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JANIO DE FREITAS
O presente é só futuro
Nunca vi um governante eleito que se declarasse tão dependente de um partido que não é o seu
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O SEGUNDO mandato de Lula
nem começou, e o assunto
que consegue animar os comentários, o noticiário e a própria
política é a eleição presidencial de
2010. "Aécio pode disputar pelo
PMDB"/ "Serra quer fazer um partido para se candidatar"/ "Temos
que refundar o PSDB"/ Até eles: "O
PFL vai ter candidato à Presidência
na próxima sucessão". Perdi a conta
dos artigos, notícias e entrevistas
mais evidentes que tentei enumerar, na última semana, com referência à eleição presidencial de 2010.
Isso é que é país do futuro.
Nunca vi, e perdi a conta também
das sucessões que testemunhei, tamanha apatia pública em relação à
montagem de um novo governo,
com as possibilidades ministeriais e
o que cada uma delas significaria. É
como se não fizessem diferença (cada entre nós, não há motivo para
supor que façam).
Exceto em um caso, que motivou
tremores bem perceptíveis: a saída
do ministro Márcio Thomaz Bastos, já com indicações de que acompanhado pelo diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Para agravar o
despropósito e os tremores, a hipótese de que Lula pense em retribuir
com o Ministério da Justiça os serviços prestados por Nelson Jobim
quando presidente do Supremo
Tribunal Federal.
Também nunca vi um governante eleito que se declarasse tão dependente de um partido que não é o
seu, para viabilizar os presumidos
atos do futuro governo.
Todos os dias, Lula repete que vai
dividir o governo com o PMDB,
porque nada, a seu ver, é mais essencial do que tê-lo como sua força
decisiva no Congresso. E o quer por
inteiro, unidos todos os muitos segmentos no lulismo permanente
-mas, claro, não incondicional.
A partir do encontro com o presidente Michel Temer, Lula considera iniciadas as negociações com o
PMDB. Não há negociação. Nenhuma associação política é mais esperta e experiente, no dá cá para receber, do que o PMDB.
Com a dependência aberta e incompetentemente declarada -negação absoluta da chamada arte da
política-, o PMDB não precisa
mais do que dizer o que quer. Lula
paga já ou, se a dependência for a
que imagina, pagará mais tarde. A
única negociação a ocorrer é no
PMDB, para a partilha do tesouro
entre as correntes internas.
Se no PSDB houver quem saiba
mesmo pensar politicamente, além
do senador Sérgio Guerra e de Aécio Neves, é provável que se pergunte o quanto conviria, se é que
conviria, deixar Lula e o governo
tão dependentes do PMDB no Congresso. Em quatro anos de uso predominante da máquina administrativa, com o traquejo que nenhum partido iguala, os já vitoriosos peemedebistas entrariam nas
próximas eleições com um potencial
esmagador. Para cima, sobretudo,
do PSDB.
Se no PT houver quem seja menos
militante do lulismo-acima-de-tudo
do que praticante da política, faria
muito bem em imaginar as possíveis
conseqüências, para o petismo, da
força dada ao PMDB por Lula. A
idéia de um partido-gigante, ao que
se saiba, não está desprezada. Para
fazer, enfim, os 20 anos que os militares queriam a mais e não conseguiram; e os 20 anos que o PSDB, pela voz de seu ideólogo Sérgio Motta,
prognosticou para o peessedebismo
no governo e não conseguiu.
Bem, já que se fala muito de 2010 e
quase nada do futuro governo Lula,
falemos desse governo e de sua
montagem. Falemos - mas falar o
quê, se nem os que deviam falar dizem umas palavrinhas mais substantivas? Fica para o futuro, como a
sina do país recomenda.
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