São Paulo, quarta, 19 de agosto de 1998

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JANIO DE FREITAS
Brigas sem vitórias


Há brigas explícitas e brigas em surdina entre as cúpulas partidárias da candidatura de Fernando Henrique Cardoso, mas as diferenças de personagens e de modos não obscurecem o traço comum a todas: sua origem é sempre a cúpula peessedebista. E não para resguardar êxitos da liderança ou do partido, mas para se defender do seu próprio fracasso.
Um fenômeno político, sem dúvida, esse partido. Com tudo a seu favor, inclusive a posse da Presidência da República e dos três governos estaduais de maior significação em todos os sentidos (SP, RJ, MG), o PSDB é um fracasso partidário e eleitoral como nenhum outro partido, de dimensão média para cima, teve por aqui.
PFL e PMDB estão dando uma surra humilhante no PSDB, consideradas as disputas de governos estaduais. Em um só Estado, o Ceará sob já longo domínio de Tasso Jereissati, o partido tem vantagem sólida. Como prêmio de consolação, se é possível alguma, no Pará e no Espírito Santo seus candidatos disputam a primazia nas pesquisas. Daí a criação de casos.
Primeiro a brigalhada explícita, que é com o PFL. Os peessedebistas já tentam prevenir-se contra os efeitos, na formação ministerial e no domínio político do futuro mandato, da força com que os pefelistas devem sair da eleição.
O caso particular, na ofensiva contra o PFL, é o empenho do PSDB nacional na derrota de Cesar Maia. Embora isso tenha a inevitável consequência de ver eleito o pedetista Anthony Garotinho, já que o candidato do próprio PSDB mal consegue, nas pesquisas, levantar um pé do chão. Mas até os peessedebistas percebem que, se eleito, Cesar Maia seria forte candidato em potencial à Presidência, em 2002. Um problema, desde logo, para o terceiro mandato do partido na Presidência (ainda que não com a Presidência).
A briga em surdina é contra o PMDB. E essa já começou no caso particular. Que atende pelo nome de Eliseu Padilha e é ministro dos Transportes. Se fosse só isso, nada demais, que os peessedebistas estão habituados a entregar os doces. Mas Eliseu Padilha conquistou proeminência sem contraste junto a Fernando Henrique, pela habilidade incomum para o jogo político e pela audaciosa desenvoltura com que o desenvolve.
O tático da campanha de Fernando Henrique é Eliseu Padilha. Não há comitê, não há marqueteiro, não há conselheiros, caso Eliseu Padilha tenha proposta diferente. Foi o que se passou, só para dar um exemplo, com a imensa atividade de campanha que os marqueteiros e os políticos do comitê planejaram para Fernando Henrique. Planejaram e engavetaram. A simplicidade da tese de Padilha é igual à argúcia:
"Nós temos mais do que candidato, nós temos o presidente. Os atos e o aparecimento de presidente vão fazer mais pelo candidato Fernando Henrique do que a campanha, com todos os seus problemas e riscos. O adversário é que precisa fazer campanha. E Fernando Henrique responde com atos de governo. Eventos de campanha, só mesmo para fazer um pouco de figuração".
Está explicado o banho-maria que é a atual disputa entre Lula e Fernando Henrique. Está explicada a fácil cobertura que Fernando Henrique proporciona aos meios de comunicação, para a privilegiada presença que dão ao candidato-presidente.
E está explicado o ciúme temeroso da cúpula peessedebista, que acompanha a ocupação do espaço deixado por Sérgio Motta e ainda outros espaços, como o vazio de comando do PMDB, o que jogaria mais terra sobre o PSDB tão cheio de políticos e tão fracassado na política.



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