|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Relator do mensalão no STF teme estar grampeado
JULGAMENTO DO MENSALÃO Com relatoria, Joaquim Barbosa vê vulnerabilidade
Segundo a revista "Veja", outros quatro ministros do Supremo dizem se sentir monitorados; diretor-geral da PF nega a prática ilícita
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Joaquim
Barbosa disse à Folha que tem
"a sensação e o temor" de estar
sendo monitorado por escuta
telefônica clandestina e afirmou que o fato de ser relator do
mensalão pode torná-lo mais
vulnerável.
"Teoricamente o risco aumenta, mas não tenho nenhum
elemento para afirmar que
possa ter acontecido ou esteja
acontecendo", declarou Barbosa, a três dias do início do julgamento da denúncia. "Hoje há
uma sensação generalizada em
Brasília, entre as pessoas que
ocupam uma função importante, de violação de privacidade.
É um fato muito grave."
Ele disse que a autoria da escuta telefônica ilegal, feita sem
autorização da Justiça, pode
ser tanto de setores da Polícia
Federal quanto de empresas
privadas interessadas em fazer
chantagem para pressionar o
resultado de julgamentos.
A partir de quarta-feira, o
STF decidirá se abre processo
criminal contra os 40 denunciados pelo procurador-geral
da República, Antonio Fernando de Souza, como integrantes
ou beneficiárias de uma quadrilha que pagava mesada a
parlamentares em troca de
apoio. Barbosa já sinalizou que
acolherá a denúncia.
Reportagem da revista "Veja" desta semana mostra que
pelo menos outros quatro ministros do STF e Sepúlveda
Pertence, que se aposentou
nesta semana, se sentem ou já
se sentiram monitorados por
escutas clandestinas. São eles
Marco Aurélio Mello, Celso de
Mello, Gilmar Mendes, Cezar
Peluso e Carlos Ayres Britto.
"Estamos vivendo uma época um tanto quanto psicodélica", disse Marco Aurélio, ao ser
procurado pela Folha. "A escuta clandestina merece a condenação da própria sociedade."
O ministro afirmou que não
teme a captação ilícita de seus
diálogos, mas disse que age
sempre com cautela.
"Conversei com minha irmã
sobre o espólio de meu pai. Ela
falava de valores. Fiz questão
de ser redundante [sobre o tema do diálogo]." Como Barbosa, Marco Aurélio também não
atribui à PF a responsabilidade
por eventuais escutas. "Não falo em estado policialesco, porque não acredito que tenhamos
chegado a esse extremo."
Segundo a "Veja", a preocupação foi externada por Gilmar
Mendes, que protesta contra o
que chama de "estado policial".
O STF informou que não comentaria a reportagem nem o
fato de manter contrato com
uma empresa especializada em
varredura de grampos.
O diretor-geral da PF, Paulo
Lacerda, negou a prática ilícita:
"Só trabalhamos na legalidade". O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou em nota: "Os
eventuais erros ou injustiças
que a PF tenha cometido foram
originários dela não como instituição, mas de pessoas que
não se integraram plenamente
na ética pública de um Estado
democrático de Direito".
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
Cézar Britto, condenou a suspeita de monitoramento de ministros do STF. "Nada pior para a democracia do que acuar o
Poder Judiciário. O Judiciário
independente pressupõe a ausência de qualquer interferência externa, especialmente do
aparelho estatal encarregado
da atividade policial", afirmou.
Colaborou a Folha Online
Texto Anterior: Após trocar de sobrenome, "musa do mensalão" atua em agência de marketing Próximo Texto: Folha vai sabatinar Delfim Netto no próximo dia 28 Índice
|