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OPERAÇÃO ANACONDA
Grampo mostra que delegado Bellini pediu ajuda a Siqueira Neto, do TJ paulista, em inquérito no qual é acusado de agressão
Desembargador intercedeu por delegado
MARIO CESAR CARVALHO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O desembargador Mariano de
Siqueira Neto, do Tribunal de Justiça de São Paulo, intercedeu a favor do delegado da Polícia Federal José Augusto Bellini para que
ele se livrasse de um inquérito por
agressão contra duas mulheres,
como revelam as gravações de telefonemas dos dois feitas pela
Operação Anaconda.
Siqueira Neto conta numa ligação a Bellini, feita no dia 29 de
maio deste ano, às 15h49, que o
juiz de São Vicente "tá mandando
arquivar o inquérito contra todo
mundo hoje", "tá mandando um
requerimento para o promotor
arquivar". Às 14h59, o desembargador disse, em outro telefonema,
ao delegado: "Eu já falei com o
juiz lá, ele teve a maior das boas
intenções, da [sic] boa vontade".
Numa outra ligação no mesmo
dia, de Bellini ao agente da PF César Herman Rodrigues, o primeiro parece encantado com o poder
do desembargador: "O Mariano
acabou de me ligar. Os caras são
foda, né? Ele falou com o juiz, e [o
inquérito] já está arquivado".
O juiz Carlos Eduardo Andrade
Sampaio, da 3ª Vara Criminal de
São Vicente, diz não se lembrar da
conversa com o desembargador
(leia texto nesta página). O pedido de arquivamento do inquérito
foi feito pelo Ministério Público e
acatado por Sampaio. A PF suspeita que o desembargador usou
o cargo para influenciar a decisão.
O inquérito de São Vicente apurava uma acusação de agressão
que teria sido praticada por Bellini, o agente da PF Rodriguez e o
advogado Sérgio Chiamarelli Jr..
Em maio do ano passado, os
três teriam agredido duas mulheres que trabalhavam num estande
que vendia artigos de couro porque uma delas desconfiou do cheque de um dos integrantes do trio.
O trio está preso em São Paulo
sob acusação de integrar uma
quadrilha que vendia sentenças
judiciais, entre outros crimes.
A PF gravou pelo menos seis ligações entre Siqueira Neto e Bellini -cinco das quais partiram do
desembargador. O primeiro
ocorreu às 13h32 de 29 de maio. O
magistrado avisa que não recebeu
um certo documento que seria de
interesse de Bellini e aproveita para pedir um favor ao delegado,
que cuidava da emissão de passaportes em São Paulo: quer que ele
ajude uma mulher vinda da Letônia a deixar o país apesar de ter
entrado com visto falso e o prazo
do visto já ter expirado.
Bellini pede ao desembargador
para mandar os documentos da
mulher para a sua casa. "Sua casa
é na rua Maranhão, né?", pergunta o desembargador. "Não, é Sergipe", corrige Bellini. É na rua
Maranhão, curiosamente, que
mora o juiz federal João Carlos da
Rocha Mattos, acusado de ser um
dos mentores do grupo.
Os diálogos gravados flagram o
delegado irritadíssimo quando,
em vez de só enviarem os documentos para o seu apartamento,
aparece uma turma na portaria
do prédio. "Veio a mulher, veio a
filha, veio a velha. Arrumaram tudo aqui em frente ao apartamento. Era um documento sigiloso da
Polícia Federal", esbraveja.
A mulher, uma engenheira da
Letônia, "é cunhada da minha irmã, sabe, da Ana Maria", diz o desembargador numa das ligações.
Bellini parece conhecer a irmã do
desembargador: "Ah, da Ana",
responde. A engenheira queria
voltar para seu país com a filha
porque não tinha emprego em
São Paulo e estava "na miséria".
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