São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2001

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TÚNEL FANTASMA

Ministério Público apura relação entre empresa que atuou na gestão Maluf e remessa de dinheiro via Paraguai

Promotor suspeita que Lavicen serviu a envio ilegal de dólar

RONALD FREITAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O promotor Luiz Sales do Nascimento vai solicitar à Procuradoria da República em Foz do Iguaçu (PR) informações sobre o eventual envolvimento da empresa Lavicen Ltda. com um esquema de remessa ilegal de dinheiro para o exterior por meio de contas CC-5. O Ministério Público do Estado de São Paulo suspeita que a Lavicen, uma locadora fantasma de tratores contratada pelas empreiteiras CBPO e Constran durante a construção do túnel Ayton Senna, tenha fornecido notas fiscais frias às construtoras.
O túnel foi construído na gestão do ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996). A Folha apurou que Maluf e familiares têm contas bloqueadas na ilha de Jersey, um paraíso fiscal no canal da Mancha. Além de Maluf, são donos de contas sua mulher, Sylvia, os quatro filhos do casal e uma das noras. Os depósitos somam pelo menos US$ 200 milhões. O ex-prefeito nega a existência das contas.
O Ministério Público paulista suspeita que haja relação entre os depósitos e as denúncias de superfaturamento do túnel. Maluf e Reynaldo de Barros, seu ex-secretário de Vias Públicas, são réus em duas ações que apontam superfaturamento da obra do Ayrton Senna em R$ 105,89 milhões.
As CC-5 permitiam a residentes no Brasil com domicílio no exterior enviar dinheiro para fora do país. Os procuradores da República no Paraná descobriram a remessa ilegal de dólares comandada por cambistas paraguaios que abriam contas em agências bancárias de Foz do Iguaçu (PR) em nome de "laranjas" para transferir dinheiro de terceiros. Já se identificou "laranjas", cambistas e bancos envolvidos.
O promotor Nascimento também vai pedir à Junta Comercial do Paraná cópia do contrato social da empresa Lavicen e de todos os registros de empresas em que conste como sócio o sapateiro Lavino Kiil, oficialmente um dos sócios da empresa fantasma. Ele quer comparar assinaturas de Lavino em diferentes documentos.
Em reportagem da Folha no último domingo, Kiil negou ser ou ter sido dono da Lavicen. A assinatura do sapateiro que consta do contrato social é diferente da que consta em sua identidade.

Responsabilidade negada
Em carta à Folha, as empreiteiras dizem desconhecer a condição irregular da Lavicen e dizem que trataram com um representante legal da empresa (leia a carta na seção "Painel do Leitor"). A exemplo do advogado de Paulo Maluf, Ricardo Tosto, o advogado de Reynaldo de Barros, Floriano Marques Neto, disse que a responsabilidade sobre eventual irregularidade na contratação da Lavicen é do consórcio.



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