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FOLCLORE POLÍTICO
Historietas piauienses
JARBAS PASSARINHO
No dia 1º de abril de 1964, o governador Petrônio Portella,
recebia no Palácio de Karnak um
emissário do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, concitando-o a apoiar o presidente
João Goulart, que "estaria resistindo vitoriosamente a uma rebelião golpista de militares ligados
ao governador Carlos Lacerda".
As comunicações, à época, eram
precaríssimas. À noite de 31 de
março, o que se conseguira ouvir
em Teresina -e com dificuldade- fora a Rádio Nacional, repetindo constantemente a notícia
de que os golpistas estavam sendo
presos.
Embora eleito pela UDN, Petrônio Portella recebera do presidente João Goulart atenção especial,
traduzida em ajuda vultosa para
a realização da modernização do
Estado, sem exigir-lhe nenhum
compromisso político, o que fazia
do governador oposicionista um
devedor de gratidão. Sem novas
notícias a respeito, pois nenhum
meio de comunicação funcionava, Petrônio sentiu-se na obrigação de retribuir o gesto de João
Goulart. Improvisou cerimônia
pública e assumiu o compromisso
de colocar o Piauí ao lado da legalidade. Jornal de sua orientação publicou-lhe o discurso, no
dia seguinte, 2 de abril. Arraes já
fora preso e destituído. Jango, de
breve estada em Porto Alegre, rumara para o Uruguai. Petrônio
fora traído pela falta de informação. E isso declarou aos novos donos do pode.
Líder de Geisel, em 1974, ligado
a Golbery, enfrentou o MDB que
crescera nas eleições, fazendo 16
senadores nas 22 vagas disputadas. Um deles era Paulo Brossard,
com fama de ardoroso tribuno,
que acabara de fazer longa verrina contra o governo. Petrônio
sentiu-se no dever de retrucar
imediatamente. Na tribuna, referindo-se ao discurso de Paulo
Brossard, tentou o suspense: "Esse
discurso é um déjà vu, é uma cópia". E atacou: "É um plágio". O
senador gaúcho, sentindo-se
ofendido, rebateu em alta voz e
sem pedir aparte: "Esse discurso é
meu, ampliado de anterior meu
na Câmara dos Deputados. Pode
ser repetição, mas eu posso me repetir, enquanto Vossa Excelência
não pode repetir o discurso que
fez no dia 1º de abril de 1964, atacando a revolução que agora defende e de que é líder. Nisso reside
a nossa diferença".
O presidente do Senado acionou a campainha advertindo o
senador Brossard de que era proibido apartear sem autorização do
orador, mas o efeito já fora devastador...
JARBAS PASSARINHO, 82, ex-governador do Pará (1964 a 1966), ex-ministro
do Trabalho no governo de Costa e Silva
e da Justiça no governo de Fernando
Collor, escreve aos sábados nesta seção
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