São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006

Ex-presidente conclama PSDB a ser incisivo e diz que crise atual é pior que a de Collor; afirma, porém, não haver ainda razão para impeachment

"Lugar de ladrão é na cadeia", diz FHC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA COLUNISTA DA FOLHA


Em discurso na convenção nacional do PSDB recheado de provocações ao seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a atual crise é mais grave do que a responsável pela queda do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. Afirmou ainda que o PSDB tem que ser mais incisivo e dizer que lugar de "ladrão é na cadeia".
"Há algo mais grave que a corrupção tradicional: é a corrupção das instituições. Nós nunca assistimos a isso. Participei de momentos em que tivemos que processar o impeachment de um presidente, mas os fatos alegados eram privados. Não envolviam um partido, nem um governo, nem a administração", disse Fernando Henrique, que governou o país de 1995 a 2002.
Para ele, a suposta compra de votos pelo atual governo é "inaceitável". Mas ele não mencionou a compra de votos durante seu primeiro mandato, em 1997, para aprovar a emenda da reeleição.
Mais tarde, no aeroporto de Brasília, o ex-presidente suavizou a crítica, dizendo que "não existem elementos para tocar o impeachment [de Lula]".
FHC foi o último a falar na convenção, que aclamou o novo presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). Em sua fala, Tasso ironizou a chamada "herança maldita", criticada pelos petistas. Segundo o tucano, a herança "foi, paradoxalmente, responsável pelo pouco de positivo que o atual governo apresenta na economia".
FHC foi o mais festejado da convenção, ofuscando Tasso e os presidenciáveis Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e José Serra, prefeito de São Paulo. O ex-presidente fez discurso exortando seu partido a sair do imobilismo e a começar a nomear os "corruptos" do governo.
"Nosso discurso não tem que ser mais o discurso abstrato, é coisa concreta. Ladrão é na cadeia e há que dizer quem é o ladrão e quem vai para a cadeia. E não vamos tergiversar."
O ex-presidente foi irônico ao se referir a seu sucessor. Chegou a pedir a Lula que seja candidato, insinuando que será fácil batê-lo no ano que vem.
"É muito importante que o presidente Lula seja um dos nossos adversários. Vamos ganhar, como já ganhei dele duas vezes."
Em seguida, fez um "alerta" ao presidente sobre promessas não cumpridas: podem levar à "perda de respeito", que seria pior que a perda de popularidade. Segundo FHC, Lula até pode fazer campanha desde já, "mas não todo o tempo". "Em certos momentos tem que administrar."
Diversas vezes FHC usou sua fala para ir à forra contra críticas que o PT lhe fazia. Primeiro, citou o debate sobre o lucro dos bancos. "Quanto eu apanhei pelo lucros dos bancos! Vão ver agora. É de duas a três vezes mais."
Depois, relembrou acusações que sofreu, segundo ele, sem motivo. "Quantas vezes me denunciaram no vazio, simplesmente para fazer propaganda." No caso atual, de acordo com FHC, "irrompeu um mar de lama".

Aécio destoa
Em conversa com jornalistas após a convenção, o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, adotou tom conciliador ao governo e defendeu que o PSDB seja "propositivo". "Nós não vamos conseguir transformar o Lula em ladrão, porque ninguém vai acreditar. Se nós tentarmos, vamos torná-lo vítima", afirmou.
Segundo Aécio, "o PSDB não deve ir a reboque do PFL e adotar uma oposição radical" a Lula. "O PFL, do ponto de vista dele, está certo. Não tem candidato a presidente e deseja aparecer como oposição mais radical."
O governador mineiro disse que o PFL "pressiona" o PSDB a adotar a mesma linha dura em relação a Lula. Ele acha, porém, que os tucanos devem deixar de "fazer críticas morais" e fazer um "debate administrativo", elencando quatro pontos principais: emprego, segurança, saúde e educação.
Dirigentes do PFL, do PDT, do PPS e até de partidos governistas, como Pedro Corrêa, presidente do PP, estiveram na convenção. (FÁBIO ZANINI, CHICO DE GOIS, KENNEDY ALENCAR e ELIANE CANTANHÊDE)


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