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CASO BANESTADO
US$ 13 bilhões foram movimentados por brasileiros em Nova York
Agora força-tarefa inicia a busca por cliente de doleiro
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO PAULO
RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL
A força-tarefa CC5 do Banestado iniciou ontem a segunda fase
da Operação Farol da Colina, que
é identificar nos documentos
apreendidos com os doleiros os
donos das remessas enviadas para
a conta Beacon Hill, no JP Morgan
Chase, de Nova York.
A operação desencadeada anteontem resultou na prisão de 63
doleiros em sete Estados brasileiros. Eles são acusados de evasão
de divisas, sonegação, formação
de quadrilha e lavagem de dinheiro. Ao todo foram expedidos 103
mandados de prisão pela Justiça
Federal, no Paraná.
O pedido de prisão feito à Justiça, ao qual a Folha teve acesso ontem, revela que US$ 13 bilhões
originários do Brasil foram movimentados, entre 1999 e 2002, na
Beacon Hill e nas subcontas.
Os dados levantados pela força-tarefa constam em ofício expedido em 15 de dezembro de 2003 pela Coordenação Geral de Fiscalização da Receita Federal e referendado pela Justiça.
Segundo o pedido de prisão
temporária, os doleiros proporcionavam à empresas brasileiras
"a remessa de recursos provenientes do denominado "caixa 2'".
Segundo a acusação, os doleiros
eram considerados "porto seguro" para o dinheiro não declarado
de pessoas jurídica "possivelmente oriundo de sobras de campanha e de trabalho remunerado
sem a emissão de recibo".
Hoje, os procuradores da força-tarefa se reúnem em Curitiba
(PR) para uma avaliação dos documentos obtidos. A força-tarefa
CC5 do Banestado, criada em
maio de 2003, tem sede em Curitiba, onde existe a Vara Federal especializada em crimes contra o
sistema financeiro e de lavagem
de dinheiro.
Na capital paranaense, os procuradores irão confrontar a documentação apreendida com documentos fornecidos pela Promotoria Pública do Estado de Nova
York. A força-tarefa trabalha ainda em cooperação com a Promotoria Pública de Nova Jersey e
com o DEA (departamento norte-americano de combate às drogas)
de Nova York.
O interesse norte-americano no
trabalho da força-tarefa é que
muitos dos doleiros no esquema
Beacon Hill também são alvo de
investigações nos Estados Unidos
sobre lavagem de dinheiro.
A força-tarefa já sabe que entre
os donos das remessas estão políticos, empresários e narcotraficantes. Com um monitoramento
que incluiu até o grampo telefônico, com autorização judicial, dos
doleiros investigados, foi possível
para a força-tarefa identificar o tipo da clientela de cada doleiro.
No principal alvo da Operação
Farol da Colina, as transações financeiras na conta Beacon Hill, os
doleiros utilizaram, entre 1997 e
2002, o sistema conhecido como
dólar-cabo, para enviar ilegalmente cerca de R$ 24 bilhões para
fora do país. A operação atingiu
também operações feitas no Marchants Bank, como a subconta
Gatex, administrada -segundo a
força-tarefa- pelo doleiro paulistano Antônio Pires de Almeida.
O sistema dólar-cabo opera por
meio de uma relação de confiança
entre o doleiro e seu cliente. No
Brasil, o doleiro recebe uma determinada quantia do cliente e determina que controladores de
contas-ônibus nos Estados Unidos depositem o mesmo valor para o cliente em uma subconta
controlada pelo doleiro. Essas remessas não passam pelo registro
do Banco Central.
Das contas-ônibus, os valores
são enviados para contas dos verdadeiros donos em paraísos fiscais. Em caso de o cliente ter necessidade de dinheiro no país, o
processo segue o rumo inverso,
com o cliente recebendo dinheiro,
aqui no Brasil, com os doleiros.
Os doleiros cobram comissões sobre essas operações.
O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos
Lima, que coordena a força-tarefa, disse que na reunião -com
base nos documentos apreendidos- poderão ser feitos pedidos
de prorrogação da prisão temporária dos doleiros presos.
Vai ser analisada também se haverá necessidade de pedir à Justiça Federal mandados de prisão
preventiva para os doleiros que
conseguiram escapar da Operação Farol da Colina. Esses doleiros seguem sendo alvos de diligências da Polícia Federal.
Em Recife, a Polícia Federal de
Pernambuco abriu ontem dois inquéritos em que Edmundo Gurgel Júnior, 41, e Arthur Tillman
Maia Neto, 31, são indiciados por
remessa ilegal de recursos para o
exterior. Eles foram presos anteontem na megaoperação.
Colaborou EDUARDO DE OLIVEIRA, da
Agência Folha
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