que é um erro dizer que não trabalhou e não estudou nos últimos tempos, porque há 22 anos se dedica à construção do maior partido de esquerda da América Latina. "Tente imaginar o que seria o Brasil sem o PT", propõe o presidenciável a seus interlocutores.
Outra questão é sobre sua falta de experiência administrativa, para a qual também tem uma resposta pronta: "Eu poderia ser candidato a prefeito de São Bernardo [ABC paulista", poderia ser candidato a governo do Estado. Mas por que sou candidato a presidente? Porque é somente por meio da Presidência que podemos fazer as mudanças que têm de ser feitas neste país", afirma.

Preparado
Em um evento envolvendo os demais presidenciáveis, assessores petistas anotam detalhadamente as falas dos pré-candidatos que o antecedem. Marcam as principais frases e, principalmente, a reação da platéia.
Antes de falar, Lula é informado da linha de cada candidato. Há três semanas, em evento da Força Sindical, descontraiu a platéia logo no início de sua participação: "Mesmo não tendo assistido à participação dos demais candidatos, sei que aqui ninguém defendeu banqueiro. Nenhum candidato defendeu rico, nenhum candidato defendeu latifundiário. Aqui todo mundo falou dos pobres", disse, provocando risos.


Colaborou FÁBIO ZANINI, da Reportagem Local


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