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Cidades vivem de dinheiro da Previdência
DA REPORTAGEM LOCAL
Em Ribeira do Amparo, cidade
baiana de 13 mil habitantes, há
um aposentado para cada seis habitantes. Os mais de 2.000 aposentados rurais e os 700 empregados
da prefeitura geram quase toda a
renda do município.
Uma vez por mês, 12 idosos lotam a sede do sindicato dos trabalhadores rurais da cidade. Dali,
um carro do sindicato os leva para
uma viagem de 30 quilômetros
até o posto da Previdência, onde
recebem um benefício que raramente ultrapassa os R$ 200.
Na feira semanal da cidade vizinha, as vendas só são boas nos
dias de pagamento da Previdência. "Hoje não vendi nada. Aqui
só os velhos compram, e o banco
só paga na semana que vem. Aí é
dia de festa", diz Judite Matilde da
Cruz, 55, vendedora de feijão.
"Só vendi R$ 3. Dinheiro agora
só daqui a sete dias", diz Josefa
Maria de Jesus, 86, contando com
grãos de arroz que guarda no bolso quantos dias faltam para receber a aposentadoria.
As aposentadorias rurais garantem a subsistência de famílias inteiras. É assim na casa de Bernardo Ferreira Neto, 72, que caminha
quase 10 quilômetros para ir ao
banco e sacar R$ 200. Um dia depois, faz a mesma caminhada,
mas para receber o benefício da
mulher, também aposentada.
Com os R$ 400 mensais, a família comprou em prestações uma
televisão, que fica em cima do
único móvel da casa. Fora a TV,
nenhum outro utensílio doméstico. Mas Bernardo diz ter se arrependido. O dinheiro, cerca de R$
30 reais mensais, faz falta. No final
do mês, falta dinheiro para comer. Da TV ele aproveita pouco.
Não gosta, não assiste e preferiria
que os três filhos e oito netos também não gastassem tempo diante
da TV: "Faz doer a cabeça".
Maria Eunice da Cruz da Silva,
38, vende bananas na feira. Diz
ganhar R$ 150 por mês, bastante
para educar quatro filhos. "Comida não falta. Temos um pedaço de
terra. Comprei uma TV, para os
filhos estudarem melhor, verem o
jornal", explica. A situação já foi
melhor para Silva. A mãe, que
morreu há três meses, recebia R$
200 da Previdência. Dobrava a
renda da família. "Agora o banco
diz que não se pode mais ter o dinheiro. Paciência."
Com exceção dos funcionários
da prefeitura, a maioria das famílias depende da renda da agricultura feita à base de enxada e das
aposentadorias dos idosos. A situação é parecida em mais da metade das cidades do país. Em 3.479
cidades, a soma dos benefícios é
maior do que o Fundo de Participação dos Municípios, verba repassada pelo governo federal.
"Várias pesquisas mostram que
há uma série de melhorias associadas aos benefícios da Previdência. Melhora a escolaridade das
crianças, os cuidados de higiene e,
como consequência, diminuem
os problemas com saúde e a mortalidade infantil", diz Guilherme
Delgado, pesquisador do Ipea.
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