São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Embaixador acusa candidato tucano de estar "mal-informado" e de fazer "campanha sistemática" contra seu país

Fala de Serra ajuda golpistas, diz Venezuela

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O embaixador da Venezuela, Vladimir Villegas, acusou ontem o candidato tucano à Presidência, José Serra, de fazer uma campanha sistemática contra o seu país e de "estar ajudando, sem querer, os setores que querem acabar com a democracia venezuelana".
"O sr. Serra precisa vir conversar comigo para se informar melhor, porque ele não sabe nada do que acontece no nosso país. Está mal-informado, e suas manifestações contra o nosso país viraram uma campanha sistemática", declarou à Folha. "Antes, eram só em entrevistas. Agora, até na propaganda eleitoral."
Villegas também distribuiu nota à imprensa acusando de "pouco amistosas e sem consideração" as afirmações do tucano Serra em relação ao país e ao presidente Hugo Chávez -que já se manifestou "muito amigo, grande amigo, extraordinário amigo" do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
A nota diz que a utilização da situação política interna da Venezuela evidencia "desconhecimento absoluto da nossa realidade política atual e não corresponde ao tom respeitoso, cordial e solidário que tem caracterizado as relações entre nossas pátrias".
Na semana passada, em Goiânia, Serra defendeu uma "mudança segura" e disse: "Vejam o que aconteceu na Venezuela. O que deu prometer sonhos sem pensar na realidade, frustrando e trazendo inquietações, perturbações e um retrocesso para o país".
O presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à Folha, classificou as comparações de "muito negativas, muito superficiais". Apesar disso, Serra voltou a se referir à crise política daquele país na noite de anteontem, durante entrevista ao vivo no "Jornal Nacional", da Rede Globo.
O governo Chávez polarizou a Venezuela, que vive de manifestações em manifestações, contra e a favor do regime. O resultado é uma profunda recessão.
Na nota de ontem -que não foi antecipada para o governo brasileiro- a embaixada ratifica que as relações entre Brasil e Venezuela "estão acima de qualquer conjuntura de caráter eleitoral" e "se afirmam na mútua cooperação, no intercâmbio comercial e cultural e na promoção da integração latino-americana como políticas estratégicas de nossas nações".
De fato, FHC e Chávez mantêm boa interlocução e o processo de aproximação dos dois países se aprofundou bastante depois da posse de Chávez, que já visitou o Brasil quase uma dezena de vezes como presidente.
Ainda segundo a nota, a Venezuela "enfrenta a conspiração de setores que pretendem promover fórmulas não-democráticas". No final, reafirma "a grande admiração pela democracia brasileira" e "o absoluto respeito frente ao processo eleitoral que civicamente tem lugar neste país".

Comissão
O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, enviou ao ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, nota contestando as declarações de Serra a respeito das crises da Venezuela e da Argentina e suas críticas contra o Mercosul.
O deputado cobrou de Lafer -que é filiado ao PSDB- manifestação esclarecendo a posição do governo brasileiro.
"Estranhamos que, diante das adversidades evidentes na construção de um projeto comum para a América do Sul, o presumido candidato do governo à Presidência da República, José Serra, faça declarações que tumultuam as relações do Brasil com nossos dois vizinhos", diz Rebelo.
Na nota a Lafer, Rebelo afirma que os "julgamentos" de Serra sobre a Venezuela ""estimulam os mesmos golpistas condenados pelo governo brasileiro em abril último", se referindo à tentativa de golpe no país vizinho contra o presidente Hugo Chávez.



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