São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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Após trocar de sobrenome, "musa do mensalão" atua em agência de marketing

THIAGO GUIMARÃES
COORDENADOR-ASSISTENTE DA AGÊNCIA FOLHA

Para a primeira testemunha arrolada pela Procuradoria na denúncia do mensalão, o escândalo é passado. Mas o episódio continua a abrir portas para Fernanda Karina Ramos, 34.
De vedete da maior crise do governo Lula, a ex-secretária de Marcos Valério na SMPB Comunicação virou aposta do PMDB quercista nas eleições para deputado federal por São Paulo. A campanha de R$ 250 mil e lema "ética na política" rendeu 2.304 votos -458ª votação entre 952 candidatos.
O fim da tentativa eleitoral marcou uma reviravolta na vida da mulher que introduziu novos temas ao léxico político nacional, como motoboys, "pastas 007" e diretoras cansadas de contar dinheiro. Ela deixou o sobrenome Somaggio, de 11 anos de casamento. Vive agora com uma amiga de Mococa (SP), sua cidade natal, em apartamento na Bela Vista, em São Paulo. Só vai a Belo Horizonte para visitar a filha Nayna, 11. Com as mesmas medidas da época do escândalo -1,77 m e 56 kg-, se diz "livre, leve e solta".
Convidada por seu coordenador de campanha para trabalhar em sua agência de "marketing de resultados", Karina trocou as reuniões com expoentes da República pela corrida por eventos e patrocínios. "Digo que renasci. Comecei outro ciclo e venho trabalhar animada."
O chefe, Márcio Borges, 45, também é filiado ao PMDB. Coordenou panfletagem na campanha de Ciro Gomes (PSB) à Presidência em 2002 e diz que contratou Karina por sua experiência em publicidade. "Ela sabe como funciona", afirma.
A dona da agenda de compromissos que ajudou a convencer a Procuradoria sobre a existência da "quadrilha dos 40" diz ter desistido de novas candidaturas. Mesmo assim, avalia que a "cruzada contra a CPMF" é "fantástica" e afirma que "o povo tem que aprender a fazer lobby".

Novela
Em um país de memória política curta, Karina guarda seu lugar no imaginário nacional, mas como atriz de novela, a julgar pelas abordagens que ainda recebe na rua. "Digo que trabalhei na novela do mensalão."
A petista de outrora assume tom suave ao discorrer sobre o governo Lula. "Deu uma boa melhorada." E o caos aéreo? "São coisas que já vêm de muito tempo", desconversa, para logo emendar ecos da campanha: "O povo tem que exigir mais".
Assim como o mensalão, as ameaças e gastos com advogados ficaram para trás na vida de Karina. A nota triste de 2007 ficou por conta do assassinato do pai, em fevereiro, durante assalto em Mococa. Ela diz que a apuração não foi concluída e que aposta em crime comum.
Fã de literatura mística -o último livro foi a trilogia "A Viagem de Jerle Shannara", de Terry Brooks-, Karina diz acompanhar o noticiário "quando dá". Sobre a denúncia do mensalão, defende seu acolhimento na íntegra pelo STF. "É o que a Justiça deve à sociedade, que as pessoas que fizeram o que fizeram sejam julgadas, porque ninguém foi."


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