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DANÇA NO PODER
Insatisfeito com política de filiações, ministro troca críticas com Freire e diz que direção da sigla é "autoritária"
Ciro ataca o PPS e recebe aceno do PTB
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Um dia depois de ameaçar renunciar à vice-presidência do
PPS, o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) atacou a direção do partido, que classificou de
"autoritária".
O presidente da sigla, Roberto
Freire (PE), contra-atacou afirmando que Ciro é "uma vítima de
suas incontinências e inconveniências verbais".
"Não tenho vocação para ser
mandado por coronel. Nem estou
chamando ninguém de coronel",
disse Ciro.
"Acho que ele está preparando
terreno para ir para o PTB. É, parece-me, o partido mais conveniente aos seus interesses", rebateu Freire.
"Eu não pretendo sair. Mas não
dá mais para disfarçar que eu estou insatisfeito com a forma com
que se administra o partido", afirmou o ministro ontem, após um
almoço com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no Palácio do
Itamaraty.
"Se ele espera que eu vá transformá-lo em vítima, está enganado. Até porque ele já é vítima de
suas incontinências e inconveniências verbais", disse Freire ao
tomar conhecimento das declarações do ministro.
O bate-boca entre Ciro Gomes e
Roberto Freire, recorrente nas relações entre os dois correligionários, expôs a radicalização das divergências entre o ministro da Integração Nacional e o deputado
federal nas últimas semanas.
Ciro defende a ampliação das
bancadas do PPS no Congresso
para que a sigla mantenha uma
posição de peso na base de sustentação política do governo.
Freire defende o crescimento da
legenda por meio das eleições.
A correlação de forças deve mudar com a entrada do PMDB na
coalizão.
Convite do PTB
Impaciente, Ciro passou a patrocinar adesões ao PTB de deputados e senadores que pensavam
em ir para o PPS. E foi além, estimulando a saída de congressistas
da sigla.
No Senado, a bancada, que tinha três representantes, acabou
reduzida à senadora Patrícia Gomes (CE), cuja filiação também
vem sendo tentada pelo PTB.
A atuação de Ciro foi estimulada pelo ministro José Dirceu (Casa Civil). O apoio do PPS ao governo é considerado frágil no Palácio do Planalto.
Além disso, o inchaço do PTB,
que tem atraído deputados e senadores de outras legendas, tem
evitado que o PMDB cresça muito
e venha a ultrapassar o próprio
PT entre os partidos que compõem a base.
Ciro Gomes recebeu um convite
da direção do PTB para se filiar ao
partido. O presidente da legenda,
José Carlos Martinez (PR), admite
a negociação, mas diz que não há
nada definido até agora.
O bate-boca entre Ciro e Freire
começou reservadamente na reunião da Executiva Nacional do
PPS realizada na noite de terça-feira. Num dos intervalos da reunião, enquanto Freire ia ao plenário da Câmara dos Deputados,
onde era votada a reforma tributária, Ciro fez um longo desabafo.
Chegou a ameaçar com a renúncia à vice-presidência.
Mais tarde, discutiu com Freire
sobre a política de filiações. Freire
disse que o PPS não tinha restrições a ele, tanto que o ministro fora duas vezes, em 1998 e em 2002,
candidato do partido a presidente
da República.
Nota de Freire
Ontem, ao ser divulgada a
ameaça de renúncia de Ciro, Freire preparou uma nota negando as
divergências. A nota tinha cinco
itens. Estava sendo redigida
quando Freire tomou conhecimento das declarações do ministro no Itamaraty. Rapidamente
foi redigido um sexto item, no
qual o PPS lamenta as afirmações
de Ciro Gomes.
"O PPS, em sua longa trajetória,
desde o antigo PCB [Partido Comunista Brasileiro, que deu origem à atual sigla], sempre teve
uma boa relação com militares
democráticos do Brasil, nunca
com coronéis da política."
Foi uma referência ao tempo em
que Ciro militava no antigo PDS,
partido de sustentação do regime
militar (1964-1985).
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