São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Lula afirma ser "impossível" existir compra de parlamentares e que comissões correm risco de perder credibilidade se usadas politicamente

"Mensalão" não será provado, diz presidente

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Assim como fizera em recente entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem não acreditar na existência do "mensalão". E aproveitou para atacar a CPI concluída nesta semana sem a votação do relatório.
"A CPI do Mensalão vai terminar e eles [parlamentares] não vão provar "mensalão". Entretanto, foi o "mensalão" que criou uma confusão generalizada no Brasil. E por que a CPI não vai provar "mensalão'? Porque é humanamente impossível você imaginar que, qualquer que seja um governo, e sobretudo no meu governo, você tenha que chamar deputado para dizer: "Olha, você tem que votar porque eu te dou tanto"."
E completou: "Na cabeça do povo brasileiro já existe a idéia do "mensalão". É uma palavra fácil, é uma palavra que todo mundo fala com muita facilidade e está na cabeça do povo. Agora, eu quero é ver quem pôs tirar da cabeça do povo que não tem "mensalão'".
Sobre o trabalho das CPIs, Lula disse que, se usadas politicamente, as comissões podem "perder a credibilidade". E atacou o "momento" político: "Acredito piamente que nós estamos vivendo um momento em que as insinuações às vezes não têm respaldo no dia seguinte, mas vão ganhando corpo, e vão ganhando corpo e vão ganhando corpo".
Na entrevista, em resposta à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul, o presidente afirmou que defende o encerramento da CPI dos Correios antes de abril. "O que nós entendemos é que a CPI dos Correios poderia ser adiada por mais um mês, até dezembro, sei lá. Ora, quando se pede o adiamento até abril, no nosso entendimento tem um componente político muito forte, já dito pelos nossos adversários. O que disseram os nossos adversários do PFL e do PSDB? Que eles querem fazer o governo sangrar até as eleições."

PT
Questionado pela Rádio Metrópole, Lula disse que o PT, por ser um partido "novo", vai superar a atual crise e "renascer" nas eleições. "É verdade que o PT passa por momentos críticos, mas é verdade que a prévia [eleição] do PT demonstrou que o PT tem muito vigor." E completou: "E é muito importante que aconteçam essas coisas com o PT enquanto o PT é novo. Aqueles que cometeram erros pagarão, e já estão pagando o preço, mas o PT é muito grande, o PT está espraiado por esse território nacional como nunca um partido esteve, nos mais diferentes e nos mais longínquos lugares em que você for, você vai encontrar alguém com a bandeira do PT. Isso, durante a campanha, renasce com um vigor enorme e renasce para defender as políticas que o governo está fazendo."

FHC
Respondendo às rádios Gaúcha e Itatiaia, esta de Minas Gerais, o presidente atacou seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Primeiro, acusou-o de promover uma "gastança" em ano eleitoral. "Já tivemos momentos, e muitos momentos na história do Brasil em que, em época de eleição, se fazia uma gastança enorme e, depois, a pessoa ficava no governo, ganhava as eleições e não conseguia governar o segundo mandato porque não conseguia pagar a dívida que tinha contraído para se reeleger."
Sobre ataques de FHC, que cobrou menos ortodoxia na condução da política econômica, disse: "Existem os números de oito anos de mandato dele, e os números de 36 meses meus. E os números falam por si só. (...) Não existe comparação e fico satisfeito que, não sendo presidente, ele pensa de forma mais progressista do que quando exerceu o mandato".

OPOSIÇÃO
Lula atacou seguidas vezes a oposição. Respondendo à Rede Verdes Mares, disse que "tem gente que não se contenta em ver o Brasil dar certo". Depois, à rádio Jornal do Commercio, disse que, na condição de presidente, possui limites no embate com a oposição. "Isso não me permite fazer política rasteira", falou, sobre as ameaças de surra feitas por congressistas. E lamentou: "O presidente da República é acusado e não pode processar um deputado porque ele tem imunidade. Então, não posso responder a esse baixo nível da política nacional".
Sobre as disputas, disse duvidar da existência de alguém mais "democrático" do que ele. "As divergências [no governo e na oposição] nós vamos resolver também. Aliás, eu, em toda a minha vida, eu duvido que tenha alguém mais democrático do que eu." E elogiou o governador Aécio Neves (PSDB-MG): "Eu acho que o governador Aécio Neves tem sido um governador com comportamento exemplar na relação com o governo federal".


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