São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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NOS BRAÇOS DO PIB

Petista canta vitória diante de 300 empresários

Staub vira 'ministro' em jantar para Lula

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Gradiente, Eugênio Staub, foi chamado por colegas de "meu ministro" no jantar oferecido anteontem à noite por Ivo Rosset, da Valisère, a empresários em torno do presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Eleitor histórico do PSDB, Staub foi o primeiro grande empresário paulista a declarar apoio a Lula, há quase um mês. Após o anúncio, ele se envolveu na campanha e até gravou comercial em defesa do petista.
A "nomeação" do presidente da Gradiente -que, em caso de vitória de Lula, poderia assumir um ministério da área econômica- foi só um aperitivo do clima de "já ganhou" que dominou o salão de festas do prédio onde mora Rosset, no bairro paulistano dos Jardins.
"Tem de ser rápido, mas não precisa anunciar logo no dia 28", disse Staub, questionado por um empresário sobre a data do anúncio da equipe econômica de um governo do PT.
Noutra rodinha, João Sayad, Cosette Alves e Luiz Gushiken avaliavam que divulgar logo seria fundamental para dar "tranquilidade" ao mercado.
O otimismo contagiou Lula. Em seu discurso, de 25 minutos, ele disse que só não ganha a eleição "se acontecer um efeito bomba, como o das torres de Nova York. Só que aqui [no Brasil" nós não temos torres".
Foi aplaudido pelo menos cinco vezes. Numa delas, ao dizer que, em seu governo, o Brasil não será inimigo dos EUA, mas precisará defender seus interesses com a mesma determinação dos americanos. Noutra, ao declarar que FHC errou em não ouvir mais os empresários.
Rosset colocou uma estrela do PT na lapela. Staub, um dos poucos citados por Lula no discurso, preferiu uma bandeirinha do Brasil e um broche de sua empresa.
Mais que escolhido, o candidato foi paparicado por boa parte dos presentes até uma da manhã, quando deixou o prédio com a mulher, Marisa.
A Folha conseguiu entrar no jantar e acompanhou de perto o deslumbre coletivo causado por Lula nas duas horas e 20 minutos em que ficou na festa.
Logo em seguida à tumultuada entrada do petista no salão, a mulher de um empresário comentou, entre incrédula e encantada: "Eu toquei nele".
A chegada de Lula, às 22h40, com mais de duas horas de atraso, foi um alívio para Rosset, que aguardava impaciente na porta do elevador desde às 20h30, e uma farra para os cerca de 300 convidados.
Após ser saudado com palmas, o candidato foi agarrado por uma socialite, que queria tirar uma foto com ele. Foi repreendida por Rosset. "Não, agora não. Quem organiza sou eu", gritou o empresário. "Mas você disse que, depois de você, eu podia bater uma com ele", choramingou a mulher. Rosset cedeu, e puxou Lula para mais uma das cerca de 200 fotos de que foi protagonista na noite.
Pequenas filas de empresários se formavam para cumprimentar o presidenciável, uns para se apresentar, outros só para bater uma foto.
O enorme assédio por vezes pareceu incomodar Lula, que perguntava o tempo todo por Marisa. "Quer um vinho?", perguntou um empresário ao candidato. "Não, quero achar minha mulher", respondeu o petista, que bebeu uísque.
O discurso de Lula foi precedido por uma fala de Rosset (encerrada com um trocadilho: "Lula, dia 27 sua vitória vai ser genuína") e sucedido por uma surpresa de Nildo Masini, vice-presidente da Fiesp: ele presenteou Lula com uma camisa do Corinthians comemorativa ao título paulista de 77, conquistado após um jejum de 23 anos. Masini justificou: "Lula também soube esperar tanto tempo e agora vai ser campeão".
Os convidados, muitos deles doadores de campanha do candidato, também receberam brindes: uma pequena gaita com os símbolos do PT e da campanha de Lula. Ao distribuí-las, um empresário explicou: "Vamos resolver o problema de gaita [gíria para definir dinheiro] do Lula".



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