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SEGUNDO TURNO
Embaixador acusa candidato tucano de estar "mal-informado" e de fazer "campanha sistemática" contra seu país
Fala de Serra ajuda golpistas, diz Venezuela
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O embaixador da Venezuela,
Vladimir Villegas, acusou ontem
o candidato tucano à Presidência,
José Serra, de fazer uma campanha sistemática contra o seu país e
de "estar ajudando, sem querer,
os setores que querem acabar
com a democracia venezuelana".
"O sr. Serra precisa vir conversar comigo para se informar melhor, porque ele não sabe nada do
que acontece no nosso país. Está
mal-informado, e suas manifestações contra o nosso país viraram
uma campanha sistemática", declarou à Folha. "Antes, eram só
em entrevistas. Agora, até na propaganda eleitoral."
Villegas também distribuiu nota à imprensa acusando de "pouco amistosas e sem consideração"
as afirmações do tucano Serra em
relação ao país e ao presidente
Hugo Chávez -que já se manifestou "muito amigo, grande amigo, extraordinário amigo" do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
A nota diz que a utilização da situação política interna da Venezuela evidencia "desconhecimento absoluto da nossa realidade política atual e não corresponde ao
tom respeitoso, cordial e solidário
que tem caracterizado as relações
entre nossas pátrias".
Na semana passada, em Goiânia, Serra defendeu uma "mudança segura" e disse: "Vejam o que
aconteceu na Venezuela. O que
deu prometer sonhos sem pensar
na realidade, frustrando e trazendo inquietações, perturbações e
um retrocesso para o país".
O presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à Folha, classificou as comparações de
"muito negativas, muito superficiais". Apesar disso, Serra voltou a
se referir à crise política daquele
país na noite de anteontem, durante entrevista ao vivo no "Jornal
Nacional", da Rede Globo.
O governo Chávez polarizou a
Venezuela, que vive de manifestações em manifestações, contra e a
favor do regime. O resultado é
uma profunda recessão.
Na nota de ontem -que não foi
antecipada para o governo brasileiro- a embaixada ratifica que
as relações entre Brasil e Venezuela "estão acima de qualquer conjuntura de caráter eleitoral" e "se
afirmam na mútua cooperação,
no intercâmbio comercial e cultural e na promoção da integração
latino-americana como políticas
estratégicas de nossas nações".
De fato, FHC e Chávez mantêm
boa interlocução e o processo de
aproximação dos dois países se
aprofundou bastante depois da
posse de Chávez, que já visitou o
Brasil quase uma dezena de vezes
como presidente.
Ainda segundo a nota, a Venezuela "enfrenta a conspiração de
setores que pretendem promover
fórmulas não-democráticas". No
final, reafirma "a grande admiração pela democracia brasileira" e
"o absoluto respeito frente ao
processo eleitoral que civicamente tem lugar neste país".
Comissão
O deputado Aldo Rebelo (PC do
B-SP), presidente da Comissão de
Relações Exteriores e de Defesa
Nacional da Câmara dos Deputados, enviou ao ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, nota
contestando as declarações de
Serra a respeito das crises da Venezuela e da Argentina e suas críticas contra o Mercosul.
O deputado cobrou de Lafer
-que é filiado ao PSDB- manifestação esclarecendo a posição
do governo brasileiro.
"Estranhamos que, diante das
adversidades evidentes na construção de um projeto comum para a América do Sul, o presumido
candidato do governo à Presidência da República, José Serra, faça
declarações que tumultuam as relações do Brasil com nossos dois
vizinhos", diz Rebelo.
Na nota a Lafer, Rebelo afirma
que os "julgamentos" de Serra sobre a Venezuela ""estimulam os
mesmos golpistas condenados
pelo governo brasileiro em abril
último", se referindo à tentativa
de golpe no país vizinho contra o
presidente Hugo Chávez.
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