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São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

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Na Argentina, corte atinge benefícios

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

A crise que tem atingido boa parte das embaixadas brasileiras no exterior chegou também à Argentina. O corte de custos ainda não provocou redução de gastos com energia, telefone ou combustível, mas afetou diretamente o bolso dos diplomatas.
Segundo a Folha apurou, há atrasos na verba destinada para o auxílio-moradia, uma ajuda que os funcionário que trabalham para o governo brasileiro em outros países recebem para custear parte dos gastos com aluguel.
Essa ajuda é calculada sobre um percentual do salário e varia de função para função. O salário inicial de um funcionário da diplomacia brasileira é de aproximadamente R$ 4.500. Há diplomatas que não recebem a ajuda há mais de dois meses.
O reembolso para ajudar nas despesas com aluguel é importante porque em alguns países esses gastos consomem boa parte dos salários. Por isso, há casos em que o governo brasileiro teria de custear até 100% da moradia.
Na Argentina, antes da desvalorização do peso, em janeiro de 2002, a maioria dos aluguéis era cobrada em dólares. Em alguns casos, principalmente dos funcionários que tinham contratos mais longos e assinados antes da crise, a cobrança continua sendo em moeda norte-americana.
No ano passado, por conta da crise e do temor de que a desvalorização da moeda levasse a uma nova hiperinflação, muitos negociaram os preços de aluguéis para passar a pagar em pesos.
Mas, em muitos casos, o valor embutia uma expectativa da inflação alta. Isso aconteceu principalmente em bairros nobres, como Palermo e Recoleta.

Viagens
Os funcionários também têm tido problemas para receber reembolsos de viagens ao exterior. O mecanismo normal seria haver um desembolso antecipado para ajudar a custear as despesas. Mas o que tem acontecido é justamente o contrário: os diplomatas tiram do próprio bolso o dinheiro para pagar hotel e os gastos com alimentação e transporte. Na volta, preparam uma prestação de contas para receber o reembolso que, em alguns casos, chega com até dois meses de atraso.
"Sei de gente que teve o cartão de crédito bloqueado por conta de problemas como esse", diz um funcionário. "É uma situação delicada, pois nos expõe e até prejudica o trabalho. Temos de ficar preocupados se o cartão vai estourar, se o dólar que se tem no bolso vai dar e claro que isso tira a atenção para o que realmente deveria ser a prioridade da viagem."
Procurada pela Folha, a embaixada do Brasil em Buenos Aires preferiu não comentar o caso.


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