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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Ex-presidente conclama PSDB a ser incisivo e diz que crise atual é pior que a de Collor; afirma, porém, não haver ainda razão para impeachment
"Lugar de ladrão é na cadeia", diz FHC
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA COLUNISTA DA FOLHA
Em discurso na convenção nacional do PSDB recheado de provocações ao seu sucessor, Luiz
Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a atual crise é mais
grave do que a responsável pela
queda do ex-presidente Fernando
Collor de Mello, em 1992. Afirmou ainda que o PSDB tem que
ser mais incisivo e dizer que lugar
de "ladrão é na cadeia".
"Há algo mais grave que a corrupção tradicional: é a corrupção
das instituições. Nós nunca assistimos a isso. Participei de momentos em que tivemos que processar o impeachment de um presidente, mas os fatos alegados
eram privados. Não envolviam
um partido, nem um governo,
nem a administração", disse Fernando Henrique, que governou o
país de 1995 a 2002.
Para ele, a suposta compra de
votos pelo atual governo é "inaceitável". Mas ele não mencionou
a compra de votos durante seu
primeiro mandato, em 1997, para
aprovar a emenda da reeleição.
Mais tarde, no aeroporto de
Brasília, o ex-presidente suavizou
a crítica, dizendo que "não existem elementos para tocar o impeachment [de Lula]".
FHC foi o último a falar na convenção, que aclamou o novo presidente do PSDB, senador Tasso
Jereissati (CE). Em sua fala, Tasso
ironizou a chamada "herança
maldita", criticada pelos petistas.
Segundo o tucano, a herança "foi,
paradoxalmente, responsável pelo pouco de positivo que o atual
governo apresenta na economia".
FHC foi o mais festejado da convenção, ofuscando Tasso e os presidenciáveis Geraldo Alckmin,
governador de São Paulo, e José
Serra, prefeito de São Paulo. O ex-presidente fez discurso exortando
seu partido a sair do imobilismo e
a começar a nomear os "corruptos" do governo.
"Nosso discurso não tem que
ser mais o discurso abstrato, é coisa concreta. Ladrão é na cadeia e
há que dizer quem é o ladrão e
quem vai para a cadeia. E não vamos tergiversar."
O ex-presidente foi irônico ao se
referir a seu sucessor. Chegou a
pedir a Lula que seja candidato,
insinuando que será fácil batê-lo
no ano que vem.
"É muito importante que o presidente Lula seja um dos nossos
adversários. Vamos ganhar, como já ganhei dele duas vezes."
Em seguida, fez um "alerta" ao
presidente sobre promessas não
cumpridas: podem levar à "perda
de respeito", que seria pior que a
perda de popularidade. Segundo
FHC, Lula até pode fazer campanha desde já, "mas não todo o
tempo". "Em certos momentos
tem que administrar."
Diversas vezes FHC usou sua fala para ir à forra contra críticas
que o PT lhe fazia. Primeiro, citou
o debate sobre o lucro dos bancos.
"Quanto eu apanhei pelo lucros
dos bancos! Vão ver agora. É de
duas a três vezes mais."
Depois, relembrou acusações
que sofreu, segundo ele, sem motivo. "Quantas vezes me denunciaram no vazio, simplesmente
para fazer propaganda." No caso
atual, de acordo com FHC, "irrompeu um mar de lama".
Aécio destoa
Em conversa com jornalistas
após a convenção, o governador
de Minas, o tucano Aécio Neves,
adotou tom conciliador ao governo e defendeu que o PSDB seja
"propositivo". "Nós não vamos
conseguir transformar o Lula em
ladrão, porque ninguém vai acreditar. Se nós tentarmos, vamos
torná-lo vítima", afirmou.
Segundo Aécio, "o PSDB não
deve ir a reboque do PFL e adotar
uma oposição radical" a Lula. "O
PFL, do ponto de vista dele, está
certo. Não tem candidato a presidente e deseja aparecer como
oposição mais radical."
O governador mineiro disse que
o PFL "pressiona" o PSDB a adotar a mesma linha dura em relação a Lula. Ele acha, porém, que
os tucanos devem deixar de "fazer
críticas morais" e fazer um "debate administrativo", elencando
quatro pontos principais: emprego, segurança, saúde e educação.
Dirigentes do PFL, do PDT, do
PPS e até de partidos governistas,
como Pedro Corrêa, presidente
do PP, estiveram na convenção.
(FÁBIO ZANINI, CHICO DE GOIS, KENNEDY ALENCAR e ELIANE CANTANHÊDE)
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